Exportações têm novo fôlego com dólar mais alto

Indústria calçadista do Ceará foi uma das mais beneficiadas, pois girou US$ 21,3 mi nos dois primeiros meses do ano

Na última sexta-feira (13) o dólar voltou a fechar em forte alta em relação ao real, subindo 2,77% e atingindo o patamar de R$ 3,249, o maior valor de fechamento desde abril de 2003, segundo dados do Banco Central. Se por um lado a forte pressão cambial prejudica as empresas que atuam com importação e com o mercado interno, por outro, ela pode dar um certo gás para as exportações, já que os produtos brasileiros ficam mais baratos no mercado internacional, elevando a competitividade em relação aos artigos de outros países, especialmente da China.

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Um indício do impulso que a valorização da moeda norte-americana acaba dando para as exportações pode ser visto no comportamento da própria balança comercial cearense. Isso porque, segundo o sistema AliceWeb, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o setor calçadista do Estado, bastante prejudicado ao longo de 2014 com a concorrência chinesa, voltou a ganhar fôlego entre janeiro e fevereiro deste ano, alcançando o topo do ranking dos produtos mais exportados pelo Ceará.

Segundo o MDIC, as exportações cearenses de calçados de borracha ou plásticos, com parte superior em tiras ou correias, fixados à sola por pregos, tachas, pinos e semelhantes girou US$ 21,3 milhões entre janeiro e fevereiro de 2015, ficando acima, inclusive, do fuel oil (US$16,2 milhões), que passou o ano passado praticamente todo no topo do ranking. Além disso, a categoria "outros calçados cobrindo o tornozelo, parte superior de borracha, plástico" apareceu na terceira posição entre os itens cearenses mais comercializados com outros países (US$ 15 mi).

"Se o Brasil tivesse uma carga tributária semelhante aos demais países como o Chile, as nossas exportações estariam passando por um momento maravilhoso, pois o desempenho do dólar é promissor para estas empresas. O problema é que o chamado custo Brasil nos impede de crescer tudo aquilo que poderíamos", pontua o superintendente do Centro Internacional de Negócios (CIN), Eduardo Bezerra.

Segundo ele, além dos efeitos do dólar, um fator que pode ajudar as exportações do setor calçadista cearense ao longo de 2015 é a própria qualidade do produto, que tem sido cada vez mais reconhecida internacionalmente. "O calçado do Estado é mais caro do que o chinês, porém mais barato que o produzido em São Paulo. Ele possui uma demanda muito boa e a qualidade é um fator preponderante", diz.

Equilíbrio

Se as exportações cearenses de fato foram impulsionadas ao longo de 2015, há uma certa esperança de que o déficit da balança comercial do Estado seja reduzido, já que a mesma fechou 2014 com um saldo negativo de US$ 1,5 bilhão. No ano passado, os produtos exportados somaram US$ 1,4 bilhão, e os importados totalizaram US$ 3 bilhões.

Para que desempenho das exportações melhore significantemente, porém, autoridades e especialistas em comércio exterior afirmam que a valorização do dólar ante o real precisa estar aliada à estabilização no câmbio para permitir planejamento das operações de vendas no exterior, o que ainda não ocorreu.

Prova disso é que a balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 2,842 bilhões no mês passado, pior resultado para meses de fevereiro da série histórica, iniciada em 1980, influenciada por queda nas exportações em todas a categorias de produtos, com destaque para minério de ferro, petróleo e soja. Com a estabilização do câmbio, essa situação pode mudar. 

Áquila Leite
Repórter