Antes mesmo da recomendação da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) para a suspensão de cirurgias eletivas (que podem ser marcadas) no Ceará, na última terça-feira (16), oito hospitais particulares de Fortaleza já haviam cancelado os procedimentos. A medida foi tomada desde o dia 11 de fevereiro, segundo o presidente da Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (Ahece), Aramicy Pinto.
A decisão é motivada pelo atual cenário epidemiológico da Covid-19 no Ceará, diante da alta de novos casos e de internações provocadas pela infecção respiratória. De acordo com a plataforma IntegraSUS, a ocupação de UTIs adultas está em 96,7% na rede particular, no Ceará, e em 97,3%, em Fortaleza, nesta quinta-feira (18).
“As cirurgias que estão sendo feitas são as de câncer e neurológicas de emergência, que não podem esperar, mas em um número bem menor. Temos hospitais que faziam 100 cirurgias por dia, agora estão fazendo 10. É uma redução drástica”, observa.
Além da suspensão das cirurgias, as oito unidades privadas devem abrir, somente nesta semana, mais 65 leitos exclusivos para o atendimento à doença. “Eles estão sendo adaptados para atendimento da Covid, principalmente enfermarias e apartamentos onde a afluência é maior. As pessoas entram, fazem o tratamento e recebem alta. Esses leitos vão girando”, explica o gestor.
De acordo com dados colhidos pela Ahece, a ocupação de leitos cresceu na última semana. No dia 11 de fevereiro, eram 98 pacientes internados em UTIs; ontem (17), o número saltou para 141, um incremento de 43,9%. Em enfermarias, também houve aumento de 128 para 217, no mesmo período, representando ampliação de 69,5%.
As unidades de saúde também buscam a contratação de mais profissionais para a linha de frente de combate à doença, sobretudo médicos infectologistas e intensivistas.
Ampliação do atendimento
Por conta do aumento da demanda, o Hospital da Unimed Fortaleza anunciou que vai reabrir um hospital de campanha com 45 leitos para o tratamento de casos de média complexidade, em até 15 dias.
No entanto, segundo Aramicy Pinto, esse tipo de estrutura não está no plano de outras unidades privadas. “Como temos leitos ociosos, eles serão transformados em leitos de Covid para sustentar a demanda. De campanha, não”, afirma.
Em nota, a Unimed Fortaleza informou que suspendeu a marcação de novas cirurgias eletivas desde o início de janeiro, e os procedimentos em si em 1º de fevereiro. Atualmente, são realizadas apenas cirurgias de urgência, oncológicas, cardíacas e neurocirurgias. “A medida, a princípio, está em vigor até o dia 1º de março, podendo ser postergada a depender da evolução dos números. Foram suspensas poucas cirurgias já agendadas”, declarou, sem informar quantas.
A rede também lembrou que os números de internados crescem desde outubro. No dia 1º daquele mês, o Hospital Unimed tinha 13 dos 16 leitos de UTI ocupados. Na última quarta (17), eram 77 ocupações nos 80 leitos ativos. Em enfermarias, eram 129 pacientes atendidos.
O Hospital OTOclínica Matriz também suspendeu a marcação de cirurgias eletivas até o dia 28 de fevereiro, mantendo apenas procedimentos de urgência e emergência. De acordo com a direção da unidade hospitalar, as medidas para manter os atendimentos à Covid-19 envolvem ainda a inauguração de mais 35 leitos, em caráter de urgência, até a última semana deste mês de fevereiro.
Adequações no sistema
Seguindo a recomendação da Sesa, o Hospital Gastroclínica suspendeu o agendamento e a realização de cirurgias eletivas ou adiáveis. Além disso, afirma que abriu 21 novos leitos na ala de enfermaria e nove leitos de UTI, em caráter de urgência, para atender pacientes com Covid-19. A unidade também suspendeu visitas, limitou o acesso ao hospital e adquiriu novos respiradores.
O Sistema Hapvida informou que, no Ceará, possui um total de 673 leitos; destes, 66,6% estavam ocupados nesta quinta-feira (18). “Por ter uma rede verticalizada, é possível ter o controle de toda a operação, ampliar leitos e fazer adequações sempre que necessário”, declarou, em nota.
Jorge Pinheiro, presidente do Sistema Hapvida, pondera que, na Capital, as internações voltaram a crescer desde 20 de janeiro e atingiram o maior número, desde então, em 14 de fevereiro. “Espero que esse dia tenha sido o pico da segunda onda em Fortaleza, mas não temos nenhuma garantia disso”, preocupa-se.