Parcela importante dos grupos de risco para contaminação pelo novo coronavírus, pacientes idosos internados em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza por suspeita de Covid-19 aguardam por até oito dias pela liberação de leitos de UTI. Mesmo sem confirmação laboratorial da doença, casos já são tratados como suspeitos, segundo familiares.
A mãe do porteiro David Rodrigues aguarda um leito de UTI há exatos oito dias. Rosa Maria, 61, está recebendo assistência médica na UPA do Edson Queiroz, depois de apresentar sinais da Covid-19. A transferência para outra unidade que tenha o suporte mais complexo, contudo, não foi possível por falta de vagas.
“Segundo os médicos, hoje é o oitavo dia que eles pedem uma UTI e não tem disponível”, relata o filho. Além de ter sido entubada, a mulher vai precisar ainda de sessões de hemodiálise, o que para David aumenta a preocupação sobre o quadro de saúde da idosa.
Eu me sinto arrasado, jogado de lado, porque se minha mãe tivesse influência, num instante essa UTI estaria disponível. Dói muito”, lamenta David.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que as UPAs são equipadas com leitos de observação para estabilizar pacientes graves antes de serem encaminhados a unidades de referência, como o Instituto Doutor José Frota 2 (da Prefeitura de Fortaleza) e o Hospital Leonardo da Vinci (do Governo do Estado). “Os pacientes com perfil de UTI são regulados através da Central de Regulação de Leitos do Município para hospitais de alta complexidade”, complementa a Pasta.
Indefinição
A espera se repete na vida de Loides Mendes, vendedora autônoma, que admite “não saber mais o que fazer”. O desabafo é motivado pela indignação de quando se depara com a situação da mãe de 80 anos, dependente de UTI para sobreviver. “O certo era não deixar as pessoas à míngua”, opina.
Moradora do bairro Planalto Ayrton Senna, na periferia da cidade, Zilma Mendes de Araújo sentiu dor de cabeça e no corpo, além de febre, tosse seca e cansaço durante seis dias. Na noite do último domingo (26), foi levada à UPA do José Walter, onde recebeu diagnóstico de pneumonia – mas os médicos também investigam se ela tem Covid-19.
“Ela chegou no domingo, umas 21h30, e foi para um balão de oxigênio. Na segunda-feira pela manhã, já ligaram dizendo que ela foi entubada”, detalha Loides. Com a piora do quadro clínico, a mãe deverá ser transferida para UTI, que está sendo aguardada há cerca de 24 horas. “Se o paciente viver, tudo bem; senão, fica por isso mesmo. Eu não sei mais o que fazer. As autoridades deveriam tomar um providência como se fossem da família deles”, reivindica.
Desinformação
A professora Márcia Ferreira se queixa da espera por leito de UTI, mas também da dificuldade em obter retornos sobre o estado da mãe. Inicialmente, Maria do Socorro Ferreira, 80, recorreu à UPA do Jangurussu com “pouca respiração”, no sábado (25). A idosa não permaneceu na unidade e voltou para casa.
Contudo, no dia seguinte, a família optou por levá-la à UPA do Edson Queiroz, diante da piora dos sintomas. No equipamento de saúde, Maria do Socorro “passou 24 horas numa cadeira com o oxigênio”, denuncia a filha.
Ela foi posta numa sala de isolamento só de Covid-19. A médica me falou que se ela não estava, acabou de pegar (a doença)”, revela Márcia.
Da sala, a mãe da professora foi levada para um outro setor, ao qual a família não tem mais acesso. “Minha mãe está no isolamento da UPA esperando uma transferência para algum hospital, porque certamente ela está precisando de uma UTI, mas só vamos ter notícia dela às 16h, porque talvez o médico possa nos passar”, descreveu.