Fortaleza contabiliza redução de 57,1% nas cinco principais infrações de trânsito durante os quatro primeiros meses deste ano. Isso porque, em comparação com igual período do ano passado, os registros de irregularidades caíram de 332.577 para 142.694. Em números absolutos, uma diferença de 189.883 multas no intervalo.
No ranking de mais praticadas, a líder é "transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20%", com 70.835 aplicações. Conforme estabelecido no artigo 281 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), é considerada de gravidade média e acarreta multa de R$ 130,16, além de quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Segundo o superintendente da AMC, Arcelino Lima, o excesso de velocidade preocupa porque é um dos fatores de risco que mais provoca mortes no trânsito. Ele explica que a infração continuou liderando neste ano por causa do menor tráfego de veículos na Capital. Nesse cenário, o condutor "acha que tem maior liberdade para exceder os limites, o que continua sendo errado porque coloca em risco os demais que estão usando as vias", reforça.
Por outro lado, existe a possibilidade dessas infrações terem sido cometidas por veículos de emergência que transportam pacientes com necessidades de atendimentos hospitalares. Nesses casos, a irregularidade é detectada, mas a infração não existe por se tratar de uma ambulância. Os carros de resgate serão retirados do sistema a partir de uma análise refinada.
"A gente deve ter esses resultados até o fim deste mês. Devido à Covid-19, esses veículos aumentaram a circulação na cidade. Estão autorizados a trafegar no limite superior da velocidade, atravessar semáforo vermelho desde que estejam com o giroflex acionado".
Na sequência das infrações cometidas na Capital, há duas irregularidades de cunho gravíssimo, ou seja, ambas com pontuação máxima na CNH (7) e cobrança de R$ 293,47. A primeira é "avançar o sinal vermelho do semáforo", com 23.427, acompanhada por "transitar na faixa ou via exclusiva para transporte público": 20.236.
A lista é completada pelas punições médias de "estacionar em local ou horário proibidos" e "parar sobre faixa de pedestres". O acréscimo no tipo de sanção é a possível remoção do veículo por parte do órgão fiscalizador.
Assim, os índices se configuram reflexos da menor taxa de carros nas vias. O primeiro decreto estadual, restritivo para funcionamento de comércio e demais estabelecimentos, ocorreu em 20 de março com autorização para abertura apenas de serviços essenciais.
Até 31 de maio, após 76 dias, a configuração de flexibilização das cadeias produtivas se manteve - o plano de retomada da economia, com fase de transição, entrou em vigência em 1º de junho. Através de nota, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran/CE) informou que a ampliação da sinalização tem efeito direto na redução de acidentes.
"Em 2019, o Detran/CE sinalizou mais de 2.000 km de rodovias estaduais e isso inclui sinalização horizontal, vertical e também a instalação de equipamentos de fiscalização eletrônica. Um dos exemplos disso foram os equipamentos instalados na CE-060, rodovia que liga Fortaleza à Região Metropolitana, em Maracanaú", sinaliza em trecho.
Menos riscos
Como vertente paralela à incidência de tráfego, a taxa de acidentes em Fortaleza também apresentou redução, principalmente nas datas perpassadas pelos casos do novo coronavírus. Um levantamento da AMC, contemplando a faixa de 20 de março a 31 de maio, apresentou queda de 71% em comparação com 2019.
São 2.585 incidentes a menos, sendo 926 com mortes. O quesito morte entra no cálculo com diminuição de 18,9% em números absolutos. O total de ocorrências foi 1.057 contra 3.643.
Mesmo com oscilação do isolamento social na Capital, segundo dados da empresa de tecnologia In Loco, o intervalo contemplou as principais altas de reclusão do município. Em 22 de março, por exemplo, o obtido foi 63% - maior desde início da contagem.
O impacto é mensurado também pelos profissionais de rotina contínua ao longo da pandemia. Atuando como funcionário de uma gráfica no Bairro de Fátima, Higor Almeida ressaltou a facilidade para chegar ao trabalho de carro no inicio do decreto, com barreiras sanitárias impostas na cidade.
"Eu mesmo tinha receio de ir trabalhar, mas como era algo necessário, mantive isso ao longo da pandemia, sempre com os cuidados e máscara. Senti que era mais fácil se deslocar pela BR-116 porque não tinha tanta loja funcionando no começo, evitava os grandes engarrafamentos", explicou. Para o Detran/CE, no entanto, o cenário de maior liberdade se configura como ativador da infração para uma parte dos motoristas. O órgão estuda o comportamento desses agentes sem trânsito. "Com menor fluxo de veículos e menos congestionamentos, quem está dirigindo nessa circunstância, pode cometer mais infrações como exceder os limites de velocidade das vias, avançar os sinais vermelhos, realizar retornos proibidos e parar sobre a faixa de pedestre, por exemplo. Também tem sido comum encontrar motoristas desatentos ou mesmo apressados", afirma em nota.
Como são exceções, os casos não mudam o curso da curva de acidentes em rodovias estaduais. Pelo 5º mês consecutivo, manteve declive de ocorrências - apenas em maio, redução de 70%, sendo 62% nos incidentes com feridos.
Na contramão
As primeiras atribuições da quarentena mostraram efeito reverso no somatório dos demais municípios cearenses, apesar da queda de infrações em Fortaleza. Nos registros em vias estaduais, os números cresceram entre 20 de março e 30 de abril. A ascensão foi de 1.662 novas ocorrências, alcançando 64.246. Aumento de 2,6% se comparado com igual período do ano passado, quando registrou 62.584 infrações.
Nas rodovias, as infrações mais cometidas são transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20%; transitar em velocidade superior à máxima permitida em mais de 20% até 50%, avançar o sinal vermelho do semáforo; parar sobre faixa de pedestres na mudança de sinal luminoso e conduzir o veículo que não esteja devidamente licenciado.
Para o chefe do Departamento de Trânsito da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo, os dados são explicados pela ampliação da frota no Estado, superior a 3,1 milhões. "Se analisarmos os números, o crescimento de infrações é pequeno e pode ser justificado pela frota. No início da pandemia, antes de maio, os movimentos entre municípios, como transporte de carga e viagens para trabalho, continuavam acontecendo. A infração maior é excesso de velocidade porque, nos trechos com pista livre, isso é mais comum, muitas vezes pela potência do veículo e a ausência de outras carros que 'atrapalhassem' o fluxo".