Com grupos de adolescentes e famílias, viagens à Disney fomentam agências do Ceará desde os anos 90

Tida por muitos como um sonho, a Disney é carro-chefe de algumas agências no Estado, correspondendo a até 30% do faturamento

Algumas palavras são reiteradas nos relatos de quem já foi à Disney: mágico, sonho, inesquecível. Destino com um apego afetivo, o Magic Kingdom, em Orlando, comemora 50 anos de existência com uma programação especial desde outubro do ano passado até março do ano que vem. 

Durante meio século de história, o parque mexeu com o imaginário do público, encantou visitantes e incentivou o surgimento e crescimento de agências de turismo. No Ceará, há negócios especializados no destino, desde a venda de pacotes até a organização de excursões de adolescentes ao castelo. 

O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Ceará (Abav-CE), Murilo Santa Cruz, conta que o destino provocou um verdadeiro boom nas agências de turismo cearenses na década de 1990, quando a paridade entre dólar e real tornou o sonho de abraçar o Mickey mais palpável. 

De lá pra cá, em meio a altos e baixos, a Disney se estabeleceu como o destino internacional de maior apelo para as agências cearenses, tanto pelo sonho, como pela comodidade da ponte aérea Fortaleza-Estados Unidos, oferecida pela Gol e pela Latam. 

Disney e as agências de viagem 

Desde seu surgimento, o Magic Kingdom aflorou os sonhos dos já amantes da Walt Disney Company em conhecerem o espaço vendido como mágico. Nas décadas de 1980 e 1990, o destino ganhou destaque em cadernos de turismo do Diário do Nordeste.  

Se hoje a viagem ainda é inacessível para muitos, na época em que a moeda do país era o cruzado o sonho era ainda mais limitado para os que tinham uma melhor condição financeira. Mas, após o plano real, a paridade de 1 para 1 entre o real e o dólar aproximou essa realização para muitos, levando a um boom nas agências de turismo. 

Tivemos na década de 1990 vários fretamentos de aviões aqui de Fortaleza por temporada. Fora os voos regulares, tinha em torno de uns 4 voos fretados para Orlando pelas agências de viagens. Cada agência comprava 80, 100 lugares, e formavam aqueles grupos de adolescentes”
Murilo Santa Cruz
Presidente da Abav-CE

A Disney se tornou algo cultural, sendo a viagem comumente dada como presente dos pais a adolescentes na comemoração dos 15 anos. Para além das excursões de jovens, cresceu o turismo familiar, com a venda de pacotes para que desde o neto ao avô pudessem conhecer os parques e personagens da Disney. 

Murilo conta que como o destino foi por muitos anos o mais procurado por viajantes, muitas agências se especializaram, passando a ter o reino do Mickey como carro-chefe. Isso mudou um pouco após o atentado das torres gêmeas, em 2001. 

“Saíam de Fortaleza em grupos aproximadamente uns 800 a 1400 adolescentes por temporada e, quando teve os atentados, descemos a zero no ano seguinte, em 2002 não teve nenhum fretamento. Depois foi retomando, algumas agências voltaram, mas voltaram também outros destinos”, conta. 

Ainda hoje algumas agências cearenses são especializadas e tidas como referência no destino. Para o presidente da Abav, o apelo da Disney não muda com o passar dos anos. 

“[A Disney] encanta porque é um destino que agrada a todas as faixas etárias, desde o bebezinho até o adulto e as pessoas mais idosas, que se encantam com toda a grandeza dos números, das atrações atualizadas sempre”, destaca. 

Realização de um sonho 

A médica Lara Morais, de 25 anos, foi pela primeira vez à Disney em um grupo de jovens, logo que completou 15 anos de idade. O sonho de visitar o destino já existia há algum tempo e, segundo ela, apesar de as expectativas serem altas, elas foram superadas. 

Pra mim a Disney representa muito nostalgia, boas lembranças, bons momentos. Eu ainda tenho muito apego com as coisas, com os filmes que eu fui criada assistindo. É uma nostalgia muito grande, o destino para mim é um encanto, você chega lá e volta a ser criança”
Lara Morais
Médica

Ela voltou ao parque em 2017, dessa vez junto com a família e o planejamento é voltar à casa do Mickey mais vezes no futuro. 

“Eu pretendo voltar à Disney outra vez, assim que possível, provavelmente com a minha família também, a gente sempre fala o quanto foi bonito. É surreal, é de outro mundo a felicidade de estar lá. Ir com meu irmão agora mais velho seria muito melhor, porque a gente conseguiria aproveitar mais os brinquedos”, compartilha. 

Outra apaixonada pelo destino é a cozinheira Fernanda Moreira, de 45 anos. Ela já visitou o parque em Orlando 5 vezes, em 2012, 2014, 2016, 2017 e 2019. Todas as viagens foram em família, acompanhada de seu marido e filho.  

O amor é tão grande que ela agora está visitando os outros parques da Disney espalhados pelo mundo, já foi à Disney de Paris e só não foi à de Califórnia neste fim de ano devido à forte nevasca que atingiu o Canadá, onde vive atualmente, e que a obrigou a mudar os planos. 

“Quando eu era criança eu tinha vontade de ir, mas não era um destino muito falado, porque naquela época o que se tinha noção de Disney era o que se via na TV. Com 15 anos meu pai até ofereceu se eu queria ir para Disney ou um toca CDs e eu optei pela toca CDs. Só fui realizar mesmo depois de 20 anos”, conta. 

