Uma estrela e uma cruz. Dois símbolos centrais do cristianismo. A estrela simboliza o surgimento da esperança, a chegada de um novo tempo, uma luz que ilumina nossa trajetória em momentos de escuridão. A cruz nos lembra que a morte não é um ponto final, mas sim um momento de renascimento do eterno que estava contido no material que se decompõe. Sem esse processo, o novo jamais surgirá. Se a semente não morrer, não nascerá a árvore.
A ideia de que a morte não é o fim, mas sim um novo começo, oferece uma nova perspectiva sobre a vida e as dificuldades que enfrentamos. Esses dois símbolos cristãos nos remetem à imagem de uma criança/esperança que nasceu em um espaço precário, acompanhada por seus pais, e cercada por animais que a aquecem e a protegem. Essa criança, frágil e vulnerável, que precisa de cuidados e proteção em um mundo hostil perseguido por Herodes, representa a essência da esperança, que, muitas vezes, surge e cresce nos momentos de tribulação.
Quando há um ambiente hostil que prenuncia um fim, a esperança sempre surge, a esperança de um novo começo e da vitória do bem sobre o mal, do amor sobre o ódio e do poder. Essa é a essência do Natal e da vida cristã! Da mesma forma que as crianças são dependentes do cuidado e proteção dos seus pais, a esperança também necessita de uma comunidade que a acolha com afeto, a proteja e a alimente.
Assim sendo, o Natal é um convite para reacender a esperança que não surge em ambientes protegidos, confortáveis ou de poder, mas sim como uma luz tênue em momentos de desespero e solidão. Enquanto alguns tentam reprimir e extinguir a esperança, outros, como os três reis magos, percorrem grandes distâncias para reconhecer e manter essa esperança. A luta entre forças opostas, que ameaça o futuro do planeta, é uma constante na história humana.
Ontem, Herodes, hoje, um modelo econômico neoliberal predatório que prioriza o lucro acima de tudo, apesar de ter uma aparência religiosa ao afirmar que Deus está acima de qualquer outra coisa. Outra, visando incentivar e proteger a esperança. A esperança é a alma da humanidade.
Nesse cenário, o Natal é um momento crucial para revermos os nossos valores e para fortalecer aqueles que estão vulneráveis, pois eles são os mensageiros dos novos tempos e das mudanças necessárias. São uma terra fértil, onde as sementes de esperança germinam. Em vez de simplesmente oferecer caridade, devemos procurar maneiras de empoderar e oferecer oportunidades para essas pessoas e comunidades.
Dar presentes e distribuir cestas básicas, apesar de relevante, deve ser acompanhado de esforços para alimentar a esperança e construir laços de solidariedade ao longo do ano. São mensageiros do que está faltando em nossas vidas e na sociedade, visando alcançar um progresso duradouro e sustentável. Ao reconhecermos nossos erros, elas nos mostram o que precisamos fazer em nossas vidas.
O Natal é uma oportunidade para nutrirmos o legado imaterial deixado pelos nossos antepassados e por Jesus, resgatando os valores que herdamos e que podem orientar nossas ações. A paz tão desejada por todos começa dentro de mim, dentro de cada um de nós. Precisamos aprender a viver em paz com a diversidade e as contradições que nos habita, reconhecendo que somos compostos por múltiplas vozes e experiências.
A dificuldade de reconciliar memórias e valores ancestrais em conflito com valores cristãos, como a injustiça, é um desafio constante. No entanto, ao pacificarmos nosso coração e nossa mente, nos tornamos uma centelha de luz que pode iluminar a própria vida e a vida dos que nos cercam. Este talvez seja o maior desafio: pacificar minha mente e o meu coração diante de tantas diferenças que geram conflitos que perduram até os dias atuais.
A conquista da paz
A conquista da paz não se dá por meio de uma batalha externa, usando armas mortais ou disseminando o ódio; ela deve começar dentro de nós e em nossas casas. A verdadeira transformação e renovação estão enraizadas em nossas experiências de vulnerabilidade e fragilidade. De nada vale gastar energia e dinheiro para pacificar o mundo exterior, se não pacifico meu mundo interior.
Ao criar uma atmosfera de paz interna e familiar, percebemos que não é necessário lutar pela paz global desgastantemente, pois ela se espalha naturalmente quando experimentamos essa paz interior e cultivamos a harmonia em nossas relações mais próximas. A liturgia católica, ao nos convidar a preparar o advento, nos lembra da importância de nos prepararmos para o nascimento do novo em cada um de nós, do frágil portador de esperança.
O novo que precisa ser recebido está presente em nosso interior, em nosso dia a dia, em nossa residência e em nossa comunidade, e todos necessitam de um ambiente seguro e afetuoso. A esperança, muitas vezes, surge de forma simples e discreta, assim como a luz tênue de uma vela ameaçada por tempestades. É preciso estar atento às pequenas coisas da vida, como o ato de abraçar os filhos, expressar o nosso amor e respeitar as suas escolhas e projetos de vida. Essas ações, embora pequenas, demandam um grande esforço e podem resultar em conquistas duradouras que geram mudanças significativas.
O que fazer para construir a paz em nós e nas nossas famílias? Como podemos acolher o novo e o inesperado em nossas vidas, nos aliando aos eternos Herodes que declaram guerra às novas ideias que ameaçam seu poder, ou sermos defensores da esperança que nasce em territórios vulneráveis e precisa de cada um de nós para protegê-la? A esperança não é uma ideia abstrata, mas sim uma responsabilidade coletiva. Ela é o que anima e fortalece a humanidade.
É indispensável que cada um de nós se comprometa a protegê-la e nutrir aqueles que necessitam dela. O Natal é, portanto, mais do que uma celebração, é um chamado à ação e ao afeto, um momento para rever nossas prioridades e nos conectarmos de forma solidária. Precisamos cultivar a paz em nossos corações, em nossas casas e famílias, e a ser agentes de mudança e acolhimento em nossas comunidades.
A verdadeira transformação começa dentro de nós e se espalha para o mundo ao nosso redor. Neste Natal, acenda a luz da esperança no seu coração. Tenha coragem, criança, e siga em frente. A certeza de que a luz triunfa sobre as trevas e que, após a tempestade, surge a calma. Seja justo consigo e com os outros para conhecer a verdadeira paz!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.