Da Aba Film aos carros da Gurgel: relembre empresas antigas que marcaram Fortaleza

Empreendimentos, marcas e produtos que já não existem perpassam a história da cidade, com itens que ficaram na memória

Diversas empresas que marcaram a história de Fortaleza fecharam as portas ao longo dos anos. Dos locais que eram de convívio cotidiano, hoje sobra a memória nos livros e páginas de jornais. 

O estado teve empreendimentos importantes, como a primeira fábrica de veículos completamente nacional, a Gurgel Veículos. Também acumulou negócios marcantes na indústria têxtil, como a Têxtil Thomaz Pompeu e a Vilejack Jeans. 

Alguns sabores fortalezenses ainda ficam na memória, como o do Guaraná Wilson, do Café Guimarães e do sorvete Gelatti. E quem não lembra de ir a uma Aba Film para fazer um retrato?

Relembre abaixo um pouco dessas empresas que foram importantes para a história da cidade. (E veja neste link outra matéria nostálgica, focada na memória de lojas do comércio de Fortaleza, como Paraíso e Mesbla).

Gurgel Veículos 

O Ceará recebeu em 1991 a primeira fábrica de veículos completamente nacional. A empresa paulista fundada pelo engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel chegou ao Ceará após anos de negociações com o governo do estado, que se iniciaram em 1988. 

A experiência, apesar de revolucionária, não foi bem-sucedida. Após problemas financeiros, incluindo dívidas trabalhistas, queda gradual da produção e dos lucros, a justiça de São Paulo decretou em 1994 a falência da Gurgel Motores, de Rio Claro (SP), e da Gurgel Brasil Indústria e Comércio de Veículos Ltda, situada em Eusébio (CE). 

Apesar de instalada, a fábrica cearense nunca chegou a entrar em atividade. Segundo reportagem do Diário do Nordeste em 1996, a falência deixou um rombo de US$ 3,5 milhões para o Banco do Estado do Ceará (BEC), que havia financiado o empreendimento.  

100% nacional, a Gurgel produziu modelos como o BR-800, primeiro carro completamente desenvolvido e fabricado no Brasil, o Xavante e o Carajás.

Siqueira Gurgel (Sabão Pavão)

Fabricante do Sabão Pavão, do Óleo Pajeú, do sabonete Sigel e da gordura de coco Cariri, a Siqueira Gurgel foi quase centenária. A fábrica começou em 1915, inicialmente na Praça da Estação e depois mudou o prédio para o bairro Monte Castelo

Conforme reportagem do Diário do Nordeste em 1999, o empreendimento, inclusive, marcou o surgimento do bairro, que inicialmente era formado sobretudo por operários da fábrica. Além dos produtos fabricados, a empresa de Bernardino Plácido Proença e Diogo Vital de Siqueira teve até um time de futebol, o Usina Ceará Atlético Clube.  

A fábrica acabou em 1999, quando o prédio foi demolido para a construção de um Hiper Bompreço. 

Bancesa 

Criado em 1927 em Sobral pelo bispo dom José Tupynambá da Frota, o Banco do Ceará (Bancesa) foi à falência em 1995. A instituição financeira chegou a ter 28 agências em todo o país, sendo dez delas no Ceará, incluindo a sede, na avenida Duque de Caxias. 

A liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central ocorreu após diversas tentativas do Bancesa em vender o banco para outro grupo. Ao todo, eram 1.186 funcionários em todo o país.  

Segundo o Banco Central, o Bancesa foi extinto por insuficiência patrimonial; incapacidade financeira de honrar compromissos; e violação grave das normas legais que disciplinam as atividades das instituições financeiras.  

O banco faliu em um momento que foi difícil para outras instituições financeiras frente à chegada do Plano Real. Reportagem do Diário do Nordeste em 1995 apontava que 26 empresas tiveram dificuldades parecidas desde 1994. 

Têxtil Thomaz Pompeu  

Inicialmente focada apenas na produção de redes e depois integrando a fiação de tecidos em geral, a Têxtil Thomaz Pompeu foi centenária no estado.  

A empresa, fundada por Thomás Pompeu de Sousa Brasil Filho em 1899 abriu falência em 1987, mas tentou voltar ao mercado em 1993, prometendo investimento de US$ 30 milhões, conforme reportagem do Diário. 

A antiga sede da empresa ficava onde é localizado hoje o Beco da Poeira, no Centro de Fortaleza.  

Monteiro Refrigerantes (Guaraná Wilson)

Fabricante dos tradicionais Guaraná Wilson, Blimp laranja e Blimp limão e responsável pela produção da Pepsi no Ceará, a Monteiro Refrigerantes marcou uma geração de cearenses.  