Mesmo já tendo ido ao parque casada e com filho, Fernanda afirma que estar na Disney é como retornar à infância. 

“É uma questão de alívio, de sair da realidade que é mais dura e conseguir ficar sorrindo o tempo todo, esquecer problema e dificuldade. Sempre que eu saio da Disney eu penso que todo mundo deveria ter a chance de pelo menos uma vez na vida experenciar isso aqui”, diz. 

Importância para as agências 

A Triptime foi uma agência que decidiu se especializar em Disney, trabalhando ativamente com divulgação em colégios para a realização de excursões. De acordo com o sócio da agência, Carlos Silva, o destino representa por volta de 30% do faturamento da empresa.

A agência existe desde 1999 e desde 2005 foca esforços no Magic Kingdom. Carlos afirma que a especialização é fundamental para otimizar a experiência do viajante no parque, dada a quantidade de atrações disponíveis. 

“A nossa agência hoje se especializou em Disney de uma forma que a gente sempre está buscando inovação, roteirização, a gente tem toda uma estrutura para otimizar o tempo dos nossos passageiros dentro do parque. É um produto que requer muita atenção, porque vai desde a assessoria do visto até a chegada ao Brasil no retorno”, coloca. 

Na Terratur, o destino é ofertado apenas por meio de pacotes e cruzeiros. Ainda assim, ele representa de 15% a 20% do faturamento. 

A diretora da agência, Cláudia Alcântara, afirma que a Disney é buscada principalmente por famílias e que a procura aumentou com a programação especial que os parques estão tendo em comemoração aos 50 anos.

“Quem ia já se programou para ver algum espetáculo específico e aproveitar esses momentos. Até o próximo ano ainda tem essa chance e vai ter ainda alguns voos diretos para Miami, a Gol e a Latam estão se programando e dá para se programar para não perder”, coloca. 

As agências de viagem também têm importância para a própria Disney. De acordo com a diretora de marketing e vendas de Disney Destinations para América Latina, Cinthia Douglas, o Brasil é um mercado muito importante para o Walt Disney World. 

“Os brasileiros têm uma forte afinidade com a marca Disney e, por isso, trabalhamos diferentes estratégias ao longo do ano para nos mantermos próximos desse mercado e divulgarmos todas as novidades de nossos parques e resorts”, aponta. 

A programação de 50 anos da Disney vai até o dia 31 de março de 2023 e inclui dois novos espetáculos noturnos e a nova montanha-russa Guardians of the Galaxy: Cosmic Rewind, no EPCOT. 

Golpe da pandemia 

Para o presidente da Abav, Murilo Santa Cruz, por mais impactante que tenha sido o 11 de setembro, nenhum golpe foi tão forte sobre o setor das agências de turismo como a pandemia. Sobretudo para um destino internacional, como é o caso da Disney. 

Com parques fechados, sem voos e sem autorização para vistos, agências especializadas no destino viram o faturamento ir a zero nos últimos dois anos. 

“Até hoje ainda é difícil convencer pais para mandar os filhos por conta da pandemia, ainda tem muitos pais resistentes. E o faturamento foi zerado mesmo porque não tinha voos, os parques fechados”, compartilha Carlos Silva, da Triptime. 

Murilo ressalta que desde 2020 o Ceará não envia grupos de jovens à Disney. A expectativa são altas para as próximas temporadas. 

“A gente tem uma expectativa muito grande que na próxima temporada a gente já comece com alguns grupos, ainda modesto porque ainda precisa uma programação de bloqueio aéreo, hotéis. A temporada de julho vai ser melhor e em janeiro de 2024 deve voltar aos patamares pré-pandemia”, diz. 

A situação econômica também não ajuda. O conselheiro do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon) e mestre em gestão e negócios turísticos Álvaro Carvalho destaca que o câmbio não favorece a ida para fora do país no momento.

"Hoje está muito mais complicado viajar. Antes era mais fácil pela estabilidade e você tinha dinheiro porque o real tinha maior valorização, o poder de compra era maior. A gente não só viajava, ao mesmo tempo a pessoa comprava. Hoje, as pessoas só viajam e quando pode", coloca. 

Apesar de a demanda reprimida durante a pandemia estar voltando, a logística ainda barra o envio de grupos para os parques. A programação de aniversário do parque e a retomada dos voos de Fortaleza para os Estados Unidos deixa o setor de agências mais otimista.  

Em nota, a Latam reconhece a demanda crescente em razão do período de férias somado à programação de aniversário e destaca que já está preparada. 

“A Latam já está preparada para atender esta demanda, ofertando nos próximos meses 3 voos semanais na rota São Paulo/Guarulhos-Orlando e também incrementando sua malha para Miami a partir de dezembro com 15 voos semanais, sendo 14 a partir de São Paulo/Guarulhos e 1 a partir de Fortaleza, destino este que também atende a demanda para os parques da Disney. Além disso, a companhia segue atenta às necessidades dos passageiros e na demanda de cada região para investimentos futuros”, pontua. 

A Gol também retomou o voo Fortaleza-Miami, que estava parado desde a pandemia, no último dia 3. Os voos de ida e de volta ocorrem semanalmente, aos sábados.  

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