É muito difícil se sentir inferior dentro de qualquer um dos ambientes onde convivemos, mas existe um lugar que deveria ser sempre para nós abrigo, espaço de segurança, acolhimento e de formação de laços, muitas vezes, para a vida toda: a escola.
É um privilégio sem medidas sentir-se feliz dentro da escola, entre colegas que viram amigos, professores que se tornam inspiração de vida, funcionários que podem ser muitas vezes nossos melhores abraços do dia. Eu vivi isso em muitas das tantas escolas por onde passei na vida - foram ao todo 7.
No entanto, quando esse lugar se torna um espaço de dor é como se algo dentro de nós parasse de funcionar da ‘forma correta’, afetando nosso bem-estar, fazendo doer em nós partes do corpo e da mente — e isso pode virar grandes desafios de vida. A vida inteira.
Parei para pensar — e sentir sobre isso — ao ler reportagem, e depois algumas repercussões, sobre um estudante de 14 anos, negro, periférico e gay, que, segundo o texto, sofria, há tempos, na escola, a dor de uma sociedade que, desde cedo, aprende e ensina sobre o culto ao dinheiro e ao poder, e também a naturalizar a opressão, o preconceito, a misoginia e a homofobia, e tantos outros comportamentos que causam verdadeiras feridas.
Ao ler sobre a história do estudante, lembrei de que em um dos colégios onde estudei, eu me sentia um verdadeiro peixe fora d’água, uma pessoa inferior aos colegas, o que me fez silenciar e distanciar de muitos ali. Eu vinha da periferia e não tinha a mesma realidade de vida que a grande maioria que me rodeava 5 dias por semana ao longo de muitas horas.
Comportamentos, palavras, vestimentas e até a alimentação de alguns tocavam em mim gerando incômodos que, apenas muitos anos depois — e após muita terapia como investimento para manter bem a saúde mental —, eu consegui entender que soavam como dores, não físicas, mas emocionais. O que afetou, inclusive, a minha autoestima.
Claro que a experiência que tive durante 1 ano nessa escola não foi a mesma que teve o aluno, no entanto, a sensação de se sentir desprotegida e distante de todos em um ambiente que deveria ser abrigo, a escola, me fez pensar durante horas como, todos os dias, tantos estudantes sofrem em silêncio os efeitos de se sentirem diferentes, inferiores e solitários nos bancos de colégios mundo afora, sejam eles particulares ou públicos, por diferentes motivos muitas vezes não detectados, nem em casa e nem no seio escolar.
Ele, segundo a matéria, cometeu suicídio e, muitos dos que leram ou lerão informações sobre isso o chamarão de fraco ou buscarão outras formas de culpá-lo pela própria morte. Para mim, todos nós somos um pouco responsáveis por ele e por tantas outras pessoas que sofrem na pele e na mente as dores de uma sociedade opressora, que busca equiparar seres humanos como se fôssemos produtos em prateleiras.
Penso sobre essa responsabilidade coletiva porque o suicídio é um problema de saúde pública e deve ser enfrentado como o tal, de modo que, todos nós, busquemos formas de aprender sobre isso e sobre as muitas doenças, transtornos ou comportamentos ligados à falta de saúde mental. Para que possamos cuidar de nós mesmos e dos nossos, e tentar entender quando comportamentos, palavras, silêncios ou vazios podem ser, antes de qualquer coisa, um sintoma de adoecimento.
Mas também penso no quão importante deve ser a união entre escola e famílias, não na procura por culpados, mas na busca por referências, inspirações, ensinamentos, empatia, no compartilhamento de informações, experiências e de responsabilidades ante ao desafio que é dar cada vez menos espaço ao bullying e experimentar uma verdadeira cultura de paz diante dos conflitos que possam existir dentro das escolas. Tudo para incentivar bons e democráticos comportamentos e não ofensas e adoecimentos, e sim lugares de seres verdadeiramente humanos.
Se você está se sentindo triste, tem pensamentos suicidas, intenções de ferir o próprio corpo, se sente sem esperança e pessimista na maior parte do tempo, ou conhece alguém que passa por essas ou situações semelhantes, isso pode estar ligado a um problema de saúde mental e há inúmeros tratamentos na rede pública ou privada capaz de oferecer ajuda. Como exemplos de locais que podem ser procurados, está o Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende 24h pelo telefone 188 e sem custo de ligação ou via Chat, no cvv.org.br; o Movimento de Saúde Mental, no WhatsApp (85) 9 8106-7178, e o Hospital de Saúde Mental de Messejana, em Fortaleza, que dispõe de emergência 24 horas.
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