Discrepância de preços de frutas e hortaliças no atacado e no varejo chega a 370%

Consumidor deve levar em consideração critérios como gastos de locomoção e tempo na hora de ir em buscas de descontos

A diferença nos preços de alimentos praticados no atacado e no varejo pode ter grande impacto sobre o orçamento dos consumidores. O quilo do mamão, por exemplo, pode quase quintuplicar no caminho entre o fornecedor e o supermercado, de acordo com as pesquisas de preços divulgadas ontem (28) pelo Departamento Municipal de Proteção e Defesa dos Direitos do Consumidor (Procon Fortaleza) e pela Central de Abastecimento do Ceará S/A (Ceasa-CE). 

Na Ceasa, o quilo do mamão pode ser encontrado por R$ 0,70 e, nos supermercados, o mesmo item pode custar R$ 3,29, uma variação de 370%. Segundo o economista, Alex Araújo, os preços entre atacado e varejo normalmente tendem a seguir as mesmas projeções.

Quando o preço aumenta no atacado, automaticamente o varejo faz a correção se precavendo contra isso, quando os preços caem o consumidor leva um pouco de tempo. Normalmente, isso só acontece quando a concorrência se acirra, para que os preços sejam repassados com benefícios ao consumidor”, aponta.

Ele destaca que os varejistas muitas vezes se beneficiam da desinformação por parte dos consumidores e mantém os preços em patamares mais elevados. No entanto, ele ainda ressalta que o consumidor deve levar em consideração no orçamento os gastos de tempo e deslocamento para conferir se vale a pena comprar na Ceasa.

Além do mamão, outros itens que apresentam grandes variações de preços são a cebolinha-maço (298%), coentro-maço (298%), abacaxi (71,14%), banana-prata (99,67%), laranja-pêra (89,58%), alho (61,36%), batata-inglesa (49,75%), cebola-pêra (77,33%) e a cenoura (62,57%).

Supermercados

De acordo com Nidovando Pinheiro, vice-presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), os supermercados nem sempre são abastecidos pela Ceasa, o que também explica a diferenciação dos preços.

O supermercados realizam dias de ofertas ao longo da semana e, os descontos oferecidos nesses dias podem se equiparar aos preços da Ceasa”, comenta. 

Ele ainda ressalta que nesses dias de ofertas os descontos podem variar de 10% a 40% e, a depender do período de safra, alguns produtos podem ter preços ainda mais atrativos.

No ponto de vista do economista, Alex Araújo, os dias fixos de ofertas no varejo é uma estratégia que ajuda a fixar a marca das lojas, reduzir a sazonalidade dentro desse setor e elevar as vendas.

“Dificilmente você não vai ao supermercados para comprar apenas um item, devido a pressão do tempo, locomoção, dificuldade de estacionamento, tempo da fila, o consumidor aproveita o item que está em promoção e compra mais algum item que não esteja. Então, isso termina sendo uma estratégia de alavancar vendas”, avalia.

Valores na Ceasa

Devido às chuvas no Estado e as boas colheitas houve uma redução nos preços de frutas e hortaliças, segundo a Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa). Para Odálio Girão, analista de mercado da Ceasa, o produtor tem que colher mais rápido no período de chuvas para não ter prejuízos - logo, com a alta oferta, os preços caem.

“Nesse período de começo de ano, com as chuvas, o produtor tem que colher esses produtos, pois se deixar um tempo maior nos pomares, ele pode acabar tendo um prejuízo. Tanto o mamão, o melão, a melancia como acerola estão com bons preços”, comenta.

Odálio ainda pontua que alguns itens, como o maracujá, que estavam em alta, já apresentaram redução de até 10% em seu valor final nesse começo de ano. Em relação, ao preço de produtos importados, como maçã e uvas, o analista de mercados observa que os preços estão estabilizados.

O que vale mais a pena?

Na hora de buscar economizar, não é apenas o preço do produto em si que deve ser levado em consideração: o consumidor deve levar em custos com deslocamento e gasto de tempo. 

A equação crítica, principalmente em Fortaleza, é que que a locomoção tem algumas complexidades, então ir até a Ceasa compensa se o consumidor tiver disponibilidade de tempo para isso”, analisa Araújo. 

Na visão do economista, dificilmente vale a pena fazer compras para uma única família na Ceasa. “É muito difícil entrar no calendário do consumidor uma ida até a Ceasa, porque o consumo de uma única família é relativamente pequeno. De reunir com outras pessoas para compras maiores vale mais a pena nessa questão do preço”.