Fundada em 1950, a Monteiro Refrigerantes chegou a ganhar mais de uma vez prêmios internacionais de qualidade pela "International Award for Quality Excellence", promovido por Pepsico International, como o Diário do Nordeste relatou em diferentes momentos. 

O Guaraná Wilson foi o carro chefe da empresa. A fábrica foi fechada em meados dos anos 2000. A reportagem não encontrou registros sobre os motivos do fechamento.  

Indústria Guimarães 

“Seu Guimarães, o senhor só faz café?”. O comercial e o sabor do Café Guimarães marcaram a época em que a Indústria Guimarães estava em atividade.  

A empresa, que produzia também floco de milho, colorau e sucos tropicais, sofreu um incêndio em janeiro de 1985 e acabou por fechar as portas em agosto de 1996 após a 13ª Vara Cível de Fortaleza decretar a falência.  

A falência foi decretada em razão de dificuldades financeiras “decorrentes dos efeitos de inúmeras medidas anti-inflacionárias adotadas pelo Governo Federal”.

Segundo o despacho da falência, publicado pelo Diário, isso provocou a “perda no poder aquisitivo dos consumidores de produtos fabricados pela empresa, ocasionando o comprometimento do faturamento”. 

Aba Film 

As famílias fortalezenses tinham um lugar certo para tirar um “retrato” muito antes de câmeras portáteis se popularizarem. A Aba Film foi fundada em 1934 pelo fotógrafo Ademar Bezerra de Albuquerque e tinha mais de dez lojas espalhadas por toda a cidade. 

A empresa é a proprietária do único registro fotográfico cinematográfico sobre cangaço, realizado por Benjamim Abrahão Botto. O arquivo foi apreendido e censurado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), durante o governo de Getúlio Vargas. 

Apesar do sucesso à época, o empreendimento não resistiu ao surgimento das novas tecnologias. A matriz da empresa, localizada na avenida Heráclito Graça, foi a primeira a fechar as portas. As outras unidades findaram aos poucos ao longo dos anos 2000. 

Gelatti 

Quem viveu em Fortaleza na década de 70 deve lembrar do sabor do sorvete Gelatti, da Frios Nordeste S. A. (Frinosa). A loja ficava localizada na avenida Barão de Studart e foi uma das primeiras com fabricação própria da cidade. 

De acordo com o jornalista e pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, a chegada da fábrica à cidade foi uma verdadeira modernização. Como a estrutura do empreendimento era transparente, quem passava ao redor podia ver os funcionários uniformizados trabalhando. 

O último registro da empresa encontrado pela reportagem foi em 1996, em uma nota do Diário do Nordeste informando que a loja não mais funcionava. 

Mercantil São José 

Até hoje, é comum chamar o supermercado da semana de mercantil. Por alguns anos, o costume vinha de fato do nome do mercado que era frequentado. 

O Mercantil São José foi criado em 1962 pelo empresário Eudes Ximenes e logo foi se expandindo por Fortaleza e região metropolitana. Ao todo, foram doze lojas. 

Nirez conta que em 1987 o proprietário morreu em acidente automobilístico, e, após a tragédia, a firma pouco a pouco caiu em derrocada.  

“Mais antigo supermercado do Ceará, há 44 anos operando em Fortaleza, o Hiper Mercantil São José entrou em crise financeira a partir do fechamento da loja da Avenida Washington Soares, no dia 19 de março de 2005. De lá para cá, das 11 lojas da rede, duas foram arrendadas para o Carrefour e Center Box e outras fechadas”, publicou o Diário do Nordeste em 2006. 

Segundo a reportagem, duas das últimas lojas foram fechadas após corte no fornecimento de energia devido à falta de pagamento.  

Vilejack Jeans 

A Vilejack Jeans foi uma marca importante no estado entre as décadas de 1970 e 1990. A fábrica foi fundada em 1972, com o nome de Cidrão Vilejack e começou a trabalhar com jeans em 1979. 

A empresa faliu logo nos primeiros anos, sendo reativada em 1976. Em 1990, a fábrica foi considerada a maior empresa de confecções de jeans no Brasil. 

A queda da empresa começou após a abertura de capital na bolsa, com uma operação denominada "underwrinting", colocando à venda no mercado 531 bilhões de ações. Na época, os diretores da Vilejack culpavam o Plano Cruzado pelo insucesso dos negócios, aliada às altas taxar de juros do mercado.  

A marca ainda existe hoje em dia, mas não mais no Ceará. A antiga fábrica da empresa, localizada na Barra do Ceará, é casa da comunidade do Gueto.