Há poucos dias Fernanda Bande, participante do reality show BBB 24, conversou com uma amiga sobre a exaustão de ser mãe. "Tá tudo dando errado, Pitel. Tem dia que você quer matar seus filhos. Você quer ser presa. Tem dia que você olha aquelas crianças e você fala: 'Se eu morasse em um prédio, eu jogava pela janela'. Porque você não aguenta, você surta, você quer morrer", falou Fernanda.
Essa fala viralizou nas redes sociais e dividiu opiniões. De um lado, pessoas defendem que essa forma de falar é muito agressiva, pois, apesar das dificuldades e cansaço extremo, acreditam que não se deve falar assim de ninguém, principalmente em relação a crianças e filhos. Por outro lado, outro grupo entende que tudo que foi dito representa sintomas de uma mãe extremamente sobrecarregada que precisa de ajuda e acolhimento.
É claro que, por se tratar de um reality show, onde tudo é exposto a julgamento, a tendência é sempre polarizar o que foi dito, tudo se torna caso de bem ou mal, certo ou errado.
Mas a grande questão é: o que leva uma mãe a falar dessa forma? O que está por trás dessa fala? Por que algumas pessoas concordam e outras discordam? É normal uma mãe ter pensamentos tão agressivos assim em relação aos filhos?
É fascinante a subjetividade humana. Esses programas nos remetem a discussões importantes sobre a complexidade do comportamento humano.
A Fernanda não foi nada feliz com suas palavras e com a sua forma de se expressar. Talvez não considerou, por alguns instantes, a exposição em que estava, talvez é muito impulsiva, talvez se expressa de forma agressiva (como em outras falas), talvez não tenha sensibilidade para ser mãe, talvez é autêntica, talvez é sofredora, talvez não estava no local certo para desabafar. Podemos fazer inúmeros julgamentos, percebem? E cada julgamento será feito a partir das vivências e valores individuais, do que faz sentido para cada um.
O que posso afirmar, enquanto psicóloga, é que no setting terapêutico, onde só existe o paciente e o terapeuta, ouvimos relatos, vontades, pensamentos, desejos, desabafos até mais impactantes e violentos do que esse. Seja em relação ao filho, ao marido, à mãe idosa que está com Alzheimer ou ao amigo traidor. E isso não quer dizer que essas pessoas vão fazer o que estão falando, na verdade muitos até se culpam por chegarem a esses pensamentos. Porém, nós profissionais, estamos ali para suspender os nossos “a prioris” e procurar entender o que está por trás daquela fala, daquele pensamento, para ajudar o sujeito a se perceber e trabalhar melhor aquela relação que não está saudável.
E isso não quer dizer que devemos amenizar ou ignorar essas falas, muito pelo contrário, é na verdade um sinal de alerta. Certamente, por trás da fala de Fernanda, existe dor, sofrimento, dificuldades emocionais, traumas psíquicos. E não é à toa a quantidade de mães que se identificam. Mães atípicas, solos, típicas, casadas, viúvas.
A discussão que acredito ser importante é que essa fala transmite um esgotamento intenso que nos serve de lembrete do quanto as mães também precisam ser cuidadas e ouvidas. E não é somente sobre trabalhar o autocuidado, mas é sobre rede de apoio, ter pessoas ao redor dispostas realmente a ajudar, sem julgamentos.
Portanto, assim como precisamos levar uma criança que está muito irritada, triste e com mudanças de comportamento para um especialista, temos também que procurar ajuda quando o cansaço extremo e as emoções negativas sobre a maternidade começam a aparecer de forma mais frequente.
É muito comum recebermos mães esgotadas nos consultórios que já desenvolveram transtornos de ansiedade ou depressão e que não sabem mais o que fazer.
Reconhecer a exaustão materna como uma realidade válida é fundamental para que as mães possam ser compreendidas e recebam o suporte necessário para recuperar seu bem-estar e construir uma relação mais saudável com seus filhos.
É válido destacar ainda, que devemos ter cuidado sim em como expressar ou para quem falar sobre nossas queixas emocionais, afinal, nem todos saberão suspender seus “a prioris”.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.