Adereços, comidas e bebidas ajudam a girar a economia de Fortaleza na véspera de Carnaval

Empreendedores se surpreendem com vendas aquecidas no primeiro Carnaval após dois anos de festividades impactadas pela pandemia e esperam vendas até três vezes maiores nesta última semana

Após dois anos sob os efeitos da pandemia de Coronavírus, este será o primeiro Carnaval em que as pessoas se sentem bem menos inseguras em relação à doença para celebrar. Com isso, quem aproveita o período festivo para faturar com a venda de fantasias, adereços e comidas antes e durante os eventos vê na data uma ótima oportunidade para compensar os anos sem folia.

Para os que trabalham com a venda de adereços, muito procurados por quem frequenta os tradicionais bloquinhos privados e os de rua, a expectativa é quadruplicar as vendas nesta última semana antes do Carnaval. É o caso da Lamena Fantasy, que desde 2017 produz artesanalmente ombreiras, brincos e tiaras com flores e penas - sendo essas últimas as mais procuradas pelos clientes.

“As vendas já começam a partir do primeiro pré-Carnaval, que se inicia no primeiro final de semana de janeiro. Este ano nosso Carnaval será em fevereiro, então teremos menos dias para venda e, com isso, ficam bem concentradas nesses primeiros 15 dias do mês. Nós esperamos ter um crescimento de 300% nas vendas”, revela a proprietária e responsável pela produção das peças, Lauanda Mendonça.

Além dos pedidos diretos, o ateliê também abastece lojas colaborativas, unindo-se a uma gama de marcas e produtos que também veem na data uma oportunidade de ganhar mais. Outra opção para os empreendedores divulgarem seus produtos, capilarizando as vendas, são as feirinhas realizadas em praças, shoppings e eventos em geral.

É nessas feirinhas que os artesãos Maria Antônia Gomes e José Valdecy Ferreira, idealizadores da Maria José Artes Manuais, divulgam e vendem sua arte. A partir de um pedido da filha, em 2016, para produzir doleiras em que ela pudesse guardar seus pertences com segurança nos blocos em Olinda (PE), o casal mergulhou na economia do Carnaval. A doleira, batizada de “Discretinha”, é o principal produto vendido por eles, custa entre R$ 25 e R$ 28 e está disponível em 14 modelos.

“Em 2017, ampliamos a divulgação do produto e a nossa filha, que é publicitária e nos ajuda com o marketing, nomeou as doleiras da Maria José como “Discretinhas” que, apesar de terem como principal objetivo guardar pertences por baixo da roupa, são coloridas, bonitas e com ótima qualidade, ou seja, ironicamente nada discretas”, conta o casal.

Eles relatam que, “após praticamente dois anos sem vender nada”, agora o fluxo está ótimo e também esperam um impulso na procura com a reta final antes do Carnaval. “Já estamos notando as pessoas mais 'desesperadas' pelos produtos. Muita gente está atenta às notícias a respeito dos golpes e furtos praticados no ‘prés’ e no Carnaval, mas tem sempre o pessoal que deixa pra comprar de última hora, principalmente quem vai viajar”.

Turbinando as vendas

Usar a criatividade para incrementar os produtos é uma das orientações da articuladora da Unidade de Competitividade dos Negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas no Ceará (Sebrae/CE), Alice Mesquita. Assim, os empreendedores podem tirar o máximo de proveito do Carnaval.

“Essas festividades abrem várias chances para quem tem habilidades. Essa pessoa pode, inclusive, aproveitar o momento para montar uma carteira de clientes e ter uma carreira, um negócio mais perene”, detalha Alice.

Dicas para aproveitar as datas festivas e vender:

  1. Pesquisar as tendências;
  2. Buscar comprar os materiais com antecedência para, assim, conseguir se diferenciar no preço final ao consumidor;
  3. Conhecer bem a atividade;
  4. Identificar potenciais clientes;
  5. Calcular o investimento necessário;
  6. Tentar oferecer uma boa experiência ao consumidor (uma embalagem diferente, uma decoração especial, uma degustação);
  7. Usar bem as mídias sociais para divulgar o produto e para conhecer as necessidades dos potenciais clientes.

