Familiares, amigos da família, vizinhos, professores, treinadores, líderes religiosos ou cuidadores. Os abusadores de crianças e adolescentes muitas vezes são pessoas em posição de confiança.
É fundamental não generalizar ou estigmatizar determinados grupos, mas sim estar atento aos sinais de abuso e promover a proteção e o cuidado das crianças em todos os ambientes, inclusive os virtuais.
Com o avanço da tecnologia e o aumento do uso de telas, as crianças e adolescentes estão mais expostas e vulneráveis ao abuso sexual virtual. Esse tipo de abuso que é também conhecido como grooming, envolve a manipulação e exploração sexual através da internet ou outros meios digitais.
Pode ocorrer por meio do envio de mensagens sexualmente explícitas, compartilhamento de imagens pornográficas, solicitação de encontros ou qualquer outra atividade que vise explorar sexualmente a vítima.
Como perceber se uma criança está sendo abusada?
A identificação de abuso sexual em uma criança pode ser complexa, entretanto alguns sinais de alerta podem incluir: mudanças comportamentais repentinas, o aparecimento de comportamentos sexualizados inadequados para a idade, regressão em habilidades já adquiridas, dificuldades de sono, evitação de situações ou pessoas específicas, lesões físicas inexplicáveis, entre outros.
Apesar da complexidade dos impactos do abuso sexual na criança, estudos baseados em casos clínicos, apresentam alguns sintomas normalmente presentes em suas diferentes fases de desenvolvimento:
Primeira infância (até 6 anos de idade), os sintomas mais comuns são: ansiedade, medos excessivos, pesadelos, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e comportamento sexual inapropriado.
Idade escolar (7 a 12 anos) os sintomas incluem: medos, agressão, problemas com o corpo e auto imagem, pesadelos, problemas escolares, hiperatividade e comportamento regressivo.
Adolescência observa-se: depressão, isolamento, comportamento suicida, autoagressão, queixas somáticas, atos ilegais, fugas, abuso de substâncias e comportamento sexual inadequado.
É claro que esses sinais não são conclusivos e podem ter outras causas, por isso é importante investigar cada caso de forma individualizada e detalhada. Porém é importante que pais, familiares, professores e cuidadores estejam atentos a quaisquer mudanças no comportamento das crianças.
Mesmo que uma criança vítima de abuso sexual não externe sintomas ou esses se apresentem de forma “leve”, isto não quer dizer que ela não sofra ou não venha a sofrer com os efeitos.
As consequências dessa experiência podem estar ainda latentes e talvez se manifestem posteriormente, diante de uma crise evolutiva ou situacional, ou frente a algum tipo de estresse. Portanto, mesmo que no momento pareça assintomático, dificilmente uma criança sexualmente abusada não apresentará sintomas.
Os impactos podem variar dependendo da idade da criança, do tipo e da frequência do abuso, bem como da relação entre a criança e o agressor.
Adultos que sofreram abuso infantil, por exemplo, podem ter dificuldades em estabelecer relacionamentos saudáveis, confiar em outras pessoas, manter um emprego estável e lidar com situações de estresse.
Por isso, é essencial prevenção e cuidado. Além do tratamento médico adequado, essas crianças precisam de apoio emocional e psicológico para lidar com as consequências do trauma.
A terapia desempenha um papel fundamental no tratamento das vítimas, uma vez que fornecem um ambiente seguro e de apoio, valida as emoções da criança, ajuda na reconstrução da autoimagem, promove o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento saudáveis e faz um trabalho de orientação e suporte a família.
Como falar sobre abuso sexual com os filhos?
A prevenção envolve a educação de crianças e adolescentes sobre seus direitos, a importância de dizer "não" a situações abusivas e a busca por ajuda em caso de necessidade.
Quando se trata de abordar o assunto com os filhos, é importante escolher o momento certo e usar uma linguagem adequada à idade da criança. Os pais devem deixar claro que estão disponíveis para conversar e ouvir qualquer coisa que seus filhos possam querer compartilhar.
A família deve:
Educar as crianças: Ensine as crianças sobre seu corpo e sobre o que é e não é apropriado em relação ao toque e a comportamentos sexuais. Explique que elas têm o direito de dizer “não” a qualquer tipo de toque ou comportamento que as deixe desconfortáveis e que elas não devem ter medo de falar se alguém as fizer se sentir desconfortáveis. Existem diversos livrinhos infantis que ajudam nesse processo.
Estabelecer limites: Estabeleça limites claros para os comportamentos em casa e em outros lugares, ensine as crianças a reconhecer comportamentos que são inapropriados, como a forma de sentar, e sobre exposições inadequadas. Os limites aqui se estendem também para a vida virtual do seu filho, esteja atento e limite o seu tempo de telas.
Ensinar sobre privacidade: Ensine as crianças sobre privacidade e que ninguém deve tocar suas partes íntimas ou pedir que elas toquem as partes íntimas de outra pessoa.
Supervisionar as crianças: Supervisione as crianças durante atividades e em interações com adultos, e tenha cuidado ao permitir que outras pessoas cuidem delas. Monitore seu filho também sobre o conteúdo que acessa de forma online, observe suas atividades através do celular e computadores.
Criar um ambiente seguro: Crie um ambiente seguro e acolhedor em casa e na comunidade, onde as crianças se sintam à vontade para conversar sobre seus sentimentos e preocupações.
Falar sobre o assunto: Caso suspeite que algo esteja acontecendo, converse com a criança sobre abuso sexual e deixe claro que elas não são culpadas se algo acontecer.
Denuncie casos suspeitos de abuso
Estamos no mês da campanha "Maio Laranja", criada para informar a sociedade sobre os sinais de abuso sexual infantil, incentivar a denúncia de casos suspeitos e promover a prevenção por meio da educação.
Canso de ouvir relatos de pessoas que sabem ou suspeitam de algo, e não denunciam porque não querem se envolver. Sei que é difícil aceitar que o abuso acontece com os que tem algum grau de parentesco ou maior proximidade da criança. Mas só ficar revoltado ou indignado não resolve.
Denunciar esse tipo de violência é uma tarefa de TODOS NÓS. O silêncio perdoa o abusador e reforça seu poder sobre a vítima.
Devemos agir, pois cada história de abuso sexual infantil é uma tragédia que deixa cicatrizes emocionais e psicológicas nas vítimas, e pode trazer consequências graves e duradouras.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora