O diretor de política econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk, afirmou, nesta sexta-feira (4), que o projeto de autonomia da autarquia, em tramitação no Congresso Nacional, é um dos poucos casos em que o almoço é grátis, em referência à expressão utilizada por economistas.
"Enquanto professor, sempre reforcei aos meus alunos que, na economia, não existe almoço grátis. Se tem um ganho, pode procurar que em algum lugar tem gasto. No caso da autonomia do BC, não vejo no que podemos perder", disse em evento virtual promovido pelo jornal "Valor Econômico".
A proposta de autonomia do BC está dividida em dois textos em tramitação, um no Senado Federal e um na Câmara. "A autonomia significa inflações mais baixas estruturalmente, juro neutro (aquele que não estimula nem reduz a atividade) mais baixo, sem causar inflação, o que tem efeito positivo sobre atividade e emprego, não sei o que a gente perde com isso", completou.
Depois que passar no Senado, o texto ainda será apensado ao original, que tramita na Câmara e é mais completo. No evento, o diretor falou também sobre o chamado "foward guidance", ou prescrição futura, novo instrumento do BC de política monetária em que os próximos passos são indicados para evitar especulações na curva de juros.
"Com isso, os cenários alternativos, em que prevemos desequilíbrio fiscal, com teto rompido, ou alta nos preços do petróleo, por exemplo, perderam relevância. Consideramos mais os cenários básicos", detalhou.
Assim, o BC ampliou o horizonte relevante (quando se entende que a política monetária deve fazer efeito) para um ano e meio. "Isso foi feito em fevereiro, passamos a olhar um ano e meio para frente. Com isso, na última reunião, a inflação de 2022 entrou na conta", explicou. Ele afirmou que o BC ainda pode cortar juros, mas que é pouco provável.
"O que trouxemos no comunicado ainda está valendo. Alta de juros está fora (de questão). Pode ter queda? Pode. É provável? Não. Se houver (corte) será pequeno", ponderou. Segundo Kanczuk, o Copom (Comitê de Política Monetária) só cortará a Selic caso o funcionamento dos mercados seja assegurado.
"Precisamos que o sistema financeiro se adapte às mudanças e que tudo esteja funcionando. Muitos produtos financeiros foram bolados com a juros altos, com porcentagem do CDI (Certificados de Depósitos Interbancários indexados à taxa básica), tudo mudou", argumentou.