Grávida com feto morto na barriga: “não tem risco de infecção”, diz obstetra

Mulher orientada a voltar para casa após consulta perdeu o primeiro filho com oito meses de gestação. Ela foi levada por familiares para o Hospital Municipal Maracanaú

Uma mulher de 34 anos, que está com um feto de oito meses morto dentro da barriga, foi orientada a retornar para casa após procurar um hospital de Redenção, no Maciço de Baturité. Com dores, a grávida foi levada por familiares a Maracanaú, na noite desta segunda-feira (11), para buscar atendimento em outra unidade de saúde. A atitude do hospital revoltou a família, mas, segundo o protocolo médico para óbitos fetais, o ideal é esperar a expulsão espontânea do bebê.

A reportagem consultou um especialista de outra unidade hospitalar. O médico obstetra Zeus Peron, chefe da Emergência da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), explica que, quando o óbito ocorre intraútero, o que a mulher vai perceber é a diminuição da movimentação fetal. “Dependendo da causa do óbito, ela não vai sentir nada. Claro, alguns casos vão demandar ação rápida: se ela tem pressão alta, teve descolamento prematuro de placenta, começou a sangrar”, detalha.

Se não houver sangramento ou dor, o especialista garante que não há necessidade imediata de retirar o feto. “A mulher pode ficar monitorando se for perdendo líquido e sentir dor. Pode demorar até mais 30 dias para essa gravidez findar. Deu 30 dias e não aconteceu, a gente começa a fazer exames para saber como está a coagulação. O que pode acontecer é algum distúrbio em relação a isso”, diz.

Peron também ressalta que não há risco à vida da mulher. “A bolsa amniótica está íntegra, e não tem risco de infecção porque o feto está em um local asséptico. É como se a mulher continuasse grávida”, afirma. Além disso, salienta, é preciso que o médico que vai dar a notícia prepare bem a paciente. Suporte da família e suporte psicológico também são necessários, recomenda. 

Revolta da família

Segundo a cunhada de Maria Eronilce Romão da Silva, Márcia Pereira de Oliveira, a mulher descobriu que a criança não estava mais viva após exame de ultrassom na manhã de ontem (11), no Hospital e Maternidade Paulo Sarasate, em Redenção. “O rapaz do ultrassom falou e ela simplesmente veio para casa. O médico só mandou ela ir para casa, não passou nada, não deu encaminhamento, não falou nada para ela”, afirma.

A assessoria de comunicação do Hospital confirmou que Maria Eronilce esteve no hospital, foi atendida na emergência e solicitada que realizasse um exame de ultrassom. A análise realmente detectou que a criança, de 32 semanas, estava sem sinais vitais. Ela fez o exame e voltou para apresentar ao médico. “A orientação foi que ela voltasse para casa, esperasse uma semana e, caso não entrasse em trabalho de parto, voltasse ao hospital para ser induzido”, declarou. 

Maria Eronilce estava à espera do primeiro filho e realizou a última consulta de pré-natal em 31 de outubro quando, segundo a família, estava tudo normal. Ontem, diante da permanência das dores, ela recorreu aos parentes, que moram em Maracanaú. “Como é que ela ia ter a criança, o bebê morto ia sair como?”, questiona a cunhada.

Mulher aguarda procedimento

Em busca de ajuda, Márcia levou Eronilce ao Hospital Municipal de Maracanaú. No local, a gestante foi avaliada por um médico e passou por um exame que constatou a ausência de batimentos cardíacos do feto. Embora tenha sido atendida, a família reclama que, mesmo com o diagnóstico, a unidade só tem previsão de fazer o procedimento nesta terça (12), causando mais uma noite de sofrimento à mulher. 

“Ela vai ficar em observação, fazer um ultrassom e fazer a indução do parto para tirar o bebê. Ninguém sabe como está a situação da criança dentro da barriga dela”, disse Márcia Pereira. A Secretaria Municipal de Saúde de Maracanaú confirmou que a paciente foi internada hoje (12) pela manhã, já está com “todo o acompanhamento médico” necessário e aguarda a realização do procedimento de retirada do bebê.