Prefeitas e prefeitos: é hora de escolher as melhores lideranças para cargos estratégicos na gestão

A combinação dos papéis político, gerencial e técnico é essencial para a entrega de políticas eficazes

Com o processo de escolha das prefeitas, prefeitos e vereadores finalizado, enganase quem pensa que os olhares devem se voltar às prefeituras apenas em 1º de janeiro de 2025. As próximas semanas são prioritárias para o planejamento dos mandatos que se iniciam no ano que vem: gabinetes de transição ou de preparação já começam a ser montados para pensar como as cidades serão geridas e, tão importante quanto, quem serão as pessoas responsáveis por ocupar cargos de liderança, com destaque às secretarias.

Apesar de 60% dos servidores públicos estarem alocados nos municípios - são 6,5 milhões de trabalhadores na linha de frente da oferta de serviços básicos à população - eles costumam ser invisibilizados no debate eleitoral, como infelizmente aconteceu novamente em 2024 no país. Os municípios são os grandes responsáveis pela atenção básica à população, como educação e saúde. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE, 71,5% da população brasileira depende do Sistema Único de Saúde (SUS), e são as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) as principais portas de entrada do acesso à saúde pública, representando, em conjunto, 60,9% dos primeiros atendimentos realizados ao cidadão. Ao mesmo tempo, de acordo com o Censo Escolar 2023, a rede pública municipal tem 23,3 milhões de crianças matriculadas (49,3% do total de matrículas escolares no Brasil).

O setor público deve ser um bom empregador, e, para isso, precisa ter critérios mais específicos ao selecionar profissionais para os cargos de liderança. É preciso garantir que os profissionais mais preparados ocupem as melhores posições e sejam recompensados pelo tamanho de suas responsabilidades. Prefeitas e prefeitos devem realizar suas escolhas tomando como base o equilíbrio entre capacidades, desempenho e confiança. É importante considerar pessoas que possuam competências para desempenhar papel político (capacidade de negociar, articular e formar alianças, ou seja, ouvir todas as partes interessadas no processo de tomada de decisões), técnico (subsidia a organização com as melhores informações estratégicas sobre a política pública em questão) e gerencial (habilidade de organizar, planejar, executar e monitorar projetos de forma efetiva).

A combinação dos papéis político, gerencial e técnico é essencial para a entrega de políticas eficazes. Além disso, importa um processo contínuo de gestão de desempenho e desenvolvimento desses trabalhadores, mapeando a entrega de resultados e identificando oportunidades de melhoria a partir de formações, por exemplo. De maneira transversal, um outro elemento é central para garantir que as lideranças sejam indutoras de políticas públicas de qualidade: a formação de uma burocracia representativa da população a que serve, para reverter o atual quadro apontado pelo Censo das Secretárias, que evidencia que apenas 28% das secretarias estaduais e de capitais são ocupadas por mulheres e do total de secretárias mulheres, apenas 38% são mulheres negras.

Segundo pesquisa Datafolha encomendada pelo Movimento Pessoas à Frente em 2023, 83% da população brasileira concorda que os servidores públicos poderiam entregar melhores resultados se tivessem melhores condições de trabalho. Os entrevistados também acreditam que mais mulheres (90%) e mais diversidade racial (82%) tornariam o serviço público melhor. É essencial, portanto, que neste momento de transição governamental nas cidades, a gestão estratégica dessas pessoas seja levada em consideração.

Precisamos valorizar e reconhecer servidoras, servidores e lideranças públicas. Esse é o caminho para um melhor Estado. São essas pessoas que atuam dentro do serviço público que podem garantir acesso e qualidade na gestão pública, construindo uma sociedade mais justa ao oferecer políticas e serviços públicos de excelência em todas as regiões do país.