Fortaleza: derrota vem com honra e serve de lição contra Independiente

O Leão brigou até o fim, criou muitas chances, mas foi superado por 1 a 0 pela Copa Sul-Americana

“Tuas glórias do passado para sempre vou carregar”. De canto popular e imponente, a mensagem tricolor foi ecoada em Avellaneda: os 101 anos da história do Fortaleza são gigantes, mas a batalha pelo domínio da América começou. Quis o destino que o maior jogo do futebol cearense ocorresse distante, na Argentina. E direto do estádio Libertadores de América, ontem, o inédito se escreveu. Na jornada pela Sul-Americana, o Leão foi aguerrido diante do Independiente, o “Rei das Copas”. O placar: 1 a 0, derrota que abate, mas não diminui a saga leonina, na verdade, o mantém vivo.

O resultado foi tremendo, a atmosfera também. Dos 45 mil lugares da casa dos diabos, 4.500 eram leoninos. O suficiente para transformar o reduto adversário em lar. Afinal de contas, trata-se do êxtase: dos caminhos definhados do interior brasileiro ao solo internacional, da Série C à um torneio da Conmebol.

Em si, quando sequer se imaginava ser surpreendido, o torcedor se deparou com a viagem, as malas prontas e até a escalação, até então inovadora. Para encarar os Rojos, o técnico Rogério Ceni - campeão do torneio em 2012 - foi ousado ao montar o plantel no 4-2-4 sem centroavantes. A formação leonina foi um prelúdio da estratégia: voraz por conquista, o objetivo era transformar o duelo em correria.

Fortaleza

Logo, nada de covardia ao debutante cearense. Tudo porque o time tinha a devida dimensão do desafio, verdadeiramente, jogava por amor. Representava um Estado e milhares que nunca o deixaram cair ou sequer se sentir sozinho. Assim a recompensa centenária foi sair vivo, mesmo que o resultado seja adverso. Pelo regulamento, o mesmo placar na volta, dia 27 na Arena Castelão, o conduz aos pênaltis. Se for dois gols de diferença, a classificação é do Fortaleza.

E o ânimo será renovado porque sequer houve pressão evidente. Se teve, o Leão não sentiu, jogou solto. Foi com um coletivo organizado e muita entrega que o time até se sobrepôs ao rival tão tradicional, com os inúmeros títulos continentais nas costas. Ali, o Leão dominou o campo, se impôs taticamente e, sim, criou as principais chances de gol.

Nisso tudo, a falha capital foi o desfecho no último terço. A criação veio, inclusive em excesso para quem era apenas visitante, no entanto, uma atrás da outra, a equipe ia perdendo a possibilidade de abrir o placar. Algo que chega a ser incomum, foi quase um pecado por displicência: 13 finalizações e seis oportunidades nítidas de balançar a rede, incluindo uma de Romarinho que, sozinho, sem goleiro, se atrapalhou no momento de chutar quase sobre a linha.

O peso da inexperiência

Na história de 90 minutos, o primeiro e o segundo tempo merecem uma divisão. Não de supremacia ou criação, mas de postura, compreensão da magnitude do evento e até responsabilidade.

A dádiva que faltou ao zagueiro colombiano (e capitão) Quintero. Em uma cobrança de escanteio, a favor do Fortaleza, o defensor se entregou a tensão e fraquejou quando não podia. Através de um desentendimento banal com o lateral Sánchez Miño, recebeu cartão vermelho numa punição com carga máxima ao time cearense, que precisou abandonar tudo: estratégia, contra-ataque, substituição, enfim, foi outro, agora, inferior ao Independiente.

A ‘catimba’ se fez valer em solo internacional. O Fortaleza foi infantil e caiu, retornando ao intervalo com menor rotação e intensidade. O processo de retomada técnica demorou o suficiente para os Rojos abrirem o marcador diante da crise política e financeira que estão instalados. Foi aos 5 que o gol saiu, de Fernández, justamente no lado em que Quintero atuava - no lance, Michel ocupava o setor com Paulão.

Depois disso, o Leão se doou até se afogar nas próprias pernas e cansaço. O que jogou Osvaldo foi louvável, o melhor em campo indiscutível e também principal criador tricolor, além de finalizador. Lá, o faltou companhia ou melhor, um camisa 9 de presença que atendia tanto por Wellington Paulista como Edson Cariús - ambos acompanharam tudo do banco.

Com um a menos de cada lado, o Independiente se organizou melhor e praticamente anulou a ausência formando um 3-5-1, com meio-campo povoado entorno de Silvio Romero, o nome mais perigoso.

No fim, as lições foram tiradas. Não há abismos entre os elencos, o cenários não é de caos. Se o Fortaleza é novato no contexto, tem tudo para fazer história nos próximos episódios. Dia 27, às 21h30, na Arena Castelão, uma revanche esboçada por Ceni: “Vamos para dentro deles”, finalizou a entrevista.

Ficha técnica

Independiente-ARG 1x0 Fortaleza

Local: Estádio Libertadores de América, em Buenos Aires, Argentina.
Data: 13/03/2020
Horário: 21h30
Competição: Copa Sul-Americana

4-4-2 | Independiente: Campaña; Bustos (Cecílio Domínguez), Alan Franco, Barboza e Sánchez Miño; Lucas Romero, Domingo Blanco, Soñora e Benítez (Brian); Silvio Romero e Leandro Fernández (Velasco).

4-2-4 | Fortaleza: Felipe Alves; Gabriel Dias, Quintero, Paulão e Bruno Melo; Felipe e Juninho; Mariano Vázquez, Osvaldo (Marlon), Romarinho (Tinga) e David (Michel).