As aulas presenciais em universidades públicas e privadas estão autorizadas por decreto estadual desde o dia 28 de junho deste ano, mas na prática as unidades de ensino no Ceará ainda estão em processo de transição para o retorno às salas de aula. O desafio para as comunidades acadêmicas está em recuperar o calendário prejudicado pela pandemia e dar continuidade à formação integralmente no modelo presencial.
Para isso, as instituições avaliam o cenário epidemiológico e o avanço da vacinação entre estudantes. O próximo semestre deve ser de retomada gradual dos encontros entre professores e alunos nas instituições, mas com revezamento nas turmas. Os conteúdos em modelo remoto devem ser ofertados para os estudantes com comorbidades.
PREJUÍZOS NO APRENDIZADO
“A minha experiência inicial no ensino remoto foi complicada porque eu estava sem computador e sem qualquer aparelho para desenvolver meus trabalhos”, lembra a estudante de arquitetura e urbanismo na UFC Carolina Elayza, de 22 anos. Não ter com quem dividir dúvidas sobre as demandas e a falta de contato com a turma prejudica a saúde mental, como observa a estudante.
Com ajuda de auxílios financeiros da Universidade - somado ao dinheiro que a estudante poupava - foi possível comprar um notebook. “Tem sido complicado porque a gente fica sozinho, mas combinamos com colegas para fazer estudos juntos por videochamada para ter um contato”, acrescenta.
Eu acho que é um consenso que todos nós estamos ansiosos para voltar ao presencial, porque a gente tem uma noção melhor do tempo dedicado aos estudos e ver as pessoas ajuda muito. Mas eu tenho receio por causa da pandemia
Lara Alencar, de 21 anos, está perto de concluir a graduação de jornalismo pela UFCA sem aulas presenciais desde o início da pandemia. “De uns meses para cá eu venho sentindo muito a necessidade de estar perto de outras pessoas, agora isso tem me afetado mais, de não ter contato com meus colegas. Estou no último ano da faculdade”.
O processo de imunização dos estudantes dá maior confiança ao retorno presencial, como é possível observar na percepção de Carolina e Lara. Voltar ao convívio nas turmas é motivo de empolgação para ambas. “Eu não tive tanta dificuldade porque tenho computador, celular e internet boa, além de um lugar para estudar em casa, mas dentro dessa logística tudo ficou mais cansativo”, destaca Lara Alencar.
Como as instituições públicas de ensino se preparam para o retorno
UFC
Na Universidade Federal do Ceará (UFC) as atividades acontecem no modelo híbrido e o período letivo, referente ao segundo semestre de 2021, começou no dia 27 de setembro para os cursos de graduação e pós-graduação. O semestre 2021.2 é considerado como um período de transição do ensino remoto para o presencial, mas as salas de aulas devem ser a principal opção apenas em 2022.
A UFC avalia o cenário epidemiológico e o avanço da imunização na comunidade universitária para definir a data da retomada integral. “Há um documento-orientador, elaborado pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), que prevê uma retomada gradual e segura das aulas presenciais a partir deste semestre”, frisou a instituição por meio de nota.
Ao longo do semestre vigente, as unidades acadêmicas da UFC devem definir se as disciplinas teóricas, práticas ou teórico-práticas permanecem de forma remota, híbrida ou retornam ao presencial. “Caso seja adotada a oferta presencial de uma disciplina ou de parte de sua carga horária, deve-se oferecer também atendimento remoto aos estudantes pertencentes ao grupo de risco para a Covid-19 ou que testem positivo para a doença”, acrescentou a UFC em nota.
UECE
Já a Universidade Estadual do Ceará (Uece) começou o período referente ao primeiro semestre deste ano no dia 20 de setembro, com previsão de encerramento para o dia 27 de janeiro de 2022, no modelo remoto. Os universitários permanecem em casa após decisão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), aprovada em julho.
Questionada sobre o número de estudantes matriculados nos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade, a Uece não repassou o quantitativo até a publicação desta reportagem.
O Conselho da Uece também deve analisar a possibilidade de retorno para o ensino integralmente presencial para o próximo semestre. Os servidores da Uece trabalham na modalidade presencial, conforme portaria divulgada no dia 30 de setembro, que também exige o certificado de vacinação para o desempenho das atividades.
UFCA
Na Universidade Federal do Cariri (UFCA), o atual semestre é referente ao período de 2021.1 - planejado para ser cumprido remotamente na maior parte dos cursos. “No caso dos componentes curriculares cujo cumprimento remoto seja inviável, entretanto, já é permitida a presencialidade, em consonância com normativos municipais e estaduais”, como informou a instituição por nota.
