Quem utiliza o Uber como meio de transporte em Fortaleza tem tido maior dificuldade de se locomover. Usuários relatam demora de até uma hora e meia para conseguir corridas, entre a dificuldade para encontrar motoristas e cancelamentos.
Em meio à inflação, com aumento no preço dos combustíveis e de manutenções automotivas, motoristas de aplicativos têm adotado estratégias para evitar prejuízos.
Outra queixa, mais especificamente ligada à Uber, é sobre a mudança na remuneração das corridas dinâmicas - quando o preço da viagem fica mais alto devido à maior demanda em uma região específica.
Antes, o aplicativo remunerava os motoristas com base em um multiplicador atrelado à demanda. Agora, ocorre a adição de uma taxa fixa que, segundo o diretor da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Ceará (Amap), Rafael Keylon, torna corridas mais longas desvantajosas.
Segundo ele, há um movimento nacional de boicote de motoristas ao aplicativo de transporte em razão da mudança.
Demora para conseguir corridas
A estudante Larissa Mendes, 24, conta que chegou a perder um evento profissional importante por depender da Uber para locomoção. Ela diz que esperou uma hora e meia por um motorista, com três cancelamentos no período.
“Minha maior dificuldade é contar com o tempo antes de pedir um Uber. Muitas vezes ele pode chegar em 3 minutos ou pode demorar de 15, 20, 30 minutos. Você não pode confiar totalmente”, diz.
Usuária do aplicativo de transportes há seis anos, ela relata que percebeu mudanças na qualidade do serviço a partir deste ano, levando-a a buscar concorrentes para conseguir se deslocar.
O estudante Iago Caliari, 25, afirma que está tendo problemas para realizar corridas mais curtas.
“Um dia desses, fui pedir uma corrida da minha casa, próximo à Unifor, até o Iguatemi, e eu passei 35 minutos esperando Uber. E quando um aceitou, ele pegou a corrida e foi embora. Ele simplesmente passou na rua atrás da minha casa e foi embora”.
Justificativa
Segundo a Uber, o avanço da campanha de vacinação e a reabertura progressiva de atividades comerciais pelas autoridades têm aumentado a demanda por corridas nas últimas semanas, fazendo com que os usuários tenham que esperar mais, especialmente em horários de pico.
“A demanda elevada significa que o app da Uber está tocando sem parar para os parceiros, situação em que eles relatam se sentirem mais confortáveis para recusar viagens, pois sabem que virão outros chamados na sequência, possivelmente com ganhos maiores”, justificou a empresa, em nota.
Entenda a polêmica da tarifa
O diretor da Amap, Rafael Keylon, destaca que a recusa de algumas viagens é um mecanismo que os motoristas encontraram para conseguir não sair no prejuízo diante de mudanças na forma de remuneração da Uber e do tempo sem atualização de reajustes.
O ponto principal que tem causado mobilizações nas associações de motoristas tanto locais quanto nacionais é a mudança na forma de remuneração de corridas dinâmicas.
“[A Uber] continua cobrando o passageiro via multiplicador, mas repassa para o motorista um valor fixo. Se eu tô em uma zona de dinâmica hoje, a dinâmica não aparece quantas vezes é a mais, aparece um valor, por exemplo, +5 reais. Da Aldeota para o Bom Jardim eu ganho 26 reais, mas quando vou receber em dinheiro, o passageiro me paga com 40 reais. A Uber subtrai do meu ganho até 45% do valor da corrida”.
Corridas mais longas não são mais tão vantajosas diante da mudança, diz Rafael. De acordo com ele, o problema tem unido motoristas para protestar; ele afirma que do ano passado para cá o número de associados da Amap saltou 2.000%, tendo a associação cerca de 3.000 membros hoje.
Aumento nos custos
O motorista de aplicativo Júnior Oliveira, 34, destaca que o aumento dos custos operacionais diminuiu a margem de lucro dos motoristas. Apesar do aumento do preço dos combustíveis e de manutenção dos veículos, ele aponta que não houve mudanças na plataforma.
Diante do cenário, ele conta que os motoristas têm que se adaptar para ter um ganho razoável. “Entra mais na questão na seleção, de ser mais criterioso no aceite das chamadas, para que a gente possa no final ter um custo benefício razoável. A gente tá tendo dificuldade com serviços como o Uber Promo, que não tem aceitação aos motoristas”, cita.
A estratégia tem sido evitar viagens que tenham uma distância de deslocamento muito longa e dar preferência a trafegar em momentos de tarifa dinâmica.
Resposta da Uber
Em nota, a Uber afirma que o ganho mensal dos motoristas de Uber de Fortaleza cresceu na última semana. Segundo a empresa, os motoristas que dirigiram por volta de 40 horas ganharam, em média, de R$ 1.080 a R$ 1.150 na semana.
“É importante lembrar que os ganhos dos parceiros da Uber são bem particulares, porque são muitas as variáveis em jogo, já que cada um escolhe como quer usar a plataforma. Por exemplo, como os parceiros da Uber são livres para decidir em quais dias e horários dirigir, quem dirige em dias e horários de maior movimento tem uma maior chance de ganhar mais”, diz.
Sobre a mudança na remuneração do preço dinâmico, a empresa alega que, “segundo pesquisa”, os motoristas mantiveram ou aumentaram os ganhos. “Na prática, no sistema de adição o ganho extra é somado ao valor da viagem independentemente do tamanho dela, mas o montante continua variando conforme a demanda por viagens”, explica.