ONS aciona termelétrica no Pecém para garantir estabilidade do sistema elétrico do Brasil

Objetivo é suprir a demanda por energia com queda no volume dos reservatórios por chuvas abaixo da média

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) acionou a usina termelétrica Energia Pecém, movida a carvão, instalada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), em São Gonçalo do Amarante, no Ceará. Com capacidade instalada de 720 megawatts (MW), a estrutura ficará ligada por oito dias.

De acordo com a assessoria de imprensa do ONS, a usina tem operação temporária e ficará ligada até a próxima segunda-feira (26). A Energia Pecém está em funcionamento desde o último domingo (18).

Informações compartilhadas à reportagem pela empresa Mercurio Asset, que administra a usina, são de que o acionamento da termelétrica aconteceu para reforçar a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) em meio a chuvas abaixo da média nos principais reservatórios de hidrelétricas pelo País.

Ainda segundo a Mercurio Asset, está chovendo menos do que o esperado no Norte do Brasil, e a onda de calor no Sul e Sudeste em pleno inverno faz crescer a demanda por energia. Para corrigir as distorções, as termelétricas são acionadas, uma vez que fornecem a eletricidade necessária. 

A previsão é de que Energia Pecém produza, ao longo de oito dias, 93.240 megawatts-hora (MWh) e disponibilize a eletricidade no SIN. Para o ONS, a região Norte é fundamental para o abastecimento na "ponta de carga", isto é, em horários de maior consumo de energia no País.

Ações preventivas

Trata-se do segundo acionamento da Energia Pecém somente em agosto de 2024, segundo a usina. Ligar as termelétricas é visto pelo ONS como uma medida para proteger o abastecimento de energia nos meses finais de 2024.

Isso porque as hidrelétricas são responsáveis pela geração de 53,7% da energia do Brasil, de acordo com dados deste mês do Sistema de Informações de Geração (Siga) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mas a produção depende do nível dos reservatórios, que receberam, sobretudo na região Norte, menos chuvas do que o esperado.

Por isso que as termelétricas são ligadas pelo ONS. Como são usinas movidas a combustíveis - em geral fósseis -, o aporte de energia no SIN é imediato, suprindo a demanda na chamada "ponta de energia", ou seja, complementando parcialmente a energia gerada pelas hidrelétricas do Norte nos horários de pico de consumo.

“Dessa forma, para os períodos do dia de maior consumo de carga, que acontece à noite, especialmente, para os meses de outubro e novembro, o cenário exige a adoção de medidas operativas adicionais e de caráter preventivo”, recomendou o ONS na última reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), realizada no início de agosto.

Segundo o professor de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raphael Amaral, a ativação da térmica no Pecém, ainda que venha se tornando mais frequente, é uma forma de o ONS se antecipar para a demanda do final do ano, que cresce conforme o aumento das temperaturas.

O ONS tem três programas de acompanhamento: um com a programação diária, outro com a programação semanal e outro com a programação mensal. Quase que a gente entra em uma bandeira amarela porque não tinha vindo água suficiente, mas parece que nos últimos dias, alguns reservatórios conseguiram se encher e a bandeira amarela não entrou em ação. Está se prevendo que vai se haver uma certa seca, mas para preservar um bom montante de água, o ONS pega e aciona as térmicas.
Raphael Amaral
Professor de Engenharia Elétrica da UFC

Apesar do acionamento das térmicas e da preocupação com o nível dos reservatórios hídricos, o ONS garante não haver problemas no atendimento de energia e que o SIN está com recursos suficientes para atender à demanda.

Atualmente, o nível de Energia de Armazenamento (EAR) dos reservatórios do subsistema Norte está em 80,96%. Em agosto de 2023, a EAR do subsistema Norte estava em 85,6%, de acordo com o ONS.

Conta de energia não deve ficar mais cara

A ligação das térmicas, pelo menos neste primeiro momento, não deve implicar na ativação das bandeiras tarifárias amarela ou vermelha. Após a primeira ter sido acionada em julho, o nível dos reservatórios melhorou, e em agosto, voltou para a bandeira verde, sem cobranças adicionais na conta de energia.

O órgão regula as bandeiras tarifárias é a Aneel. A decisão de retomar a bandeira verde pela agência foi em virtude do volume de chuvas na região Sul em julho, que foi suficiente para dar segurança hídrica aos reservatórios do subsistema.

Outro ponto é que a geração de energias eólica e solar está abaixo da capacidade após determinação de "curtailment" pelo ONS. Para evitar sobrecargas nas linhas de transmissão pela alta produção dos dois tipos de eletricidade, que são caracterizadas pela intermitência na geração, o operador opta por estabelecer um limite de quanto cada um dos modais pode gerar, equilibrando o sistema.

Isso acontece principalmente desde 15 de agosto de 2023. Naquela data, uma queda de tensão causou o desligamento da linha de transmissão Quixadá-Fortaleza II. Uma "atuação indevida" do sistema de proteção causada por uma falha no desempenho de usinas eólicas e solares foi relatada pelo ONS como principal causa que culminou no apagão que afetou todas as unidades federativas do Brasil, exceto Roraima, que ainda não é interligada ao SIN.

curtailment foi criticado por empresas do setor de energia, que reclamam que o problema da sobrecarga deve ser resolvido com atualizações no sistema de linhas de transmissão, bem como outras ações, como o armazenamento de eletricidade, ainda não regulamentado no País.

Ainda conforme a Mercurio Asset, a Energia Pecém "planeja participar do próximo leilão de contratação de reserva de capacidade convertendo o empreendimento para gás natural. O leilão é previsto pelo Governo Federal para ocorrer ainda este ano".

*Com informações da Agência Brasil.