A cada crise gerada por falas ou atitudes desastradas de agentes públicos, seja por parlamentares, ministros ou, mais comumente, pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, o País sai mais de seu eixo. Perde também um pouco mais de sua credibilidade perante o mundo. Perante os próprios brasileiros. E se aproxima de um cenário de caos social.
As consequências já superam - e muito - a má repercussão na opinião pública nacional e internacional, como a escalada do dólar provocada por declarações do ministro da Economia Paulo Guedes.
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Ainda na última quarta (19), o eurodeputado italiano Nicola Danti alertou que o comportamento de Bolsonaro poderia prejudicar o acordo desenhado por vinte anos entre o Mercosul e a União Europeia. Sem contar com crises diplomáticas geradas com a França e com seu presidente Emmanuel Macron, com o Irã pelo apoio desmedido aos Estados Unidos, com a China, com a Argentina.
A lista de alvos do poder público, em especial do Palácio do Planalto, é extensa: envolve ambientalistas, artistas, indígenas, governadores, jornalistas, membros da comunidade LGBT, portadores de HIV, entre tantos outros segmentos da sociedade já ofendidos pelo próprio Bolsonaro.
Nesta semana, o presidente da República chegou ao absurdo (já tão lugar comum nesses dias, mas ainda mais extremo) de reforçar um boato já comprovadamente falso a respeito da jornalista Patrícia Campos Mello, em frente a todos e em meio a risadas. Um ataque machista que atinge não só a ela, mas a todas as mulheres e à imprensa.
A ponderação e a sensatez no ambiente público, indispensáveis para manter a saúde da democracia e os interesses da nação, perderam lugar ao destempero, à selvageria, ao autoritarismo e às fake news. E o pior - tem ficado por isso mesmo.
O cargo público, seja de presidente, ministro, juiz ou servidor, não é uma licença para quem o ocupa fazer o que bem entender, por mais que o abuso de autoridade seja prática tão comum no País. O dever básico de cada um deles é zelar pela estabilidade e pelos interesses da nação.
Enquanto isso, o silêncio das demais instituições diante desse cenário de horror naturaliza absurdos e torna aceitável o inaceitável. Desmoraliza o País e a democracia, abrindo caminho para os tiranos.