Com duas semanas da flexibilização do distanciamento social, iniciada no dia 1º de junho pelo Governo do Estado, o Ceará vem registrando diminuição em indicadores importantes sobre a pandemia do coronavírus. Números de novos casos e óbitos por dia, bem como a taxa de ocupação de leitos, apresentaram queda nos últimos 15 dias, de acordo com a plataforma IntegraSUS, alimentada pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). No entanto, especialistas ressaltam que a pandemia não foi superada e dada as diferentes dinâmicas de contaminação em cada município, ainda não se pode relaxar nas medidas de contenção da doença.
Nos estudos do Governo do Estado, o retorno às atividades econômicas está condicionado a quatro indicadores: ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), número de internações, número de óbitos e aspectos territoriais.
As UTIs do Ceará destinadas ao atendimento de Covid-19, que chegaram a ficar totalmente ocupadas, estão menos lotadas desde 1º de junho. Conforme o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Sobrinho, o Dr. Cabeto, a meta é ficar abaixo de 85%. Desde o último dia 7, o índice é menor que 80%.
Nos leitos de enfermaria convencionais, também houve mudanças. Se nos três primeiros dias de junho a taxa superava os 60%, desde o dia 5 ela oscila entre 51% e 53%. A meta da Secretaria para a ocupação desse tipo de equipamento é de 50%. Quando se analisam os óbitos dos últimos 15 dias, também se nota uma queda, ainda que num ritmo mais lento. O maior registro no período contabilizou 86 mortes em um dia. Porém, desde o dia 10 de junho, a diminuição foi acentuada e ficou abaixo da média do período, de 44 óbitos por dia. No intervalo de sexta (12) a domingo (14), foram registrados pela Pasta menos de 10 óbitos diários de Covid-19.
A contagem de novos casos pelas autoridades de saúde vem caindo desde o início do mês. Dos últimos nove dias, em oito o Ceará ficou abaixo da média de 285 casos por dia. Desde o dia 10, os registros apresentam diminuição consecutiva e, no sábado e no domingo, tiveram seus menores números no mês (30 e 10, respectivamente).
Variáveis
O biólogo, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Luciano Pamplona, explica que para nortear a flexibilização há indicadores relacionados à saúde que incluem além dos aspectos observados no Ceará, a taxa de transmissão, a quantidade de testes ou outros índices. Mas, enfatiza que há um certo consenso que as taxas consideradas pelo Governo do Estado "certamente são as três principais para garantir a flexibilização".
A baixa nos índices de contaminação, explica Luciano, tem reflexo direto nas demandas por internação. Isso porque, diz ele, "a ideia é que cerca de 5% dos casos necessitam de UTI", então, com menos casos, recua também o número de hospitalizações. "Quando tivemos muitos casos registrados, houve lotação e perdemos muitas pessoas para a Covid, mas provavelmente perdemos pessoas por falta de assistência adequada".
A médica, professora da área de Saúde Coletiva e coordenadora do Curso de Medicina da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Emille Cordeiro, esclarece que o momento ainda não é de comemoração. "Para dizer que estamos controlando o coronavírus, precisamos ter uma manutenção dessa queda durante 14 dias. Pela própria história natural do adoecimento e do agravamento dos sintomas, as pessoas precisam ter um acompanhamento por, no mínimo, 14 dias para estabilizar", destaca.
Ela afirma que o ideal é que o retorno a algumas atividades só deva ocorrer "quando estivermos em franca queda". A especialista confirma que os números estão decaindo, mas de forma desigual no Estado. "Ainda temos regiões em ascensão; essas, em especial, precisam manter o distanciamento social e as medidas sanitárias".
Interior
A Região Norte, onde quatro cidades vivenciam o isolamento social mais rígido (lockdown) por decreto do Governo do Estado, tem sido o novo foco de transmissões no Ceará. Conforme o IntegraSUS, nos últimos 15 dias, a taxa de incidência tem sido maior em municípios como Groaíras (267,3), Barroquinha (249,5), Cruz (206,9), Sobral (148,2) e Uruoca (147,9). