HGF lidera no País estudo internacional sobre terapia que diminui em 50% a chance de sequelas do AVC

O procedimento de trombectomia mecânica, realizado na pesquisa, é direcionado aos pacientes graves de acidentes vasculares cerebrais

O Hospital Geral de Fortaleza (HGF) lidera, no território brasileiro, um estudo internacional sobre os acidentes vasculares cerebrais (AVC) divulgado esta semana na revista científica The New England Journal of Medicine (NEJM). A terapia é direcionada a AVCs ocasionados pela oclusão da artéria basilar e tende a diminuir em 50% a chance de sequelas em pacientes.

O procedimento de trombectomia mecânica por cateterismo, realizado na pesquisa, é minimamente invasivo e oferece grandes vantagens. No entanto, não pode ser aplicado a todos. “Ele é mais recomendado a pacientes específicos, que têm AVCs mais graves e que são idosos, por exemplo, devendo ser executado por profissionais que já tenham vasta experiência na área”, explica o neurointervencionista do HGF Francisco José Mont’Alverne.

O médico relata ainda que os AVCs dessas artérias de circulação superior tendem a gerar índices de mortalidade altíssimos.“É uma terra que, via de regra, os pesquisadores não gostavam de visitar muito. Como a doença é muito grave, havia o temor de não conseguir obter benefícios dos pacientes oferecendo esse tratamento”, o que tem sido refutado.

Impacto social

Além disso, Mont’Alverne explica que a parte mais relevante do estudo é sair do papel científico e ter um impacto social na assistência da população, visto que “o AVC afeta todo o núcleo familiar, pois, se uma pessoa humilde - que vive com um salário mínimo, por exemplo - fica com sequelas após o acidente, a família vai ter que cuidar dela, muitas vezes, tendo que deixar o emprego ou os estudos”.

Isso motiva o nosso time, esse trabalho que nós fazemos é uma forma de assegurar a equidade social, e nós queremos oferecer esse tratamento 24h por dia em todos os dias da semana, buscando ampliá-lo para outras regiões”
Francisco José Mont’Alverne
Neurologista do HGF

A pesquisa, que iniciou há cinco anos, faz parte de um projeto maior que compreende outro estudo em paralelo, publicado no ano passado na NEJM. “A gente mostrou que esse tipo de procedimento funciona muito bem, na realidade do SUS, comparativamente aos países desenvolvidos. Em decorrência disso, a gente conseguiu, dentro do Ministério da Saúde, efetivar esse tratamento com uma portaria federal”.

Referência na área

O Hospital Geral de Fortaleza é considerado um centro de referência primordial na área, “porque temos um grande número de pacientes, uma grande qualidade de atendimento e, com isso, conseguimos fazer que o estudo avance mais rápido e dentro da qualidade do que é esperado”.

A unidade de AVC do HGF conta com amplo aparato tecnológico para diagnósticos e é composta por uma equipe multidisciplinar que engloba médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, técnicos de enfermagem e maqueiros.

Sobre o AVC

O neurologista Francisco José Mont’Alverne detalha que existem dois tipos de AVC: o hemorrágico, que sangra dentro ou no entorno do cérebro, e o isquêmico, que oclui uma artéria cerebral. “Neste caso, se você não abri-la ao longo do tempo, os neurônios do cérebro - que são perfundidos por essa artéria - vão progressivamente morrendo, ocasionando um infarto cerebral”.

“Atualmente, no Brasil, o AVC é a segunda causa de morte e a primeira causa de sequela. No Ceará, nós temos um caso de AVC a cada 20 minutos e, no mundo, um caso a cada cinco segundos. Uma a cada quatro pessoas vai ter AVC, então é um problema de relevância estadual, nacional e mundial”, esclarece o especialista.

Segundo o portal da transparência do Registro Civil, até esta quarta-feira (26), 1.715 pessoas haviam falecido em decorrência de AVCs no Estado em 2021. No ano passado, o número de óbitos chegou a 4.055. Os dados são colhidos a partir das Declarações de Óbito registradas em cartórios do país, sendo considerada apenas uma causa de morte para cada documento.

A prevenção é a melhor alternativa

Neste cenário, Mont’Alverne destaca que para evitar os acidentes vasculares cerebrais, em primeiro lugar, vem a prevenção dos fatores de risco. “Então as pessoas devem evitar e tratar a diabetes, a hipertensão, o colesterol alto, o sedentarismo, o sobrepeso, o tabagismo e o estresse, além de ter uma alimentação saudável”.

Além disso, em caso de suspeitas de AVC, deve-se buscar ajuda hospitalar imediatamente caso a pessoa apresente dificuldades de fala, perda de força e de direção nos braços ou a boca ligeiramente torta para um dos lados.