Guerra na Ucrânia, Petrópolis e alterações climáticas

O aumento de 1,5ºC na temperatura global pode aumentar em até 200% a população que será afetada por inundações no Brasil, Colômbia e Argentina, 300% no Equador e 400% no Peru.

Esse é um dos achados do novo relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática, o IPCC. Lançado na segunda-feira, 28 de fevereiro, o estudo afirma que “o colapso do ecossistema, a extinção de espécies, ondas de calor fatais e enchentes estão entre os perigos inevitáveis” que vamos enfrentar já nos próximos 20 anos por causa do aquecimento global.

E qual a relação das conclusões do relatório com o conflito armado que o mundo todo acompanha no momento? A resposta vem da chefe da delegação ucraniana do IPCC, Svitlana Krakovska: "as mudanças climáticas induzidas pelo homem e a guerra na Ucrânia têm as mesmas raízes - combustíveis fósseis - e nossa dependência deles".

O invasor ucraniano - a Rússia - é um dos principais fornecedores de petróleo e gás natural do mundo. Num contexto sem guerra, Vladimir Putin já tinha a longevidade de sua economia atrelada à demora na implantação de políticas para redução das emissões de carbono.

Agora, é difícil imaginar que o país, que não se comprometeu com as metas da ONU para corte no uso de combustíveis fósseis durante a COP 26, considere que é preciso agir antes que a situação ambiental global chegue a um ponto irreversível.

A guerra também traz um forte efeito imediato no combate às alterações climáticas. A pauta, naturalmente, saiu de cena. Petrópolis ainda está em destaque nos jornais do Brasil?

Uma das principais bandeiras de Joe Biden, a agenda climática nem foi referida no primeiro discurso do Estado da Nação do presidente norte-americano, feito um dia depois da publicação do relatório do IPCC.

Há quem considere absurdo se falar em agenda ambiental quando um milhão de ucranianos já deixaram sua terra para tentar escapar da guerra. É difícil, mas é preciso.

São pessoas que vão tentar recomeçar, num primeiro momento, em pontos diferentes da Europa, continente onde a gravidade dos impactos do calor extremo e da seca triplicou nos últimos 50 anos, com perdas econômicas na produtividade florestal, agricultura e pecuária, segundo o IPCC.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que "o carvão e outros combustíveis fósseis estão engolindo a humanidade". Faz sentido no contexto climático e também no cenário da guerra, já que os lucros do petróleo financiam as ações de Vladimir Putin.

"Não nos renderemos na Ucrânia e esperamos que o mundo não desista de construir um futuro resiliente ao clima", disse a cientista Svitlana Krakovska.

Pelo bem de todos nós, é imprescindível que não.

Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.