Revolução prometida pela inteligência artificial ainda não impactou receitas

Há algumas semanas, participei da 10ª edição do SaaStr Annual, um dos eventos mais significativos do setor de tecnologia. Reunindo líderes e investidores globais, a edição deste ano destacou a inteligência artificial (IA) como tema central. No entanto, ao ouvir as reflexões de Tomasz Tunguz, fundador da Theory Ventures, percebi que a empolgação inicial em torno da IA está dando lugar a um ceticismo fundamentado em dados.

Tunguz apontou que, há seis meses, a segurança era a principal preocupação em relação à IA. Hoje, a grande questão é o retorno sobre investimento (ROI). A expectativa de que a IA revolucionaria as operações das empresas, reduzindo custos e aumentando a produtividade, parece estar sendo questionada. Ele compartilhou exemplos de empresas que, embora tenham implementado tecnologias de IA, não viram resultados concretos. Um caso emblemático foi de uma empresa que, após a adoção de um SDR (pré-vendas) movido a IA, viu um aumento no pipeline de vendas, mas não concretizou nenhum negócio. Isso levanta um ponto crucial: não é que a IA não funcione, mas talvez ainda não saibamos utilizá-la de maneira eficaz.

Mais alarmante foi o dado que revelou que, apesar dos relatos de eficiência de 25% a 75% pela maioria dos líderes, as melhorias reais ficaram entre -4% e 4%. Além disso, os ciclos de vendas se alongaram, elevando em média 13% o tempo necessário para recuperar o custo de aquisição de clientes.

Ainda assim, entre os fundadores entrevistados, havia um otimismo persistente. Mesmo diante de um cenário econômico desafiador, onde as taxas de juros subiram e o mercado de IPOs enfrenta dificuldades, muitos mantêm a esperança de que a IA possa, de fato, transformar suas operações.

A questão que se coloca, portanto, é: como podemos transformar essa promessa em realidade? O momento exige uma reflexão crítica sobre a adoção da IA e suas implicações práticas. Se queremos que a tecnologia traga resultados tangíveis, é fundamental aprender a utilizá-la de forma mais eficiente, alinhando expectativas à realidade do mercado.

Felipe Coelho é cofundador da ABSeed Ventures