O pagamento de benefícios sociais durante a pandemia de Covid-19 no Ceará levou à redução da extrema pobreza no ano passado. De acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de extremamente pobres caiu de 12,9% para 9,3% no ano passado.
Já a proporção de pessoas pobres apresentou redução de 2,5 pontos percentuais ao passar de 43,1% em 2019 para 40,6% em 2020.
De acordo com a publicação do IBGE, "isso pode ser explicado pelos programas sociais dos governos locais e o Auxílio Emergencial concedido em um valor nacional único, dessa forma o impacto sobre a renda tendeu a ser mais expressivo".
Apesar dos efeitos dos benefícios sociais sobre a renda dos menos favorecidos, o Ceará ainda se destaca em desigualdade ante as outras localidades do País. O Índice de Gini do rendimento domiciliar per capita foi de 0,544 - o que coloca o Estado como o terceiro mais desigual do Brasil.
O dado representa, no entanto, redução na comparação com 2019, quando o índice era de 0,562.
Segundo o IBGE, o rendimento médio domiciliar per capita em 2020 foi de R$ 980 para o total da população cearense. No País, esse rendimento alcançou R$ 1.349 e, na região Nordeste, R$ 891. "Esse padrão de diferença nos patamares de rendimento domiciliar per capita pouco se alterou desde 2012", diz a instituição.
O professor Vitor Hugo Miro, coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que as disparidades na distribuição de renda no Ceará possuem razões históricas, relacionadas com a estrutura econômica do Estado e que o torna muito suscetível às flutuações econômicas no curto prazo.
"Ainda não é possível dizer se essa desigualdade aumentou ou diminuiu em 2021. E talvez ela dependa muito mais da retomada do mercado de trabalho do que da continuidade dos programas sociais"
Salário mínimo
Ainda segundo o IBGE, 17,4% da população cearense em 2020 (em torno de 1,6 milhão de pessoas) viviam com até 25% do valor do salário mínimo per capita mensal, o que representa cerca de R$ 261. Outros 44,7%, cerca de 4,1 milhões de pessoas, viviam com até 1/2 salário mínimo (cerca de R$ 522).
Mercado de trabalho
A publicação também traz informações sobre o comportamento do mercado de trabalho local durante a pandemia no ano passado. A desocupação e a subutilização, em patamares já elevados após a crise de 2015 e 2016, cresceram ainda mais em 2020, conforme o IBGE, alcançando 13,3% e 36%.
Enquanto isso, a ocupação teve forte queda e registrou pela primeira vez nível muito abaixo de 50%. "Dessa forma, mais da metade da população residente no Ceará em idade de trabalhar estava desocupada ou fora da força de trabalho em 2020", destaca o IBGE.
Impacto
Na avaliação de Vitor Hugo Miro os dados mostram a importância do Auxílio Emergencial para minimizar os impactos da recessão causada pela pandemia sobre a renda das famílias.
"Em 2020, as estimativas apontam 12 milhões de pessoas na extrema pobreza, o equivalente a 5,7% dos brasileiros. Em uma simulação realizada pelo próprio IBGE, sem o programa emergencial de transferência de renda teríamos mais de 27 milhões de pessoas na extrema pobreza, em famílias com renda média por pessoas inferior a R$155 por mês", pontua o professor.
Para o ano de 2021, ele acredita que, diante do cenário atual, as estatísticas no próximo ano mostrarão um impacto mais severo da pandemia sobre indicadores de renda e pobreza.
"O mercado de trabalho não mostrou recuperação em 2021, e o poder do governo para fazer transferências diminuiu. Vimos isso na versão 'reduzida' do Auxílio Emergencial", frisa Miro.