Após sucessivos aumentos do valor do diesel no último ano, a demanda pelo transporte rodoviário tem sido repensada pela indústria e outras alternativas passaram a ser utilizadas, entre elas, o transporte de contêineres pela costa brasileira (cabotagem). Segundo pesquisa do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), o Ceará apresentou o maior crescimento da movimentação de cargas na virada de 2017 a 2018 no País, com 480.720 toneladas (t).
O Estado também está presente na rota cuja movimentação foi a que mais cresceu no período, de São Paulo ao Ceará, com 159.531 t de carga entre 2017 e 2018. Além disso, o Estado também figura entre as principais origens de cargas, ocupando a quarta posição no País, com 190.505 t movimentadas no período, ficando atrás somente de Rio de Janeiro (259.172 t), São Paulo (254.394 t) e Santa Catarina (194.996 t).
Os reajustes no preço do diesel aliados à atualização dos preços mínimos de frete rodoviário pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) contribuiu para modificar ainda mais a dinâmica da logística no País, segundo especialistas no setor.
"O Nordeste é uma região que recebe muitas cargas, então existe um movimento de mercadorias que são produzidas no Sul e Sudeste. Com o tabelamento, as cargas que chegavam ao Nordeste tinham um preço, que era bem mais caro. E as cargas que saíam dessa região para o Sul tinham outro valor. O tabelamento mudou a dinâmica, porque o preço foi regulado por distância. As empresas viram que o preço aumentou bastante para algumas regiões e a cabotagem foi uma alternativa muito boa para contornar essa situação", analisa Maria Fernanda Hijjar, sócia executiva da Ilos e especialista em logística.
Impactos positivos
Ainda segundo Hijjar, existem três fatores que influenciaram a alta da movimentação por cabotagem nos dois últimos anos no Nordeste e no Ceará, entre os quais o crescimento natural da região, o que contribuiu para o aumento da produção no período.
"Fora isso, existe o fato de o Porto do Pecém ter se tornado um porto de transbordo. Em resumo, as cargas vindas do Norte são encaminhadas para o porto e, posteriormente, distribuídas para o Sul ou Sudeste por causa da localização geográfica do Ceará", aponta a especialista, que acrescenta ainda a influência do tabelamento do preço do frete, que afetou empresas do Nordeste que levavam cargas para a região Sul.
Na avaliação de Fernanda Hijjar, as rotas de cabotagem no Pecém facilitaram o deslocamento de cargas que são encaminhadas para outras regiões do País ou até mesmo para o exterior, além de ter um preço mais baixo em comparação com o diesel. "As rotas do porto que facilitam bastante esse recebimento de volumes desde a greve dos caminhoneiros também", aponta.
Greve dos caminhoneiros
Comparando os meses de janeiro e fevereiro de 2019 com igual período do ano passado, houve uma queda de 8% no transporte de cargas por cabotagem no Ceará, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Neste ano, 327.881 t de mercadorias foram movimentadas nos portos cearenses. Já em 2018, foram 359.952 t.
Por outro lado, os dados do Ilos mostram que o uso desse tipo de transporte se elevou após a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, movimentação pela qual os caminhoneiros exigiram do Governo a redução da carga tributária sobre o diesel (Pis/Cofins).
Após esse episódio, levantamento do Ilos mostra que o Ceará passou a ocupar o 1° lugar nos destinos mais procurados no transporte de cargas por cabotagem, com 464.020 toneladas movimentadas, de junho de 2017 a fevereiro de 2019. No período, as rotas ligando o Ceará a São Paulo (132.321 toneladas), Rio de Janeiro (90.102 toneladas) e Santa Catarina (79.418 toneladas) figuraram entre as 10 que mais cresceram no País.
Mais desembarques
De acordo com a especialista do Ilos, o Porto do Pecém foi um dos maiores receptores de mercadorias do País. Só no primeiro trimestre de 2019, houve uma movimentação de 2.290.970 t de cargas de cabotagem, o que representa um aumento de 34% em relação a igual período de 2018, conforme dados apresentados pelo Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
De todas as movimentações realizadas no porto, a cabotagem foi responsável por 57% das atividades. Além disso, o maior volume do transporte de cargas no Estado é feito por meio de desembarques de mercadorias, que movimentou 1,7 milhões de toneladas no período. O principal material que chega no porto é o minério de ferro, responsável por 25% dos desembarques, proveniente dos portos de Ponta da Madeira, no Maranhão, e o de Vitória (ES).