Iniciativa buscará 15 empresas de impacto para investimentos de R$ 300 mil no Norte e Nordeste

Projeto, articulado pela Somos Um, busca fortalecer o mercado na região e gerar oportunidades de financiamento para empresas em crescimento no setor

Empresas de impacto das regiões Norte e Nordeste poderão ser selecionadas para receber financiamentos de cerca de R$ 300 mil em uma nova iniciativa organizadas por corretoras especializadas no setor e articulada pela Somos Um. O projeto tem o objetivo de fortalecer esse mercado no Nordeste, que já contou com evento para discussão do tema na última terça-feira (28): o "O que seu dinheiro financia?". 

Francisco Vicente, diretor de investimentos da Yunus Negócios Sociais, integrante do Conselho Consultivo da Ande Brasil e professor de empreendedorismo social, explicou que o objetivo é atrair empresa que estejam em crescimento no mercado e com estratégias sólidas de impacto social ou ambiental. A iniciativa deverá fortalecer o mercado e gerar opções de retorno financeiro e social para os investidores, que poderão se identificar com a proposta destes negócios. 

"Temos uma plataforma chamada Zunne, debaixo do braço da Trê Investindo com Causa, e o foco é empréstimo coletivo para empresas impacto no Norte e Nordeste, em setores de educação, saúde, gestão de resíduos. Vamos abrir um chamado para essas empresas e o objetivo é investir em 15 empresas um ticket médio de R$ 300 mil. Essas empresas têm de ter uma vivência, uma receita, e uma base de clientes, com faturamento mínimo anual de R$ 400 mil reais, e que consigam pegar empréstimo para crescer e conseguir repagar", disse.

Vicente ainda destacou que todo investimento possui impacto, mas entender os planos das empresas onde se aloca recursos pode gerar um diferencial maior na sociedade. 

O investidor quando olha para um investimento, analisa o retorno que pode dar, o risco, e qual a liquidez. A gente gosta de trazer o aspecto do impacto. Todo investimento tem algum impacto, negativo ou positivo. Quando você investe em uma mineradora, uma empresa de armas, isso vai ter um impacto, então é preciso pensar o que você quer financiar"
Francisco Vicente
Diretor de investimentos da Yunus Negócios Sociais

"Quando se coloca no CDB, você empresta para um banco, mas com esse projeto você pode estar financiando empresas na sua região. E quando você receber o relatório, você vai ver o impacto também, com fotos e dados do impacto. A gente gosta de olhar a receita e o que se gera de emprego e acesso a bens e serviços para as populações mais desfavorecidas", completou.

Investimentos de impacto

Marcos Pedote, cofundador e diretor da Trê Investindo com Causa, conselheiro de empresas e C-lev por dez anos no mercado financeiro, explicou que a lógica coletiva é que deve servir como base para o financiamento dos negócios de impacto. Ele também reforçou que a melhor maneira de se aproximar desse mercado de investimentos de impacto é buscar essas plataformas de empréstimo coletivo.

"O melhor caminho para se aproximar dos investimentos de impacto é se aproximar de uma plataforma de empréstimo coletivo. São negócios que querem pedir dinheiro emprestado e nosso grupo faz uma curadoria desse negócio, se é de impacto, qual o impacto ambiental que ele está gerando, olha o fluxo de caixa, e oferece para os investidores para escolher se a pessoa quer participar desse empréstimo coletivo de R$ 300 mil", disse.

O diretor da Trê também destacou que os investidores podem entrar nesse mercado com as mais diversas quantias, evoluindo e diversificando as opções.  

É um empréstimo como se as pessoas fossem o banco e a pessoa escolhe quanto, então a partir de R$ 10 você já pode participar. Alguém pode querer entrar com R$ 200 mil, enquanto outra pessoa pode ser só um jovem que quer viver uma experiência de ser parte desse movimento e entra com R$ 10 reais"
Marcos Pedote
Cofundador e diretor da Trê Investindo com Causa

Retorno além do financeiro

Sobre o retorno dos investimentos de impactos ambos os especialistas destacaram que essas opções trazem muito mais do que ganhos financeiros. Além dos relatórios de pagamentos, investidores recebem dados e fotos sobre o impacto social gerado na comunidade onde essa empresa está inserida, seja uma região da cidade ou outra localidade específica. 

Contudo, o retorno marcado como objetivo pelos gestores dos ativos é de 10%, ficando acima do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação no País. Apesar da perspectiva de ganhos, Francisco destacou que é preciso considerar o risco desses investimentos. 

"O objetivo que a gente coloca como retorno para o investidor é de 10% ao ano. Quando a gente olha o IPCA, hoje, ele está em torno de 5% e 6% e a projeção está em torno disso, então estamos falando o dobro do retorno do IPCA. Obviamente, se tem risco, porque você vai emprestar para uma empresa. Vamos fazer toda a análise de crédito, mas tem um risco desse dinheiro não voltar, então a gente sugere uma diversificação, alocando em mais de uma empresa", explicou.

Mercado no Ceará 

Sobre a evolução desse mercado no Ceará, Marcos Pedote disse que ainda há espaço para crescer, considerando haver uma dominância das regiões Sul e Sudeste. Mas as iniciativas cearenses, puxadas também pela Somos Um têm colocado o Estado em um patamar de liderança do processo de evolução do mercado no Nordeste. 

"Hoje, é muito concentrado no Sul e no Sudeste, mas eu vejo com muita alegria todo o movimento que está acontecendo no Ceará. É muita coisa e o Ceará está trazendo a coalizão pelo impacto para a construção de um ecossistema de impacto, e a Somos Um está puxando esse processo. Eu tenho visto que o Ceará tem buscado um papel de protagonismo no Brasil e eu acredito muito nisso", disse.