O Ceará alcançou um novo recorde nos resultados de financiamento imobiliário em 2021. O Estado encerrou o ano com R$ 3,35 bilhões na modalidade, um crescimento de mais de 66% em relação ao obtido em 2020 (R$ 2,01 bi).
O valor é o maior da série histórica iniciada em 2014, segundo balanço da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) divulgados nesta quinta-feira (27).
O número de unidades vendidas no Estado mais do que dobrou no período e atingiu 15.527 no ano passado.
Em todo o ano de 2021, o mercado do crédito imobiliário se manteve fortemente estável. Ao longo dos meses, os valores financiados variaram apenas de R$ 202,5 milhões a R$ 309,1 milhões.
No ano anterior, por exemplo, o intervalo foi de R$ 76,1 milhões a R$ 413,8 milhões, segundo a instituição.
Em termos de número de imóveis, o Ceará financiou mais de 1 mil unidades em quase todos os meses de 2021, com exceção de fevereiro, quando foram registrados 872 financiamentos. No mês seguinte, no entanto, foram assinados 1.552 contratos, o pico do ano.
Em 2020, somente o mês de dezembro (1.317) ultrapassou a marca dos mil imóveis financiados.
Fim de estoque e juros baixos
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinducon-CE), Patriolino Dias, explica que o resultado foi impulsionado pela venda das últimas unidades de um estoque mais antigo, associada com as baixas taxas de juros.
Ele detalha que entre 2012 e 2014 foram lançados um número significativo de empreendimentos, que foram entregues entre 2018 e 2020 e ainda não tinham sido completamente vendidos por uma superoferta do mercado.
"O mercado estava encharcado naquele momento, com juros altos. Então, quando as taxas baixaram, as pessoas aproveitaram para comprar esses imóveis prontos e atingir o sonho da casa própria", explica.
Expectativa para 2022
Para 2022, Dias pontua que o mercado continua muito bom, especialmente para os segmentos do programa Casa Verde e Amarela (antigo Minha Casa, Minha Vida), segunda moradia e empreendimentos de alto padrão.
"Esses nichos estão com muitos lançamentos e uma boa velocidade de vendas", afirma o presidente do Sinduscon-CE.
Entre as preocupações para este ano estão a continuidade da elevação da taxa básica de juros, a Selic, que pode acabar puxando as taxas do crédito imobiliário e o aumento no preço dos insumos.
No caso da inflação, Dias pontua que esse ritmo já começa a diminuir, mas que ainda podem haver repasses para o consumidor final, elevando o preço dos imóveis.
Ainda assim, ele acredita em bons números para o mercado cearense ao longo do ano, especialmente com a baixa nos estoques. Com menos unidades disponíveis, abrem-se oportunidades para novos lançamentos para suprir a demanda constante.
Em 2021, ele revela que o Estado alcançou a marca de R$ 3,5 bilhões em Valor Geral de Venda (VGV) de lançamentos, número que deve se repetir neste ano.
Cenário nacional
O otimismo é endossado pelo presidente da Abecip, José Ramos Rocha Neto. Ele revela que o Brasil deve atingir a marca dos R$ 260 bilhões em financiamento em 2022. O valor é cerca de 2% maior que os R$ 255 bilhões registrados em 2021, o recorde da série histórica.
Apesar da boa perspectiva, Rocha se mostrou mais preocupado com a influência da conjuntura econômica e política sobre o desempenho do mercado ao longo do ano. Segundo ele, é impossível desassociar os dois fatores.
Quando a gente olha pro PIB de 2022, as projeções são unânimes em dizer que a gente vai ter um PIB menor que o de 2021. Eu também associaria a questão da confiança. Quando se tem momentos de desconforto, como devemos ter pela polarização de um ano eleitoral, pelas questões fiscais, isso faz que o investidor retraia a decisão da compra de um imóvel"
Apesar disso, ele ressalta que a segurança jurídica da modalidade e a baixa taxa de inadimplência (em 1,5% em 2021), assim como o ainda alto déficit habitacional, devem contribuir para um ano positivo.
Sobre o mercado do Nordeste, Rocha lembra que na última crise do setor imobiliário a Região sofreu um pouco mais em relação ao Sul e Sudeste, mas que, olhando para frente, há potencial e capacidade para os mesmos níveis de crescimento que as duas regiões dominantes no segmento.