Após rombo na Americanas, clientes relatam redução nas promoções em lojas de Fortaleza

“Inconsistência contábil” que veio a público preocupa funcionários e aguça a curiosidade de consumidores, que reclamam dos preços de produtos como chocolates, por exemplo

Em meio a bombons e pacotes de salgadinhos, uma fila silenciosa espera até a vez em um dos caixas das Lojas Americanas no Centro de Fortaleza. Basta um comentário sobre o rombo de R$ 20 bilhões nos balanços da varejista para a conversa fluir.

Os diálogos entre os clientes incluem o apanhado dos últimos acontecimentos envolvendo o escândalo, questionamentos quanto à sobrevivência do negócio e, claro, sobre os preços dos produtos.

Uma das consumidoras que participava da conversa segurava nas mãos duas caixas de chocolate que estavam com preço promocional: R$ 9,99, cada. Ela lamentava, porém, que essa era a única promoção valendo a pena, na avaliação dela, já que tinha o hábito de comprar itens de limpeza e de higiene pessoal na loja e, ontem (18), não tinha encontrado nenhuma oferta do gênero que fosse realmente interessante.

A fila segue. Um pouco mais à frente, já no caixa, um funcionário revela que, de fato, as promoções estão sendo realizadas em menor volume. Cartazes chamando a atenção para o “leve 3 e pague 2” parecem ter se tornado mais raros, conforme observou a reportagem.

Além disso, anúncios convidando os clientes a pagarem mais barato pelo aplicativo AME, meio de pagamento digital das Americanas, não foram vistos.

Corredores vazios não são tão incomuns para a unidade das Americanas localizada na Avenida Antônio Sales, em Fortaleza, numa quarta à tarde. Alguns poucos clientes que entram buscam o carro-chefe da varejista no ambiente físico: os chocolates. Em comum com a loja do Centro está a escassez de cartazes para pagamento no AME e poucas promoções.

Entre esses poucos clientes, Letícia Gondim, estudante de Nutrição, relata que vem acompanhando na mídia o desenrolar do escândalo das Americanas. Ela conta que viu na loja da Antônio Sales não só menos promoções, mas também menos produtos na comparação com um mês atrás. “Eu não venho tanto aqui, mas vi que tem menos promoção e pouco produto”.

Na loja do Iguatemi, o cenário é um pouco diferente: há alguns cartazes a mais anunciando promoções, mas também é possível observar algumas prateleiras sem produtos. Os clientes também relatam que não observaram redução nas promoções, mas têm acompanhando o escândalo envolvendo a varejista.

Redução antes mesmo do rombo de R$ 20 bi

Há quem venha notando a redução nas promoções há mais tempo, antes mesmo de a “inconsistência contábil” vir a público. A professora Gisele Gondim conta que foi até o estabelecimento há cerca de um mês e observou também a movimentação mais fraca.

“Eu fui no início do mês. Não vi promoções e percebi pouca mercadoria. Sempre no início de janeiro tem promoção na parte de meias escolares e material escolar, fora as conhecidas dos chocolates. Além disso, já estava fraco, sem as filas enormes que tinham antes”, detalha Gisele.

Medo de demissões

Apesar dos comentários nos corredores das Americanas e do escândalo, alguns funcionários não temem o fechamento de lojas, dado o volume intenso de vendas em algumas unidades, a exemplo da loja do Centro de Fortaleza, que seria a terceira maior em vendas entre todas as Americanas do Brasil, conforme uma colaboradora com quem a reportagem conversou.

Além disso, há informações de que a gerência conversou com os times das lojas tranquilizando os colaboradores sobre a situação da varejista e a expectativa entre os trabalhadores é que em breve as Americanas vão se recuperar.

A reportagem entrou em contato com as Lojas Americanas para saber se de fato houve redução no volume de promoções realizadas pela varejista e questionou sobre o estoque de produtos, mas não houve resposta até a publicação desta matéria.

Conforme o Jornal O Globo, fornecedores das Americanas estariam começando a suspender o abastecimento de mercadorias após o acontecimento - ou exigindo o pagamento à vista pelos itens. O motivo é o medo de não receber o pagamento pelos produtos, caso a empresa de fato entre em recuperação judicial.

Há uma semana, um rombo de R$ 20 bilhões nas contas das Lojas Americanas foi descoberto e veio a público quando, em Fato Relevante publicado pela empresa, o ex-presidente Sérgio Rial informou a detecção de "inconsistências contáveis" ligadas às contas de fornecedores.