Diante da crise, redes de moda reduzem investimento

Com os clientes das classes C e D como principais impulsionadores do consumo, marcas tornam-se mais sensíveis aos altos e baixos da economia

Uma das grandes vítimas da queda na confiança do consumidor, o varejo de moda se adapta à realidade econômica de 2015 com redução dos investimentos e da expansão de novas lojas, além do fechamento de algumas unidades. Com mais de cem lojas no País, a rede Avenida, fechou cinco neste ano e pretende aumentar presença on-line.

"O apetite de nossos clientes para compras está menor. Nosso público é predominantemente classe C e D e sente no bolso qualquer variação nas despesas domésticas causadas, especialmente, pelo aumento da inflação", segundo Luiz Francisco Saragiotto Jr, diretor da empresa.

A rede, que abriu 20 novas lojas e ampliou 12 unidades em 2014, com investimento de R$ 100 milhões, planeja, para 2015, só três novas unidades e três reformas, com cerca de R$ 20 milhões.

Para Luis Ildefonso, diretor da Alshop, os planos de expansão ainda existem, mas estão contidos. "O empresário já está ciente de que nos próximos meses a coisa deve andar em velocidade lenta."

A bandeira Renner, que abriu 31 novas lojas em 2014, para este ano prevê de 25 a 30. Seu diretor financeiro, Laurence Gomes, avalia que a crise será uma "seleção natural" para os competidores.

A rede Marisa chegou a fechar pontos em 2014, mas encerrou o ano com saldo de nove lojas a mais. Para 2015, há "quatro novas lojas confirmadas e estão abertos a possibilidades", informa a empresa.

Semana de moda

O cenário se reflete em eventos consagrados do setor, como a Fashion Rio, semana de moda carioca que neste semestre foi novamente suspensa, como já havia ocorrido em 2014. A Firjan (federação das indústrias do RJ), dona da marca Fashion Rio, comenta que o evento está sendo "repensado".

"A revisão foi um pedido do mercado, empresários e sindicatos. Está em estudo um novo formato, mais competitivo para as empresas", informa a entidade.

Para Humberto Rebonato, diretor da Agadê, que organiza eventos do setor, "os confeccionistas em geral estão sofrendo, tanto varejistas como atacadistas, mas a moda premium, mais elitizada, ainda está em melhor situação que a linha popular".

Entre as marcas menos populares, porém, também houve fechamentos e sinais de crescimento mais contido. O volume de novas lojas da Restoque, que reúne nomes como Dudalina, Rosa Chá e John John, foi de 37 unidades no ano passado, mas deve ficar em torno de 30 neste ano.

Nos shoppings, quem agora puxa o crescimento não é o setor de moda, diz Glauco Humai, presidente da Abrasce, associação de shoppings.

"O crescimento do segmento de lazer no acumulado do ano em janeiro e fevereiro foi de 26,46%. O de vestuário foi de 2,9%", diz.

Para Douglas Carvalho, da Target Advisor, especialista no setor, "a crise do varejo hoje é mais uma crise de confiança do que econômica".

"As pessoas estão prorrogando suas atitudes, deixando de fazer as compras porque não sabem se vão ter emprego na semana que vem. A cadeia toda sofre porque o consumidor sumiu", diz.

Dentre as onze lojas que estavam com portas fechadas recentemente no shopping Penha, varejo tradicionalmente frequentado pela classe média em São Paulo, cinco eram do vestuário.