“Nada paga as torturas”, diz Rosa da Fonseca

Ex- presa política, Rosa da Fonseca abdicou do direito de requerer ressarcimento de perdas

Se por um lado a anistia conseguiu libertar muitos presos políticos (não todos, num primeiro momento), foi exatamente injusta com os militares envolvidos com tortura e morte de opositores do regime. Esse fato coloca o Brasil na contramão da história, especialmente da América do Sul, tomada por ditaduras militares, mas que puniu os torturadores.

Essa é a avaliação da coordenadora da União das Mulheres Cearenses (UMC) e do Movimento Crítica Radical, Rosa da Fonseca. Para ela, a anistia chegou a ser decepcionante por não julgar e condenar aqueles que praticaram os atos mais cruéis contra a vida humana.

Rosa da Fonseca, que também foi presa política e vítima de torturas, abdicou do direito de encaminhar um requerimento para ressarcimento de perdas. Esse recurso estaria amparado pela Lei 13.202, de 2002, que criou a Comissão Especial de Anistia Wanda Sidou.

“Nada paga aqueles que foram torturados, humilhados e mortos nos porões da ditadura. A indenização proposta pelo governo termina como um pedido de desculpas, diante das atrocidades praticadas por torturadores impunes”, salienta Rosa da Fonseca.

Rosa reconhece as seqüelas deixadas pela ditadura militar, em que a repressão foi implacável com as militâncias de esquerda. Essas, sem opção, escolheram em muitos casos a luta armada como saída política

Não obstante as lembranças de sofrimento e a solidariedade aos que morreram no confronto com o regime, Rosa lembra que sempre teve muito claramente a consciência de que deveria permanecer lutando, caso viesse a sobreviver.

A coordenadora da UMC lamenta que o atual presidente da República mantenha o descompromisso de apresentar documentos, que revelem a verdadeira face da repressão. Essa sonegação de informações, conforme assinalou, foi uma marca no governo passado, do então presidente Fernando Henrique Cardoso, e continua agora na admininistração do presidente Luís Inácio Lula da Silva.

“O que observamos é um descompromisso do atual presidente com as esquerdas. É chegado o momento da sociedade brasileira recuperar a dignidade, especialmente envolvendo os desaparecidos na Guerrilha do Araguaia”, reclama Rosa da Fonseca.