A fabricação de itens de baixo custo é uma estratégia antiga da indústria para não perder receita em momentos de crise. Na pandemia, os consumidores notaram com frequência esse movimento do mercado, com os similares do leite e derivados, por exemplo. Atualmente, observa-se também que os óleos compostos se multiplicam como “alternativas” ao azeite de oliva.
Muitas dessas marcas estão em conformidade com a lei por enquadrarem esses produtos em opções regulamentadas, mas o problema são as táticas usadas para confundir os compradores, como embalagem, design e nome semelhantes, além do posicionamento nas gôndolas, sobretudo em período de inflação do item.
O azeite de oliva, que hoje está no patamar de R$ 30, tem sofrido aumento de preço em razão das secas na Espanha, Portugal e Grécia, onde há grandes produtores do alimento. Já os óleos mistos custam cerca de metade do valor do original.
Nesse contexto, o consumidor deve ter cuidado redobrado para não cair nessas armadilhas na hora de tentar economizar, conforme destaca o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador de Finanças Comportamentais, Érico Veras.
A alimentação representa um valor substancial da renda de grande parte da população. Por isso, há uma tentativa de diminuir o custo da cesta”, pondera.
“Mas ocorre que, em alguns casos, os similares estão muito próximos na exposição do supermercado, e a pessoa compra um item mais barato achando ser a mesma coisa que o original”, completa, enfatizando haver uma lei determinando informações claras na embalagem.
Érico Veras frisa, ainda, a necessidade de uma leitura minuciosa do rótulo. “O consumo exige se informar. Não compre apenas olhando para o preço, avalie a quantidade, a característica e se informe com pessoas confiáveis que já compraram”, lista.
A nutricionista Viviane Araújo acrescenta haver forma de melhorar o rendimento do produto e escolher opções diferentes para cada finalidade. “Para o consumo de saladas, recomendo o azeite extravirgem para quem puder fazer esse investimento. Para cozinhar ou refogar, pode-se usar apenas o virgem”, diz.
“O consumidor também pode usar um borrifador. Com esse recurso, é possível untar uma frigideira e fazer o alimento render mais, sem precisar colocar uma colher do azeite, por exemplo”, explica.
Os azeites de oliva extravirgem e virgem não utilizam produtos químicos na extração, sendo o primeiro considerado mais puro por possuir acidez máxima de 0,8%, enquanto o virgem varia até 2%.
Quais os impactos dos “azeites fakes” para a saúde e como escolher o melhor produto?
Para Viviane Araújo, quem adquire o azeite de oliva em busca dos benefícios alimentares deve ficar ainda mais cauteloso. “Por ser considerada uma gordura boa e usada para reduzir os riscos de algumas doenças, o consumo desse alimento tem aumentado, e algumas marcas se aproveitaram disso para tentar enganar os consumidores”, observa a nutricionista.
Além de ter sido enganado, o consumidor que compra esses óleos misturados está consumindo gorduras ruins, que podem aumentar o colesterol, principalmente para quem já possui alguma doença”, reforça.
Veja as dicas da nutricionista para escolher o melhor azeite:
- O ideal é uma embalagem de vidro e escura. Evite frascos transparentes e de plásticos em razão da oxidação;
- Veja a acidez no rótulo. O azeite "muito bom" tem 0,5% de acidez, mas até 0,8% é considerado de qualidade;
- Na parte dos ingredientes, deve constar apenas azeite de oliva na composição. Quando houver outros óleos adicionados, como o de soja, já é considerado um similar;
- Quanto mais jovem, melhor. O ideal é não ultrapassar os seis meses da data de fabricação;
- Após avaliar esses critérios, escolha pelo produto no fim da prateleira, que está protegido da luz.
Preço muito baixo é indicativo de fraude; veja direitos do consumidor
O azeite de oliva também é alvo de diversas fraudes, com adição de óleo vegetal, corantes e aromas não permitidos. Para impedir o avanço de misturas fraudulentas no mercado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fazem operações constantes.
A presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva), Rita Bassi, pondera que os produtos fraudados não colocam informações sobre alterações na embalagem.
“Sempre sugerimos optar pelas marcas conhecidas, verificar onde o azeite é produzido e envasado. Além disso, ficar atento ao preço é muito importante, não existe milagre. Estamos passando por uma crise climática que tem afetado a produção da azeitona, aumentando o custo do azeite”, lembra.
Diferentemente do alimento fraudado, as misturas de óleos de soja são legalmente permitidas, desde que esclareçam, no rótulo, qual fórmula utilizam. Mas isso não impede práticas abusivas, de acordo com a presidente do Procon Fortaleza, Eneylândia Rabelo.
Conforme a advogada, a forma de rotular e expor a mercadoria deve garantir esclarecimentos precisos. "Estando o produto misto na mesma prateleira dos demais azeites, a falta da informação devidamente destacada pode induzir o consumidor a comprar o produto como se fosse puro", alerta Eneylândia.
"A informação no rótulo, de forma destacada, é uma obrigação do fabricante. Contudo, o fornecedor deve colocar o produto em prateleira diferente daqueles puros na substância", complementa.
A denúncia aos órgãos de defesa do consumidor deve ocorrer quando faltar informação clara, precisa e ostensiva, bem como pela disposição do artigo misto no mesmo espaço de venda dos demais.
A reportagem do Diário do Nordeste questionou ao Mapa se há uma lista de azeites reprovados em testes de qualidade, além de marcas não confiáveis. Ao órgão, também foi perguntado como o consumidor pode checar se o azeite é seguro e quais os critérios para o produto ser enquadrado como azeite.
Ao Mapa, a reportagem perguntou ainda quantas operações de fiscalização foram realizadas no Ceará neste ano e quais marcas poderiam ter sido fraudadas no Estado.
A pasta não retornou aos questionamentos da reportagem até a publicação desta matéria.
Como denunciar
O Procon recebe denúncias pelo telefone 151, das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira, bem como de forma virtual, em qualquer dia da semana, no portal da Prefeitura de Fortaleza (www.fortaleza.ce.gov.br); e ainda pelo aplicativo Procon Fortaleza.