A juventude fala sobre a cidade

O que a juventude espera da cidade? Foi com este questionamento que iniciei um dos debates junto aos meus alunos e minhas alunas do curso de geografia urbana. Moradores da capital e de outras cidades da região metropolitana, esses jovens têm expectativas, desejos e opiniões acerca dos serviços urbanos.

Até aí, há consenso. Porém, nós os escutamos? Paramos, os ouvimos e consideramos suas sugestões para rearranjar o ineficiente e melhorar o bem avaliado?

Das opiniões expostas, duas palavras-chave repetiram-se consideravelmente: lazer e (in)segurança. E não é por acaso!

Em relação à primeira palavra – o lazer (acompanhado de outras como arte, diversão e cultura) - a sensação predominante é que são limitadas as possibilidades de diversão para os jovens pobres e “periféricos”. Eles enumeram as razões para fundamentarem suas constatações: 1. número reduzido e concentrado de espaços públicos; 2. falta de acessibilidade associada aos itinerários inadequados do transporte público; e, 3. os preços elevados dos ingressos para atrações culturais.

Na opinião dos estudantes, em Fortaleza, sobretudo, equipamentos como Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) e as “Areninhas” são consideradas iniciativas exitosas. No entanto, os jovens apontam empecilhos consideráveis, e ao meu ver, com razão.

No concernente aos Cucas constatei avaliações positivas, todavia também muitos desejos frustrados. Segundo eles, isso acontece porque as vagas oferecidas nos quatro em funcionamento - Barra do Ceará, Jangurussu, José Walter e Mondubim - andam longe de atender a grande demanda.

Para os alunos e alunas, outros tantos CUCAs deveriam ser construídos em outras áreas da cidade (há outro em construção no Bairro Pici), isso ajudaria a transpor, por exemplo, os problemas relacionados a acessibilidade e a superação das demandas não atendidas. Nas palavras de um aluno: “não há pólos de lazer e cultura nos cantos periféricos”.

No caso das Areninhas, os estudantes entendem que há limitações, afinal os campos de futebol limitam-se a uma única atividade esportiva e deixam de contemplar tantos outros interesses juvenis. Em complementação, lembram da ausência de manutenção das mais antigas e por isso constatam degradação desses equipamentos.

Descrita a primeira, vamos a segunda palavra-chave: segurança. Pelos fatos e notícias, é quase óbvio que ela apareça. Sem a sensação de segurança há claro prejuízo no direito de ir e vir. Também é por isso que, invariavelmente, a insegurança vem acompanhada de outro vocábulo: medo.

Diferentes universitários emitem a opinião de que o medo os impede de visitar espaços na cidade. Eles não titubeiam e apontam suas necessidades: “Segurança para transitar livremente, sem preocupação com assaltos ou violência sexual. A gente acaba se restringindo no lazer justamente por essa questão”. Um outro colega complementou: “sou periférico, então acredito que isso atinja todo mundo que vive na mesma situação que eu, [ou seja] não saber se quando sair vai voltar”.

E se os que moram em Fortaleza reclamam, os outros, habitantes das outras cidades metropolitanas, ainda menos satisfeitos estão. Para eles, as demais cidades na região metropolitana permanecem atrasadas no atendimento dos interesses da juventude.

Se à primeira vista, estes parecem ser problemas “democratizados”, a repetição do termo periferia e periférico enfatizam que não o são. Não precisa ser especialista para averiguar a desigualdade socioterritorial de oportunidades para a juventude urbana.

E é por essa razão que dotar todos os quadrantes da cidade de opções de lazer/cultura e garantir o sagrado direito de ir e vir em segurança são mais que desejos de um punhado de estudantes, são soluções para dezenas de problemas sociais e urbanos.