As atividades presenciais acontecem para os cursos de Medicina, de Música e das Engenharias ofertadas pela UFCA.
O Conselho Universitário da UFCA deve decidir sobre o retorno presencial amplo das atividades acadêmicas em reunião, mas a retomada não será planejada para esse ano. Para recuperar o cronograma de aulas, dois semestres foram concluídos neste ano e dado início ao período de 2021.1, que deve encerrar no dia 8 de janeiro de 2022.
URCA
Já na Universidade Regional do Cariri (Urca) o ensino está acontecendo de forma remota, após decisão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da Urca, durante esse semestre. “Algumas aulas laboratoriais e estágios acontecem de forma híbrida, seguindo os protocolos sanitários de prevenção à Covid-19”, explicou a instituição por meio de nota. A instituição deve retomar as atividades presenciais apenas no semestre que inicia em 2022.
IFCE
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) permanece no modelo remoto desde de julho de 2020, com calendários acadêmicos diferentes para cada campus da instituição - com algumas unidades no semestre 2021.1 e outras no 2021.2. A discussão para elaborar um plano de retomada gradual das atividades presenciais começou no dia 28 de setembro.
“O plano está aberto para colaborações e sugestões da comunidade acadêmica até esta terça (5), no portal da Instituição. Posteriormente, o documento será apreciado pelo Conselho Superior do Instituto (Consup), que se reunirá no próximo dia 11”, detalhou o IFCE por meio de nota.
As comissões de saúde de cada unidade do IFCE devem avaliar as condições para a retomada das atividades presenciais. “Não temos como precisar datas, pois isso ainda será avaliado pelo Conselho Superior, como informado. E esse retorno das atividades presenciais deve acontecer de forma progressiva”, frisou a instituição.
UNILAB
As aulas na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) devem começar no modelo híbrido no próximo semestre, referente a 2021.2, por volta do dia 12 de janeiro. “Nós vamos trabalhar o retorno para começar gradativamente considerando os protocolos de segurança de forma híbrida, porque envolve transporte e temos vários alunos da cidades adjacentes”, explica o reitor da instituição, Roque Albuquerque.
O modelo integralmente presencial é planejado para o mês de abril, quando a Unilab deve dar início ao semestre de 2022.1. A instituição já avança quanto ao retorno dos servidores no atual momento de forma escalonada, mas com previsão para o modelo presencial em janeiro de 2022, com exceção dos profissionais com comorbidades.
“Eu percebo que há um grande anseio dos alunos para o retorno presencial, estamos há dois anos afastados, muitos professores estão fora da rotina. Essas pessoas vão precisar de uma segunda adaptação dos trabalhos”, analisa o gestor.
ESTUDANTES IMPACTADOS
UFC: modelo híbrido
Atualmente, 25.185 estudantes estão matriculados em cursos de graduação presencial e 985 em cursos de graduação semipresencial do Instituto UFC Virtual. Na pós-graduação, o número de alunos ativos é de 2.970 no doutorado, 3.652 no mestrado e 433 nos cursos de especialização.
Uece: modelo remoto
São 16.789 alunos matriculados no semestre letivo 2021.1 nos cursos de graduação da Uece, no entanto, está vigente durante este mês de outubro, a chamada para os candidatos que optaram pelo ingresso por meio da nota do Enem. Nos cursos de especialização, são 1.480 alunos e 2.200 alunos nos cursos de mestrado e de doutorado.
Urca: modelo híbrido
Tem mais de 12 mil alunos na área de graduação e pós-graduação.
UFCA: modelo híbrido
Em 27 de setembro de 2021, quando teve início o período 2021.1, a UFCA contava com 2.743 estudantes matriculados em cursos de graduação. Os discentes do curso de Medicina, no entanto, ainda estão no período 2020.2. Ao todo, são 448 estudantes no curso.
Quanto à pós-graduação, o período vigente na UFCA é o de 2021.2. Atualmente, há 160 alunos matriculados em cursos stricto sensu e 16 alunos, em cursos de especialização lato sensu. Ao todo, 176 alunos de pós-graduação.
IFCE: modelo remoto
São quase 18 mil matrículas ativas, considerando os semestres 2021.1 e 2021.2, referentes às graduações (licenciaturas, bacharelados e tecnologias) e pós-graduações.
Unilab: modelo remoto
São cerca de 5.200 estudantes matrículados.