Diante da crise, o empreendedorismo veio como alternativa de renda. No entanto, o formato adotado pela maioria foi da informalidade. Os números de pessoas que trabalham por conta própria no Estado, por exemplo, seguem expressivos diante dos com CNPJ. São 897 mil contra 107 mil, conforme dados do segundo trimestre deste ano da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A razão, conforme o economista Alex Araújo, é que essas pessoas acabaram enxergando a situação como temporária e preferiram não lidar com os custos de uma empresa, principalmente relacionados aos impostos e contribuições, como ICMS, COFINS, PIS/PASEP, entre outros. Mas, há um preço caro para a economia nos dois lados da balança: profissional e mercado.
Em uma ponta está a competitividade desleal entre o informal e quem está regulamentado como pessoa jurídica. "Empresas já estabelecidas formalmente acabam sendo prejudicadas nos seus resultados. Um exemplo é o mercado de confecções. As lojas instaladas como vão concorrer com um informal, que está em frente a sua loja, vendendo por vinte reais, quando você não consegue vender uma (roupa) de oitenta, para ter resultado, porque tem que pagar aluguel, funcionários. Então impacta na economia das empresas. O mal é geral. Não é bom para ninguém. É apenas um paliativo", destaca Freitas Cordeiro, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará. Fora isso, entra a questão de arrecadação para o Governo e, segundo Alex, o estímulo para criação ou manutenção de transações clandestinas, "como venda de produtos roubados e falsificados". "O fato de existir esses estabelecimentos informais é o que dá vazão para que esses produtos saiam no mercado".
Na outra ponta
No outro lado da balança, está o profissional limitado no crescimento da empresa. "Um empreendedor que tenha uma atividade informal sempre vai ser enxergado como pessoa física e não consegue recursos de valor maior para investimento", explica Freitas.
Tornando-se empresa, mais dinheiro é injetado na compra de produtos, reforma de estrutura física e nova contratação de funcionários. "O crédito é como sangue na veia. Sem ele o organismo não funciona. O comércio precisa também desse fortificante, desse tônus para as alterações entrar na normalidade", completa.
Para completar, tem a questão do futuro, tanto de reserva para questões de doença, como em casos de desemprego e aposentadoria. "Infelizmente, temos a cultura de pensar a curto prazo. O grande ganho é a questão previdenciária, de construir uma possibilidade de renda na aposentadoria, para não ficar sempre dependendo da renda do dia", pontua Alex.
Segundo Freitas, não é complicado formalizar-se. Há mais uma cultura da burocracia do que realmente é. "Não é apenas chegar e fazer. Tem um caminho, mas não é tão complicado", enfatiza.