Financiamento imobiliário no Ceará cai mais de 19% no ano; entenda o motivo

Segundo a Abecip, neste ano, foram financiados apenas 10,4 mil imóveis no Estado

O número de financiamentos de imóveis com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) caiu 19,7% no Ceará, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Os dados consideram o comparativo do acumulado deste ano até outubro ante igual período em 2021. Neste recorte, o volume de unidades financiadas reduziu de 13 mil para 10,4 mil. 

Redução nos valores negociados

Em valores, o montante negociado passou de R$ 2,7 bilhões para R$ 2,5 bilhões, totalizando queda de 7%. Veja como ficou:

Nº total de unidades vendidas:

  • Outubro 2021: 13.020;
  • Outubro 2022: 10.447;
  • Queda de 19,7%.

Total de valores em financiamento pelo SBPE:

  • Outubro de 2021: 2.786.629.403;
  • Outubro de 2022: 2.569.184.569;
  • Queda de 7%.

Neste ano, o pior mês de vendas foi em abril. 

Os números contabilizam apenas as contratações feitas com recurso da poupança. Portanto, não englobam  financiamentos no âmbito do Casa Verde e Amarela (CVA).

O economista e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Ricardo Coimbra, avalia que a diminuição do ritmo de empréstimos esteja relacionada à elevação da taxa de juros e às instabilidades econômicas.   

“A Selic vem se mantendo elevada em função da necessidade do controle do processo inflacionário. Isso gera um pouoco de incertezas e de retração das pessoas em contrair empréstimos e financiamentos no longo prazo”, observa. 

Endividamento das famílias

Outro fator, acrescenta, é o crescimento do endividamento das famílias, que acabaram adiando o sonho da casa própria. 

Para a Abecip, a inflação elevada também comprometeu a capacidade de parte da população em constituir reserva financeira.

Além disso, aponta a entidade, a Selic em patamar historicamente elevado amainou a competitividade dos rendimentos da poupança frente aos demais investimentos. 

Em todo o País, as contratações somaram R$ 14,7 bilhões em outubro de 2022, indicando queda de 8,8% em relação a setembro e de 14,2% comparado a outubro do ano passado.

Apesar da redução no volume financiado, foi o segundo maior valor para um mês de outubro na série histórica.  

O que esperar para 2023?

Para Coimbra, essa conjuntura econômica deixou os consumidores mais cautelosos. Contudo, é necessário esperar os direcionamentos do novo governo para avaliar se o cenário será favorável para a compra da casa própria. 

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon Ceará), Patriolino Dias de Sousa, aponta que a proximidade das eleições também influenciou no resultado de queda.

“Mas a tendência é de estabilização após o período eleitora e de retomada do crescimento. Passamos bons períodos sem lançar e retardando os novos empreendimentos devido à pandemia”, disse.

Portanto, os estoques estão baixos e deveremos ter melhora em todos os segmentos em 2023, sobretudo, para nichos da classe média e alta que não tiveram lançamentos e agora as pessoas já estão procurando”
Ricardo Coimbra
Economista e professor da Uece

Em relação aos juros em 2023, o mercado elevou a estimativa de 11,25% para 11,50%, conforme relatório Focus, divulgado nesta segunda-feira (21) pelo Banco Central.

Em outubro último, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa básica em 13,75% ao ano. O próximo encontro dos analistas ocorrerá nos dias 6 e 7 de dezembro.