Cearense poderá ter novo aumento elevado em 2015

O uso das térmicas e a compra no mercado livre de energia, pelas distribuidoras, terão impacto no próximo ano

Se o aumento médio de 16,77% na conta de energia deste ano já deixou os cearenses insatisfeitos, a expectativa para o reajuste do próximo ano também não é animadora, sobretudo se a próxima quadra chuvosa apresentar resultados abaixo da média histórica. Devido aos custos adicionais para as distribuidoras com a utilização das termelétricas e com a compra de energia no mercado livre (sem contrato), os fatores que provocaram uma alta expressiva neste ano também deverão pesar na tarifa de 2015.

"Se não houver uma recomposição significativa dos reservatórios (na próxima quadra chuvosa, iniciada em novembro), o cenário (do setor energético) vai ficar entre difícil e crítico", aponta o professor Tomaz Nunes Cavalcante Neto, do departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará.

Conforme explica Nunes, que é especialista em eficiência energética, o baixo nível dos reservatórios do País obrigou as distribuidoras a adquirir energia das térmicas, cuja produção é mais cara. Atualmente, ilustra, cerca de 70% da energia utilizada no Brasil vem das hidrelétricas - consideradas, além de mais baratas, mais limpas que as térmicas.

Atraso nos leilões

Além disso, acrescenta, o atraso nos leilões públicos para a compra de energia levou as concessionárias a recorrer ao mercado livre, o que também provocou alta nos custos e pode afetar o valor da próxima tarifa. "O mercado livre funciona como uma bolsa de commodities. Quando um componente importante, como a água, se torna mais raro, os preços sobem muito", justifica.

Componente político

O professor destaca o fato de o governo federal já admitir a possibilidade de racionamento, embora esta seja divulgada como uma medida pouco provável. "Antes, apenas se dizia que não havia esse risco. Agora, há um risco 'controlado e baixo'. Isso é uma mudança muito grande", frisa. Para Tomaz Nunes, o fato de 2014 ser um ano de eleições "pode estar fazendo com que algumas verdades, não sejam repassadas na íntegra". Esse fator, indica, também poderá pesar no reajuste de 2015.

O especialista em eficiência energética defende que o governo inicie uma campanha incentivando o uso mais racional da energia, o que poderia amenizar, também, os gastos adicionais com a distribuição. "Foi um erro estratégico não ter feito isso antes. Em 2001, as pessoas se disciplinaram e o desperdício diminuiu. Mas isso foi se dispersando", comenta.

Ele destaca ainda um estudo da Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia (Abesco) segundo o qual a energia desperdiçada durante um ano, em todo o Brasil, seria suficiente para abastecer os estados do Rio de Janeiro e do Ceará por igual período.

Não há previsão de novo socorro a empresas

Rio. O presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, afirmou que não há previsão de um novo socorro para as distribuidoras em relação a um impacto de R$ 1,5 bilhão no fluxo de caixa das empresas. Esse valor é relativo à diferença entre o preço médio negociado no leilão da semana passada, de R$ 268 por megawatt-hora, e o preço atual na carteira das distribuidores, que varia entre R$ 110 e R$ 150 por megawatt-hora. A diferença vai ser repassada aos consumidores nos reajustes das distribuidoras ao longo de um ano.

Ele sinalizou, porém, com uma possível ampliação do empréstimo feito pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), de R$ 11,2 bilhões, para as distribuidoras, com relação especificamente à exposição ao mercado de curto prazo. "Se esse volume de recursos não for suficiente, vamos buscar uma complementação para cobrir isso", disse.

João Moura
Repórter

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