O cardiologista cearense Remo Holanda, 39, está entre os 8 mil voluntários que participaram dos testes da CoronaVac, vacina contra o coronavírus, realizados pelo Instituto Butantan. O estudo foi conduzido em 11 centros de pesquisa do Brasil.
O médico foi convidado para participar dos testes por fazer parte do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, na cidade de São Paulo, onde reside. A primeira dose foi aplicada no dia 30 de setembro, e a segunda em 16 de outubro. “Primeiramente, eles selecionaram o hospital, que fez uma divulgação interna por e-mail para convidar as pessoas para serem voluntárias nesse estudo. Participaram muitos médicos, muitos enfermeiros, fisioterapeutas, pessoas de todas as áreas que trabalham no hospital e podem estar mais expostas a contrair infecção”, detalha Holanda.
O estudo prevê, contudo, que metade dos participantes receba duas doses da vacina, e a outra metade receba duas doses de placebo, uma substância com as mesmas características, mas sem os vírus e, portanto, sem efeito.
“Esse é um estudo que chamamos de randomizado, duplo-cego, ou seja, eu não sei se tomei a vacina ou o placebo, não dá pra saber. O estudo tem que ser feito assim, senão você não consegue uma resposta”, explica. Após as aplicações, o médico conta que não sentiu qualquer efeito colateral, exceto dor leve no local da injeção.
Segundo o cardiologista, os pesquisadores pediram que cada participante mantivesse um diário para registrar aferições de temperatura todos os dias, além de relatar quaisquer efeitos adversos. “Eles acompanharam muito de perto, pra ver se ninguém ia ter algum efeito colateral mais grave”, conta Holanda.
A expectativa é de que os resultados dos testes sejam divulgados ainda nessa semana. Caso a vacina tenha sua eficácia comprovada, os voluntários que receberam o placebo serão convocados para receber a vacina ativa.
Possíveis tratamentos
Nascido em Fortaleza, Remo Holanda se formou pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mas mudou-se para São Paulo para concluir o período de residência. Lá, também concluiu sua especialização e o doutorado. Ele passou dois anos nos Estados Unidos para fazer pós-doutorado, e retornou para a capital paulista há cerca de um ano.
Desde o início da pandemia, o médico também vem participando do desenvolvimento de estudos para potenciais tratamentos da Covid-19. Um deles avalia o uso de anticoagulantes, medicamentos que bloqueiam a trombose.
“No Albert Einstein, também fizemos uma parceria com a Pfizer para fazer um estudo com uma molécula que é capaz de reduzir a inflamação nos pulmões. Isso ainda está sendo testado, mas é uma esperança para o tratamento da doença”, afirma.
Já em parceria com a instituição americana George Clinical e a AstraZeneca, está sendo testada a dapaglifozina, medicamento utilizado para tratar a diabetes e problemas cardíacos. “Estamos avaliando o efeito dele no coronavírus, e devemos ter os resultados em breve”, reforça Holanda.