O Ceará teve uma queda de 22,8% nas exportações deste ano. As dados consideram o acumulado de 2024 entre janeiro e setembro. A atividade exportadora atingiu US$ 1,18 bilhão neste período, contra US$ 1,53 bilhão no ano passado. No ranking brasileiro de exportações, o Estado aparece em 17ª posição nas exportações nacionais, com uma participação de 0,5% no total.
O resultado deixa o Ceará, no cenário nacional, apenas atrás de Roraima, que apresentou uma queda de 25,1% nas exportações no mesmo período. Já quando se leva em conta apenas a região Nordeste, o Estado fica em 4º lugar. O primeiro é a Bahia (US$ 8,6 bi), seguida do Maranhão (US$ 4,4 bi) e Pernambuco (US$ 1,4 bi).
Se olharmos apenas para o mês de setembro deste ano, as exportações do Ceará apresentaram aumento de 6,9%, quando comparadas a agosto. Ou seja, na comercialização, o valor subiu de US$ 75,3 milhões para US$ 80,6 milhões. Já, no comparativo com o mês de setembro de 2023 (US$ 153,9 milhões), a queda foi de mais de 47%.
Os dados são do Ceará em Comex, relatório de inteligência comercial produzido pelo Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Procurada pelo Diário do Nordeste, a Fiec não disponibilizou especialista para comentar o estudo, tampouco os resultados do Estado.
Ainda conforme o estudo, os atrasos em processos de registro de exportação do setor de ferro e aço são um dos principais motivos dos resultados negativos. As exportações deste segmento somaram US$ 535,39 milhões até setembro de 2024, representando uma queda acentuada de 35,4% em relação ao mesmo período de 2023.
“O setor continua enfrentando atrasos na averbação dos registros de exportação, o que impacta diretamente o volume exportado”.
Estados Unidos seguem como o principal destino, com US$ 420,31 milhões, enquanto México (US$ 46,04 milhões) e Coreia do Sul (US$ 31,72 milhões) também se destacam entre os maiores importadores.
O sobe e desce dos produtos
Além do setor de ferro e aço, os de calçados e de frutas também possuíram papel determinante na queda das exportações cearenses, formando assim o “top 3” no recuo de resultados. Em comparação ao mesmo período de 2023, o setor de calçados apresentou uma queda de 27,9%, exportando US$ 145,70 milhões até setembro de 2024.
Para estes produtos, os Estados Unidos também são o principal mercado, com US$ 24,26 milhões, seguidos por Argentina (US$ 32,84 milhões) e Colômbia (US$ 11,59 milhões).
Já no setor de “Frutas; Cascas de Frutos Cítricos e de Melões”, as exportações totalizaram US$ 81,16 milhões, representando uma queda de 18,3% em relação ao ano anterior. Aqui vale ressaltar que é a exportação de melões que mais impulsiona as vendas para os Países Baixos (Holanda), com US$ 27,54 milhões, e Estados Unidos, com US$ 18,51 milhões.
Do lado positivo da balança de exportações, o setor que mais se destaca é o de algodão, com aumento de 36,1%, acumulando US$ 24,52 milhões em exportações até setembro de 2024. Colômbia e Paraguai permanecem como os principais destinos do produto.
O segundo segmento que mais exportou este ano é o de gorduras e óleos, com um crescimento expressivo de 32,5%. Composto exclusivamente pela cera de carnaúba, o valor vendido foi de US$ 62,06 milhões até o último mês de setembro. O maior mercado comprador é a China, com US$ 13,86 milhões, seguida pelos Estados Unidos (US$ 13,10 milhões) e Alemanha (US$ 12,13 milhões).
Para fechar o ranking dos três produtos melhor sucedidos nas exportações, aparecem os peixes e crustáceos, com crescimento de 16,5%, totalizando US$ 59,97 milhões. Estados Unidos (US$ 33,13 milhões), China (US$ 11,95 milhões) e Austrália continuam sendo os maiores mercados.
Quixeramobim tem resultado ruim por queda no setor de calçados
O município cearense que mais sentiu o recuo nas vendas para fora do país foi o de Quixeramobim, com 44,8%. O setor de calçados foi o principal motivo com redução de envio para os Estados Unidos, seu maior mercado. No mesmo ramo, Sobral, também apresentou uma diminuição de 13,5% - exportação de US$ 74,28 milhões até setembro de 2024.
Do total exportado pelo Ceará, São Gonçalo do Amarante foi o município com maior participação, 48,4% (totalizando US$ 566,92 milhões). Mesmo assim, se comparado com acumulado do ano em relação ao igual período de 2023, houve queda de 34,8%.
Itapipoca e Aquiraz também apresentam destaques negativos, com 28,6% e 27,5%, respectivamente, no setor de hortaliças e frutas.
Frutas, aço e negociações em dólar formam o cenário de recuo
Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, empresa que atua como despachante aduaneiro, reforça que a quebra na exportação do aço e a diminuição na produção de frutas (por diversos fatores), além da negociação em dólar, são os três pontos que considera fundamentais para se ter esse menor resultado nas exportações.
Ele lembra que a balança comercial do Brasil, no que diz respeito as vendas para fora, desde 1950 é pautada nas commodities e essas sofrem variações por diversos fatores. “Porém, vale lembrar que o dólar alto pode fazer com que se exporte menos em produto, mas se tenha um resultado maior em valor”.
A reportagem procurou os portos do Pecém e do Mucuripe, para comentar os resultados, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.