De repente, o telhado vira o chão de milhares de pessoas com quem nunca estivamos na vida. Vemos de longe, e com a segurança dos nossos privilégios. Ainda assim, a pele de muitos de nós fica toda arrepiada, os olhos ora estão atentos e “arregalados”, ora cheios de lágrimas. Buscamos palavras porque, humanos que somos, queremos explicações lógicas. Não temos respostas e quanto mais compreendemos que não as temos, mais misturam-se os sentimentos.
Ciente de que muitas das nossas dores não se comparam às de quem sofre o pesadelo das enchentes do Rio Grande do Sul, confundem-se as nossas sensações. E algo parece comum a tantos de nós que, embora distantes, estamos diante das informações da tragédia que afeta o território gaúcho: tudo isso dói. É como se, em muitos de nós, pulsasse uma espécie de identificação sobrenatural com quem nunca vimos na vida, que se reflete nos “entalos na garganta”, na vontade de ajudar.
E, embora as imagens ardam feito ferida dentro de nós, voltamos várias vezes em busca de informações, talvez na esperança de boas novas, apesar das críticas que surgem, nas comparações com outras situações de outros lugares e povos do Brasil, e apesar, até, daqueles discursos de ódio e negacionismo que aproveitam qualquer brecha de dor para rasgar mais feridas alheias.
O balanço das últimas horas revela mais de 100 mortos, mais de 140 desaparecidos, mais de 700 feridos, mais de 1,9 milhão de afetados. Pessoas que perderam amores de suas vidas. Perderam a si mesmas. Pais em busca de suas crianças. Animais feridos, isolados. Bairros alagados. Casas destruídas. Barro e lágrimas misturados.
Corações devastados. Ansiedade pela previsão do tempo sobre as próximas horas. Há mais chuvas chegando. Pelas narrativas que chegam de lá, os dias se arrastam, as águas não se esvaem. Sonhos se desfazem. Em meio às nossas tantas superficialidade, a pressa, por lá, é pelo básico.
E a dor que arde também vira mãos estendidas, braços abertos, de pessoas e de empresas, instituições. Ações, e algumas bem rápidas; outras nem tanto. Além de comida e água, as pessoas no RS estão precisando de remédios, roupas íntimas, absorventes, colchões, toalhas, fraldas geriátricas, mamadeiras, ração para animais. E de preces. Paciência enquanto a água ainda não se acomodou.
Aos tantos de nós que estamos longe, diante da roda de agonias fabricadas do dia a dia na qual estamos envolvidos, o tempo é de reflexões sociais, econômicas, políticas, culturais. De questionarmos sobre: “e se fôssemos nós e os nossos?”. Reflexões ambientais. Ora tempo de ações, apoio, ajuda. Ora tempo de maturar sensações sobre o que fazer quando nós ou os nossos “perdemos o chão”. Como estarão nossos telhados?
Como doar para moradores afetados no Rio Grande do Sul
- Pontos de Coleta do Grupo Edson Queiroz
Sistema Verdes Mares
Endereço: Rua Assis Chateaubriand, s/n - Dionísio Torres, em frente à Praça da Imprensa - Fortaleza (CE).
Horário: Segunda a sexta, das 8h às 20h. Sábado, das 8h às 18h.
Esmaltec
Endereço: Rua Pelágio de Oliveira Brandão, 2130 - Distrito Industrial I, Maracanaú (CE).
Horário: Todos os dias, das 8h às 20h.
- Outros pontos de coleta de doações
Batalhão do Corpo de Bombeiros
Endereço: Rua Oto de Alencar, 215, Jacarecanga.
Centro Integrado de Segurança Pública (CISP)
Endereço: Avenida Aguanambi, 2600.