Com boa quadra chuvosa e fora do lockdown, agro cresce 16,9% no CE

Resultado do 2º trimestre do PIB cearense demonstrou a força da pandemia sobre a economia local, que despencou 13,2% em comparação ao trimestre anterior. Perspectivas para o desempenho em 2020 ainda são positivas

Na contramão do que vivenciaram os serviços e a indústria, a agropecuária no Ceará atravessou incólume a pandemia do novo coronavírus, conforme revelam os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2020, divulgados ontem (22) pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).

Enquanto o PIB cearense caiu 13,2% no segundo trimestre frente ao primeiro e 14,5% em comparação a igual período de 2019, a agropecuária cresceu 16,9% e 18,8%, respectivamente, sob influência das chuvas e da manutenção das atividades durante os meses de isolamento social.

A assessora técnica do Ipece, Cristina Lima, pontua que o resultado foi impulsionado por algumas culturas específicas e bons resultados na pecuária, com destaque para a produção de aves.

"A gente associa ao crescimento da demanda por essa carne. Com o pagamento do auxílio emergencial, algumas famílias passaram a ter condições de demandar o produto. Por outro lado, com o preço da carne bovina subindo e a perda de renda em decorrência da pandemia para algumas famílias, o frango se tornou uma opção mais acessível", detalha.

Na agricultura, os destaques ficam por conta da produção de milho, arroz e feijão. Em relação às frutas, Cristina frisou a produção de maracujá, destacando a boa distribuição de chuvas no Estado.

"A gente já teve um ano de 2020 com chuvas muito favoráveis, tanto no volume de água como na distribuição e isso favoreceu bastante o nosso desempenho nesse período", detalha.

O presidente da Câmara Setorial de Agronegócio da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Amílcar Silveira, corrobora a avaliação sobre a relevância das chuvas para os bons resultados do setor no período e acrescenta que a agropecuária não parou durante a pandemia.

"Este ano será muito bom. Não tínhamos água, a gente vinha em uma sequência de secas", detalha.

"Acreditamos que nos próximos dois anos nós teremos resultados muito positivos no setor agropecuário", projeta, pontuando que o crescimento das exportações alavancaram a demanda e também os preços.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Flávio Saboya, também atribui os bons resultados ao fato de o setor não ter parado durante a pandemia.

"Isso decorre da luta que nós tivemos para sensibilizar o Governo do Estado no sentido de mostrar que o setor agro era o que menos apresentava casos da doença", explica.

Ele também lembra que, quando a pandemia chegou ao Ceará, a safra já estava plantada.

O auxílio emergencial que ajudou a impulsionar a demanda por frango e os bons resultados da pecuária também são apontados pelos analistas do Ipece como elementos-chave nos resultados da economia cearense em 2020. O PIB deste ano foi revisado de -4,92% (projeção de junho) para queda de 4,35%.

O consumo de alimentos terá forte influência na melhora da economia local no próximo semestre, segundo o Ipece.

"O que observamos em junho já aponta para a direção de redução da queda da atividade em 2020", detalha Nicolino Trompieri, coordenador de Contas Regionais do Ipece.

Resultados

Impactados mais fortemente pela pandemia, a indústria despencou 33% no segundo trimestre ante igual período do ano anterior e de 28,7% ante o primeiro trimestre. O setor de serviços retraiu 13,6% e 12,6%, respectivamente.

"O dados de março já indicavam que ocorreria essa queda na produção industrial. Houve melhoria da atividade em junho, mas não foi suficiente para reverter a queda de abril e maio", explica Wítalo Paiva, analista do Ipece. A indústria extrativa mineral teve a queda mais intensa.

Alexsandre Lira, também analista do Ipece, lembra que o processo de pandemia e isolamento afetou fortemente o emprego e a massa salarial, impactando negativamente as vendas do comércio e dos serviços, influenciando também a indústria.

"Nós percebemos um efeito muito forte na venda de combustíveis. O setor de alojamento e alimentação também sofreu bastante e o turismo quase parou".

O resultado também já era esperado pelo setor, aponta André Montenegro, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

"A pandemia paralisou praticamente toda a indústria, principalmente as de maior peso do Ceará como a construção civil. Quando ela para, fica estagnada uma cadeia enorme atrás dela, como cimento, cerâmica, areia, brita. Outro setor que também impulsionou muito a queda foi a indústria de confecção, que é fortíssima no Estado. Embora algumas outras, como de alimentos, não tenham parado, a representatividade não dá para compensar as perdas".

Montenegro aponta estar confiante nos resultados da indústria do terceiro trimestre e também na retomada das atividades do setor.

"Os juros baixos estão fazendo com que seja viável a volta das atividades. Outro fator muito positivo neste processo foi o auxílio emergencial, fazendo com que as pessoas pudessem consumir".

Serviços

Intensamente impactado, o setor de serviços também não se surpreendeu com o resultado para o segmento, segundo aponta o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), Maurício Filizola.

"Foi justamente o período de maior impacto no comércio e serviços dentro deste contexto de pandemia. Em junho, último mês do trimestre, foi quando começamos a voltar, mas ainda muito pouco, sem uma plenitude", explica.

Ele ainda pondera que, embora o turismo tenha demorado a voltar a atuar devido às dificuldades sanitárias, a expectativa é de um resultado mais positivo no terceiro trimestre.

"Nós já vamos ver números melhores. Ainda vamos sentir o impacto, principalmente no setor hoteleiro e de turismo, mas já foi muito importante perceber a movimentação dentro do Estado nos últimos feriados", prevê.