Um curativo com atividade antimicrobiana que restaura o tecido da pele com mais rapidez e menos custos. É esse o conceito básico do GrafDerm, um curativo de pele à base de biocelulose e nanopartículas de grafeno modificado que vem sendo desenvolvido, desde o fim do ano passado, por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Ao mesmo tempo em que atua no controle das condições fisiológicas para a restauração do tecido epitelial, o GrafDerm apresenta propriedades antimicrobianas. O que acaba por diminuir o tempo do tratamento e elevar as vantagens do novo produto ante os curativos tradicionais, aponta o professor do Departamento de Engenharia Química da UFC e coordenador do Projeto, Rodrigo Silveira.
“A matriz do curativo [GrafDerm] é de biocelulose, um material biodegradável obtido de forma sustentável, através da fermentação de uma bactéria com alta pureza e sem toxicidade. Todas essas propriedades em conjunto conferem ao GrafDerm uma redução do tempo de tratamento e no número de trocas, e, portanto, menor custo associado ao tratamento por paciente”, diz.
Além de absorver o excesso de fluidos provenientes da lesão, o curativo consegue manter a umidade adequada no leito da ferida, auxiliando na proliferação das células epiteliais. Por ser flexível, também se adapta facilmente à superfície da lesão, mas mantendo uma baixa aderência, o que evita dano ao tecido reparado durante as trocas de curativo. Consequentemente, promove menos dor e mais conforto ao paciente.
De acordo com a doutora em Engenharia Química e pesquisadora do Projeto, Erika Luz, o novo curativo poderá ser produzido em diversos tamanhos, se adequando ao tratamento de feridas em diferentes gravidades.
“O GrafDerm será destinado ao tratamento de feridas com moderada a intensa exsudação [fluido], com ou sem infecção; queimaduras de profundidade parcial, de segundo grau; lesões cutâneas com perda de pele; e áreas doadoras de enxerto”.
Composição
O curativo bioativo, desenvolvido pela UFC em parceria com a startup BIOMTEC, tem como principal componente o grafeno. O material, bem como seus derivados, apresenta “propriedades fundamentais” para aplicações na área biomédica, frisa o professor do Departamento de Física e Coordenador da Central Analítica, Antonio Gomes de Souza Filho.
“O grafeno está amplamente difundido como um material utilizado como reforço das propriedades mecânicas na produção de compósitos, revestimentos, [no setor] automotivo, construção civil, entre outros”, esclarece Rodrigo Silveira.
Já a membrana de biocelulose, utilizada como matriz carreadora do GrafDerm, possui alta porosidade, pureza, hidrofilicidade e uma alta capacidade de transmissão de gases. “Todas essas características a tornam um material ideal para produção de um curativo”, soma Souza Filho.
Silveira lembra que já existem no mercado brasileiro curativos à base de biocelulose, também conhecida como celulose bacteriana. Porém, esses produtos têm um caráter passivo, atuando somente como uma cobertura ao ferimento.
"O GrafDerm é um curativo à base de biocelulose que atuará ativamente sobre a ferida, impedindo ou combatendo infecções, e também estimulará o processo de cicatrização. A incorporação de óxido de grafeno e de suas propriedades associadas a um curativo também é uma novidade", garante o pesquisador.
Segunda fase de desenvolvimento
O curativo GrafDerm está entre os 10 projetos aprovados para a fase 2 da chamada pública Empreendimentos e Soluções de Base Tecnológica na Área de Grafeno. A chamada foi realizada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), por meio da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação (SEMPI).
Na prática, isso significa que o produto poderá ser aperfeiçoado para virar produto a ser fabricado e utilizado em larga escala. A equipe de pesquisadores, inclusive, já vem prospectando potenciais empresas e investidores interessados no desenvolvimento, escalonamento e comercialização do curativo.
Enquanto a aprovação na primeira fase da chamada possibilitou o desenvolvimento do protótipo do GrafDerm, “a aprovação nesta segunda fase possibilitará o aperfeiçoamento do nosso produto e seu avanço para os testes pré-clínicos”, diferencia Souza Filho, ressaltando que o avanço para nova fase revela ainda a capacidade científica e tecnológica instalada no Ceará na área de nanociência e nanotecnologia.
“Todas essas ações permitirão o desenvolvimento da equipe empreendedora da UFC e da startup BIOMTEC, contribuindo para avançarmos ao estudo clínico e alcançarmos o registro do GrafDerm na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para comercialização no mercado farmacêutico”.