O capinar da enxada cada vez mais entra para a memória afetiva da agricultura cearense. Ano após ano, o campo se moderniza e troca a força braçal pelo barulho dos motores. A popularização dos drones na cidade grande também foi percebida no campo, e atrai as novas gerações em busca de oportunidades.
A preocupação em informatizar o campo, processo atrelado ao desenvolvimento de mais capacitação profissional, reflete nos dados de empregabilidade no meio rural.
Dados de 2023 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, desde 2012, o setor agropecuário perdeu 190 mil trabalhadores no Estado, a maior evasão de força de trabalho dentre todas as áreas pesquisadas.
Soma-se a esse fator o rápido desenvolvimento das cidades cearenses (Fortaleza se tornou a quarta maior cidade do Brasil e a maior do Norte-Nordeste, segundo o Censo de 2022 do IBGE), necessitando cada vez mais de mão de obra nos núcleos urbanos em detrimento do campo.
Para atrair os mais jovens, a solução encontrada foi incorporar os equipamentos mecanizados. O mais célebre e bastante difundido é o trator, aliado dos lavradores, seja em pequenas produções ou grandes monoculturas, incluindo pecuária e aquicultura.
"Hoje a gente trabalha com tratores, antigamente não tinha isso. Trabalhamos com diversos cursos na área de capacitação, principalmente na área agrícola: irrigação, cursos de drones, de mecanização de tratores e inseticidas (aplicação de defensivos)", explica Henrique Matias, coordenador de formação profissional rural do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Ceará (Senar Ceará).
Drones no campo
O técnico em agropecuária Edilson Abreu trabalha em uma produção agropecuária de coco, caprinos, ovinos e suínos em Lagoinha, distrito de Paraipaba, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Segundo ele, o dono das terras já se prepara para incorporar elementos mecanizados na produção, como forma de otimizar o tempo e fazer economia.
Embora no Ceará, o uso de drones para a produção ainda seja mínimo, pouco a pouco a tecnologia vai ganhando mercado, principalmente pelas experiências bem-sucedidas em outros estados.
"Fiz esse curso de drones porque eles estão com uma ideia de fazer trabalhos de filmagem. A maioria das propriedades está comprando. Alguns colegas estão acompanhando propriedades, outros já foram para outros estados e se preparam para usar o drone. Aqui no Ceará está começando", diz Edilson Abreu.
O curso ao qual ele se refere é o de operador de drones promovido pelo Senar Ceará. Em 2023, o serviço, também vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), foi iniciado em terras cearenses.
Quem explica o funcionamento é Cássia Rosane, uma das instrutoras. Ao longo de uma carga horária de 24 horas em diferentes municípios cearenses, são ministradas aulas que ensinam o produtor rural a pilotar o drone, focado, principalmente, no público mais jovem.
O curso é uma demanda junto à comunidade. Quando tem jovens produtores rurais que queriam trabalhar com drone, é para aprimorar. Depois queremos fazer mapeamento, mas inicialmente formamos pilotos de drones para o meio rural. O jovem sempre quer ir para outros locais, e os pais produtores rurais não querem que o filho tenha a vida sofrida como eles tiveram".
Ao longo de cerca de um ano de curso, já foram concluídas dez turmas com, em média, 12 alunos cada. Segundo Cássia Rosane, somente no Ceará em cidades como Cariré, Senador Sá e Maranguape, aproximadamente 150 pilotos de drone cearenses foram formadas.
Novas modalidades no campo
Para o também instrutor de drones do Senar Ceará, Eduardo Macedo, o setor agroindustrial vive uma "crescente tecnológica", e atrai públicos cada vez mais especializados no manejo de ferramentas automatizadas que contribuam para potencializar a produção.
"As tecnologias e boas práticas no campo garantem uma segurança alimentar na produção e processamento de alimentos. A mecanização e as boas práticas no campo garantem um produto de qualidade. Os drones auxiliam também na obtenção de imagens que podem ser utilizadas até no próprio marketing de vendas da agroindústria e do mercado agrícola", enfatiza.
Além da pilotagem de drones, outra área em que a tecnologia ganhou espaço no campo foi no ato da irrigação. Antes, o produtor precisava fazer manualmente, percorrendo toda a propriedade e molhando o solo, por vezes, muito mais do que necessário. Agora, toda a atividade pode ser feita remotamente por videomonitoramento.
"Hoje o produtor consegue informatizar toda a área e vai irrigar por talhões. É um modelo de tecnicidade na agricultura. Vai irrigar somente no momento que precisa, porque ele vai ter essa informação no momento em que o solo está precisando de água", expõe Henrique Matias.
Embora o Nordeste venha sempre sendo acometido com as secas, a gente está se preparando mais para conviver com ela. Isso é um fato. Nas últimas secas que aconteceram, o produtor continuou produzindo, conseguiu fazer reserva de água. Estamos aprendendo com o que mais atrapalha ele. A gente tem visto que os impactos têm sido menores".
Para além do meio rural, a especialização em questões tecnológicas também abre um leque de possibilidades no interior do Estado. Segundo Cássia Rosane, os aprendizados nos cursos possibilitam ainda que os jovens produtores rurais possam desempenhar outras atividades, relacionadas ou não com a agroindústria.
"Meus alunos são produtores, mas querem outras coisas. Tem aluno que quer trabalhar com filmagem, aniversários, que não tem a ver com a agricultura, mas está no interior e pode ganhar dinheiro também. Na parte de gado, tem gente que usa o drone para contar o rebanho", elenca.