Cidade da Criança: ponto simbólico do Centro é alvo de abandono e crimes

O local, que recebe policiamento diário e aguarda reformas, abriga equipamentos degradados e coleciona denúncias de ações criminosas

A realidade no interior da Cidade da Criança, como é conhecido o antigo Parque da Liberdade, no Centro, parece se distanciar de um ambiente próprio para brincadeiras infantis e lazer entre famílias. O logradouro simbólico para o bairro abriga mais que danos estruturais: a sensação de insegurança que permeia o local se reafirma com denúncias de roubos e até violência sexual, como o caso registrado na última terça-feira (25). 

Apesar da presença de policiais militares e guardas municipais, pessoas evitam transitar dentro do parque, ainda que para cortar caminho. O medo impõe cautela, que nem sempre é suficiente. “Mês passado e esse mês arrombaram a minha banca, pelo teto. Levaram cigarro, isqueiro, chip de celular, tudo que que acharam bom”, relata Freitas Nunes, dono de uma banca de revista no entorno da Cidade da Criança. Ele trabalha no local há 44 anos, e lamenta o estado em que se encontra o local. “A gente vive nesse mar de insegurança. Os vigias tem medo também. Você não pode fazer nada”. 

Em nota, a Polícia Militar do Ceará informa que o policiamento no ‘Parque das Crianças’ é realizado por viaturas do 5º Batalhão Policial Militar, que fazem rondas e abordagens na região durante o período de 24 horas. “Conforme o comandante do batalhão, a área também conta com policiamento a pé, empregado em pontos estratégicos conforme a necessidade. Vale lembrar que policiais militares na modalidade a pé realizaram a prisão de um suspeito de cometer estupro de vulnerável, nessa terça-feira, 25, na região do Centro”, ressalta. 

As violações ao patrimônio, em especial, parecem se esgueirar por entre quaisquer brechas que surjam na atenção dada ao parque. Nas pequenas casas construídas dentro da Cidade da Criança, são visíveis os buracos formados nos telhados, evidenciando as telhas deslocadas para permitir o acesso ao interior das construções. Na parte interna, o descaso se perpetua através dos pedaços de gesso espalhados pelo chão, acumulados junto à poeira e à fiação solta.

Abandono

“As casinhas estão todas arrombadas, é abandonado. As pessoas entram e fazem o que querem. À noite, não tem policial aqui. A partir de 12h, não tem segurança”, conta o vendedor Manoel Simplício. A Guarda Municipal informa, porém, que conta com posto fixo no ‘Parque das Crianças’ e rondas pelos estabelecimentos durante 24 horas por dia, e afirma que “diversas abordagens e prisões já foram realizadas, evitando situações de violência”.

“Diante de casos com estes, a direção está tomando as devidas providências, reformulando a logística de atuação em toda a região do Centro, aumentando o efetivo de guardas armados e adquirindo novas motos para ampliar a vigilância”, destaca a Guarda Municipal.

Para a promotora Rosana de Sousa, o parque deixou de ser um local de descanso para ser um ponto de risco, a ser evitado. A ocorrência de abuso sexual, segundo ela, não foi novidade. “Lá é perigoso demais. Tem umas casas abandonadas, e não é a primeira vez que fazem isso por ali. A outra vez não ‘tá’ nem com 15 dias que aconteceu”, diz.  

No que diz respeito aos danos estruturais do logradouro, a Secretaria da Infraestrutura de Fortaleza (Seinf) informa que o projeto de revitalização da Cidade da Criança — assim como da Praça do Sagrado Coração de Jesus, também no Centro — já foi finalizado e, agora, será lançada a licitação para o início das obras. 

“A previsão é que deve acontecer ainda no segundo semestre deste ano. O projeto prevê uma obra completa de restauração dos espaços, preservando o bem patrimonial e o meio ambiente, além de garantir o resgate turístico e regional da área, oferecendo segurança e um ambiente adequado para o lazer e o comércio local”, diz a Pasta, em nota.