Está faltando só a energia elétrica para que o calçado norte-americano Crocs possa ser fabricado aqui no Ceará. A Rubberloss, empresa gaúcha com unidade em Canindé, no Sertão Central, espera desde o final do ano passado a ligação da luz por parte da Enel. No local, o parque fabril já instalado aguarda a chegada da energia para que 250 pessoas que trabalharão na produção sejam contratadas e treinadas.
Segundo o diretor da Rubberloss, Rafael Loss, o maquinário chegou em dezembro do ano passado. Após o período de férias coletivas, a empresa fez a instalação de todas as máquinas do novo parque fabril, exclusivo para a fabricação de linhas da Crocs e, em fevereiro, "tudo estava pronto, aguardando a energização".
"Todo mundo pergunta na cidade, porque tem a expectativa do emprego, mas não tem como a gente dar um prazo de contratação, se não tem energia nas máquinas."
Rafael explica que a marca norte-americana tem processos de auditoria e treinamentos para a fabricação dos produtos. E, para tentar amenizar os prejuízos das máquinas paradas, a Rubberloss está construindo uma estrutura para a instalação de dois geradores de energia, para poder dar a partida na fabricação dos calçados ainda este mês. "Esta é a solução encontrada neste momento. Teremos mais custos, mas deixar a linha parada é um prejuízo ainda maior".
Questionado sobre o prazo que a Enel teria dado, o diretor da Rubberloss diz que a concessionária de energia, desde janeiro deste ano, vem prorrogando o prazo para fazer a ligação. "Eles dão prazo sistematicamente. Era janeiro, prorrogaram para fevereiro. Era fevereiro, prorrogaram para março, que foi para o início de abril e, agora, está para o início de maio."
Rafael ainda destaca que após ligada a energia elétrica tem todo o "processo de homologação desta unidade da Crocs e isso também vai demorar".
"Não tinha como convidar a marca para fazer a visita e olhar os processos, sem o parque estar funcionando e sem as pessoas estarem treinadas. Neste processo a Crocs estabelece os requisitos para podermos fabricar os produtos e estamos usando a experiência que temos da unidade do Rio Grande do Sul, para adiantar o processo daqui. Só que eu não tenho como ensinar as pessoas de fato a fazer o produto apenas na teoria e aí voltamos para o ponto que a energia é fundamental para darmos start em todo o processo", reforça o diretor.
Investimentos parados
Apenas em maquinário a Rubberloss tem o investimento de R$ 10 milhões que estão parados. Porém, se contabilizado o projeto, a obra e o restante da infraestrutura, o valor chega aos R$ 14 milhões, oriundos de um financiamento feito com o Banco do Nordeste (BNB), e com uma contrapartida de R$ 627 mil, em um convênio firmado com a Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece) e a Prefeitura de Canindé.
Ao todo, a ampliação física foi de 3 mil metros quadrados, aumentando o espaço total de 6 mil m² para 9 mil m². O maquinário para a injeção e produção de compostos de EVA foi importado da China e de Taiwan. Os equipamentos da Ásia chegaram via Porto do Pecém e levados em comboio por 14 carretas até a fábrica em Canindé.
O parque industrial tem capacidade para produzir 120 mil pares de calçados por mês, em dependência da demanda na marca.
O que dizem os envolvidos
Procurada pela reportagem, a Enel Distribuição Ceará, em nota, informou que "se trata de uma obra de grande porte, com um acréscimo de carga significativo para a região, e que está trabalhando internamente para viabilizá-la". "A distribuidora esclarece ainda que já está em contato com o cliente para, conjuntamente, avaliar o cronograma de ampliação de potência da fábrica e disponibilidade de carga na subestação local".
O Diário do Nordeste também procurou a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), que por meio da nota, afirma que até esta quarta-feira (10), não foi informada sobre a falta de energia nas instalações da empresa Rubberloss no município de Canindé.
Quem é a Rubberloss
A Rubberloss, além de ser a única empresa autorizada a fabricar a marca Crocs no Brasil, também fabrica solados de termoplástico e PVC, saltos e tacos destinados ao segmento calçadista feminino, solados e cabedais de TPU, solados de EVA expandido para tênis de corrida, composto de EVA para mercado interno e toda a América do Sul, solados de borracha vulcanizada para o mercado esportivo e viras de borrachas vulcanizada para mais agilidade e eficiência no desenvolvimento de calçados.
Atualmente, a fábrica no Ceará gera 700 empregos diretos e segundo o diretor da Rubberloss, Rafael Loss, com a expansão a intenção é que se chegue em torno de mil pessoas empregadas. Esta ampliação da sede e se produtos no Ceará já estava sendo planejada há pelo menos quatro anos.