O preço dos combustíveis, que foram reajustados no início deste mês pela Petrobras, provoca impactos em toda a economia. Um setor que já vem sofrendo com o valor do litro da gasolina é o de autoescolas. De acordo com estabelecimentos ouvidos pela reportagem, a formação de condutores deve sofrer reajuste de até 18%.
O presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Veículos do Estado do Ceará (SINDCFCS-CE), Eliardo Martins, explica que a situação para o setor tem sido complicada, já que recebem de forma antecipada do cliente.
“Temos alunos ainda que se matricularam no ano passado e ainda estão fazendo o processo, o litro da gasolina estava aproximadamente R$ 5 e, hoje, está a quase R$ 8, então pra gente tem sido um impacto muito grande, direto na prestação do nosso serviço”, afirma.
De acordo com Martins, o valor gasto com combustível varia conforme a estrutura da autoescola, mas pode chegar a uma média diária de R$ 138 por carro, por exemplo. “Em uma hora de aula gastamos 1,5 litro de gasolina, em 12 horas, que é o limite permitido, gastamos 18 litros".
“Com o aumento do combustível, você tira o cliente da nossa porta, já que é um serviço que você pode deixar pra depois, as prioridades do consumidor vão ser outras coisas. Tem sido um momento desafiador para nós do setor”.
'Quase um luxo ter carteira’
Quem sofre com as altas também são os consumidores. O engenheiro ambiental Wendel Galvão, de 23 anos, há alguns meses resolveu começar com o processo para tirar a carteira de motorista, contudo, se deparou com preços inviáveis.
“Meu emprego é longe de casa, são quase duas horas de ônibus, aí comecei a pensar em possibilidade de como vou todo dia. Hoje, venho de carona, mas pode ser que em algum momento não dê. Aí pensei em tirar a carteira pra ter uma alternativa e comecei a fazer umas pesquisas”, conta.
Em contato com quatro autoescolas antes do reajuste da gasolina, ele obteve valores que chegavam a R$ 2800 para as categorias A e B.
“Entendo que todos os custos estão mais caros, mas chegou num ponto que uma coisa simples, que todo mundo deveria ter a possibilidade de ter, está custando dois salários mínimos. É quase um luxo ter uma carteira hoje em dia”.
Com o aumento, o engenheiro relata que vai ficar inviável fazer as duas categorias juntas e, agora, como estratégia pensa em fazer uma por vez.
Aumento de R$ 200
Alguns estabelecimentos já até aplicaram reajustes. De acordo com o responsável pela Autoescola Júnior, que não quis se identificar, ficou inviável manter os valores após o último aumento da gasolina.
Por isso, efetuaram aumento de aproximadamente R$ 200 em todas as categorias. No caso da categoria B (carros de passeio), o valor à vista foi de R$ 1500 para R$ 1700, já para a categoria A (motos e triciclos), passou de R$ 1250 para R$ 1400.
O mesmo reajuste foi praticado pela Autoescola Caçula. Para motos, o valor da formação estava em média R$ 850 e passou para R$ 1 mil. Já para carros, foi de R$ 1200 para R$ 1400. Esses preços correspondem à parte da autoescola e não incluem as taxas do Detran ou outras empresas.
Outro estabelecimento ouvido pela reportagem, a Autoescola Padrão informou que ainda não aplicou reajustes, mas estuda os atuais gastos para, possivelmente, começar a fazer o aumento a partir da próxima semana.
Essa análise também tem sido realizada por um outro estabelecimento que não quis ser identificado. De acordo com a gerente do local, o reajuste deve ser feito. “A gente ainda não sabe quanto, mas não temos como assumir esse valor”.
Atualmente, os preços da autoescola para a categoria a vão de R$ 1420 a R$ 1540 e, para a categoria B, de R$ 1840 a R$ 2030.