Em cenário extremo, Sesa orienta como deve ser remoção de pacientes se faltar oxigênio em hospitais

O documento da Secretaria da Saúde é uma precaução, e indica como proceder se for necessário transferir massivamente pacientes internados em estado crítico no Ceará

Caso, em uma situação extrema na pandemia de Covid-19, venha a ocorrer no Ceará o desabastecimento de oxigênio em alguma unidade hospitalar, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) já estabeleceu um protocolo, no qual há orientações sobre como fazer a remoção em massa de pacientes internados em estado crítico ou dependentes de oxigenoterapia.

No Ceará, em março, com o crescimento do número de casos, cidades cearenses alertaram sobre o risco de desabastecimento de oxigênio medicinal nas unidades de saúde. O gargalo não é especificamente ao estoque do insumo.

Os problemas são por conta da distribuição pelas empresas contratadas pelas prefeituras e as limitações no processo de conversão do oxigênio líquido para gás.

No documento, a Sesa informa que diariamente são feitos censos da taxa de ocupação de hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) por equipes da Secretaria, e também o monitoramento do número de pontos de oxigênio das UPAs.

Nesse processo, compete à Central de Regulação de Leitos confirmar com as Superintendências Regionais de Saúde (SRS) a situação e autonomia de oxigênio em cada unidade.

Caso haja identificação de uma possível falta desse recurso, as instâncias devem atuar para resolver primeiramente a situação com novo abastecimento emergencial através dos convênios, contratos e serviços da própria Sesa.

Além disso, a orientação é para que as unidades de saúde que identificarem tanto um possível desabastecimento ou instabilidade de oxigênio devem fazer contato  imediato com a Central de Regulação de Leitos de cada região.

Ao acionar a Central de Regulação de Leitos, a unidade, além de indicar o responsável pelas informações com nome completo, cargo e telefone, deve informar:

  • O provável motivo da causa da insuficiência de O2;
  • A quantidade de pacientes em suporte de O2, detalhando se o paciente está em Ventilação Mecânica (VM), Máscara com Reservatório (MR) ou Cateter Nasal (CN);
  • O tempo estimado de autonomia de O2

Remoção em massa

No processo de remoção em massa, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) fará o transporte dos pacientes que deverão ser alocado prioritariamente para unidades mais próximas que disponham de ponto de oxigênio ou respiradores.

Na ausência dessas unidades, a orientação padrão é buscar a rede de atenção terciária. Os médicos reguladores, orienta o documento, devem realizar aviso prévio do ocorrido, informando a quantidade de pacientes alocados para os hospitais terciários.

O diretor técnico do Samu, Marco Arantes, afirma que o transporte envolve também da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer).

Em condições adversas e extremas, como o desabastecimento massivo de oxigênio, para organizar o salvamento com a maior possibilidade de sobrevivência, os profissionais da saúde devem utilizar critérios de remoção prioritária.

No protocolo são consideradas fatores como: a faixa etária, o quadro clínico e o suporte ventilatório utilizado pelo paciente.

Prioridades de remoção:

  • Prioridade 1 - Pacientes em uso de Oxigênio por Máscara com Reservatório, idade entre 18 (ou mais jovens) e 45 anos;
  • Prioridade 2 - Pacientes em Intubação Orotraqueal e com condições de transporte, idade entre 18 e 45 anos;
  • Prioridade 3 -Pacientes em uso de Oxigênio por Máscara com Reservatório idade entre 46 e 60 anos;
  • Prioridade 4 - Pacientes em Intubação Orotraqueal e com condições de transporte, idade entre 46 e 60 anos;
  • Prioridade 5 - Pacientes em uso de Oxigênio por Máscara com Reservatório idade entre 61 e 70 anos;
  • Prioridade 6 - Pacientes em Intubação Orotraqueal e com condições de transporte, idade entre 61 e 70 anos;
  • Prioridade 7 - Pacientes em Intubação Orotraqueal ou em uso de Oxigênio por Máscara com Reservatório com mais de 70 anos;
  • Sem indicação de remoção imediata - Pacientes instáveis e sem condições de transporte, pacientes em cuidados paliativos, pacientes sem uso de oxigênio e pacientes em uso de Oxigênio em cateter nasal.

Para realizar o transporte de pacientes é preciso:

  • Em condições adequadas de suprimento de oxigênio, observar parâmetros clínicos, hemodinâmicos e respiratórios antes da realização do transporte;
  • Em escassez de suprimento de oxigênio no estabelecimento de saúde, e sem previsão de resolução da situação, o transporte do paciente deve acontecer independente da condição clínica do mesmo, obedecendo os critérios de prioridade
  • Se o pacientes estiver sem condições de transporte, o médico assistente do estabelecimento solicitante, defina outro paciente com semelhante perfil para remoção
  • Se não houver na unidade outro paciente com perfil semelhante, a CRESUS deverá ser informada e assim proceder com a regulação da referida vaga;

O protocolo diz ainda que devido às grandes distâncias no interior do Estado, é sugerido o período de até 12 horas para a chegada de um paciente ao leito, após vaga confirmada.

Para pacientes da Região Metropolitana e Fortaleza, o tempo estimado para admissão do pacientes ao leito deve ser de até 6 horas.

O diretor técnico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do Ceará, Marco Arantes, afirma que, diante das circunstâncias críticas, o Governo do Estado, junto com a Sesa e o Samu, decidiram estabelecer um fluxo e um protocolo para garantir suporte, caso alguma unidade venha a perder a condição de atendimento dos pacientes por esgotamento de um recurso essencial à manutenção da vida.

No procedimento, quando acionado, o SAMU, explica ele, "em sua ampla capacidade de avaliação e intervenção imediata de cenas de catástrofe, desloca seus recursos, a frota para a unidade, onde é feito uma avaliação dos pacientes em conjunto com a equipe médica local".

Nesse momento, deve ocorrer uma triagem para a remoção prioritária. "Nós separamos as idades e o quadro clínico e o suporte de oxigênio, lembrando que isso é uma avaliação médica fechada em critérios médicos. Uma decisão respaldada por conselhos, por protocolos anteriores, por bibliografia, por instituições. Então, isso é algo extremo, e em grande parte, na maioria dos casos, todos os pacientes são removidos e atendidos", reforça.

Marco acrescenta que "muitas vezes quando você remove os pacientes com maior vazão de oxigênio ocorre a estabilidade do oxigênio na unidade, então, não se faz nem necessário você remover os outros pacientes porque a pressão do oxigênio já normaliza".