Fonte: Alice Mesquita

Para fazer o negócio dar certo no Carnaval e em outras datas, a exemplo da Páscoa - outra época importante para os empreendedores, sobretudo os que trabalham com doces -, Alice destaca que é importante sair na frente: realizar uma pesquisa inicial para averiguar se aquela atividade pode se transformar em algo perene, identificar potenciais clientes e pensar no investimento inicial.

"É importante ter antecedência, buscar saber quais tipos de produtos terão mais possibilidade de vendas e não deixar chegar o período festivo para fazer essa pesquisa, porque na Páscoa tudo vai estar mais caro. Se você consegue fazer uma boa compra de material, com preços melhores, com certeza seu preço de venda será mais atrativo”, ressalta a articuladora do Sebrae/CE.

‘Muita comemoração, mas com pouco consumo’

Apesar das expectativas positivas sustentadas no fim do represamento dos festejos de Carnaval, o que faz sentido, o economista Alex Araújo tem uma análise um pouco mais ponderada sobre a movimentação da economia em função do período. Isso porque o Carnaval de 2023 tem como pano de fundo um cenário de alto endividamento das famílias e desemprego em patamar também elevado.

Ele explica que o consumo no Carnaval tem alguns traços bem específicos: a venda de itens ligados ao vestuário, com fantasias e adereços em destaque e o consumo de alimentação e bebidas. “Diferentemente de outras datas, como o Natal, que movimenta uma diversidade de segmentos, o Carnaval é muito concentrado em alguns setores. Para este ano, há uma expectativa muito grande do setor de bebidas, porque a Copa do Mundo trouxe algumas frustrações, sem o consumo que era esperado”.

“A movimentação que temos visto no setor de vestuário em geral é mais discreta, sendo o consumo em torno do Carnaval mais concentrado no consumo no próprio ambiente. Isso é importante, porque muitos vendedores são ambulantes, porém retira muito do efeito que a data poderia trazer em termos de espalhamento da economia”
Alex Araújo
Economista

Ele reforça que esse consumo mais tímido em segmentos fora do eixo de alimentação e bebidas está ligado ao contexto econômico que se faz presente desde o fim do ano passado.

“As famílias chegaram ao início do ano muito endividadas, tanto que muita gente está evitando viajar. O mercado de trabalho também não anda muito bem; apesar de termos criado muitos postos em 2021, muitos são informais, o que não deixa sobra significativa para consumo nessas datas, então o que devemos ver é muita comemoração, mas com pouco consumo”, pontua o economista.

O consumo de alimentos e bebidas nos polos é o que faz a festa no orçamento de Juliana Vieira. Ela trabalha com a venda de espetinhos há 15 anos e, neste Carnaval, estará durante todo o ciclo (incluindo o Pré-Carnaval) no Polo da Mocinha.

“Eu não tinha uma expectativa tão boa de venda por causa da pandemia e porque tem muita gente desempregada, mas nos pré-Carnavais as minhas expectativas foram superadas, vendi três vezes mais o que eu esperava”, diz a empreendedora, contemplada com o Programa Meu Carrinho Empreendedora, da Prefeitura de Fortaleza.

Com as expectativas sendo superadas, Juliana viu a necessidade de montar uma equipe para ajudá-la na preparação dos alimentos que levará para vender no Polo da Mocinha durante o Carnaval. "Montei uma equipe de 10 pessoas para me ajudar a dar conta do Pré-Carnaval e do Carnaval", diz.

Juliana está entre os 601 vendedores ambulantes que receberam autorização da Prefeitura para trabalhar no Ciclo Carnavalesco 2023. De acordo com a Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger), há previsão de entrega de mais 35 autorizações para vendedores que trabalharão especificamente no Carnaval da Avenida Domingos Olímpio.

601
é o número de vendedores ambulantes autorizados pela Prefeitura de Fortaleza para atuação no Ciclo Carnavalesco de 2023

A Prefeitura reforçou que não será permitida a comercialização de produtos por vendedores não cadastrados e identificados. “E, para garantir a segurança de vendedores e foliões, não é permitida a venda de bebidas em garrafas de vidro e de produtos que utilizem óleo ou qualquer substância inflamável”, informou, em nota à reportagem.