Uso de remédios fortes, tempo de internação e processos inflamatórios gerados pela Covid-19 estão sendo estudados por médicos cearenses para entender os danos oftalmológicos que a doença pode acarretar nos pacientes. Casos de glaucoma agudo, irritação na córnea e inflamações chamadas de uveítes estão sendo analisados.
De acordo com o oftalmologista coordenador da pesquisa, Alexis Galeno, não é possível saber ao certo se o coronavírus é responsável pelas sequelas observadas.
Outros fatores relacionados à internação dos pacientes graves estão sendo verificados. A pesquisa deve ser uma revisão de casos já publicados anteriormente, bem como a observação de pacientes atendidos pelos médicos envolvidos.
Pacientes que ficam muito graves em UTI também são submetidos a várias medicações sedativas, vasopressoras, medicações que interferem em toda a dinâmica do corpo. E no olho não é diferente”
Sequelas entre internados
Apesar de já ter atendido um caso de uma pessoa que teve um quadro leve de Covid-19, mas que mesmo assim passou por processos inflamatórios que aumentaram a pressão do olho, o médico, que atende no Hospital Leiria de Andrade, em Fortaleza, diz que a maior parte das pessoas com sequelas oftalmológicas são aquelas que estiveram internadas.
Ele explica que quando as pessoas são sedadas, elas não conseguem fazer a oclusão palpebral como deveriam. Isso quer dizer que, ao não ter controle do movimento de abrir e fechar as pálpebras, a hidratação do olho do paciente pode ficar comprometida.
“Esse ressecamento gera, principalmente na córnea, uma irritação muito grande e até pode causar uma cicatriz que pode gerar uma sequela pro resto da vida”.
Os medicamentos utilizados no tratamento de pessoas com casos graves de Covid-19 também podem causar algumas sequelas. Galeno destaca o uso de corticoides, que podem aumentar a pressão do olho.
Até mesmo a pronação - técnica de deixar o paciente deitado com a barriga para baixo para ajudar na respiração - pode influenciar na pressão do olho. “Ela pode desencadear, em pacientes predispostos, uma crise de glaucoma agudo”, afirma o médico.
Problemas na retina são observados em pacientes com Covid-19
Um estudo feito em São Paulo e publicado na revista Ocular Immunology and Inflammation Journal afirma que cerca de 20% dos pacientes com casos moderados ou graves de Covid-19 tiveram lesões na retina e 3% deles tiveram danos permanentes na visão. A pesquisa foi feita com análise de 104 pacientes internados em UTIs e enfermarias.
De acordo com a coautora do estudo, a oftalmologista Paula Marinho, os pesquisadores ainda tentam encontrar uma explicação para como o coronavírus afeta os olhos. “As análises de resultados não terminaram. Sabemos que existe um fator vascular importante, assim como em outras alterações associadas a Covid”, disse em entrevista ao Diário do Nordeste.
Sequelas oftalmológicas devem ser levadas a sério
Paula defende que os pacientes que tiverem Covid-19 devem procurar atendimento oftalmológico depois da doença. “Apesar de na maioria dos casos as lesões serem reversíveis e não deixar sequelas, o acompanhamento é importante até para segurança do paciente”.
“Nessa segunda onda, tem uma incidência maior de pacientes jovens intubados e fazendo reações inflamatórias mais fortes. Uma sequela de dano visual num paciente jovem é muito mais danoso para a sociedade, porque a gente tá lidando com pessoas que tem uma função muito mais ativa na sociedade. Causa uma repercussão socioeconômica muito grande”, alerta Alexis.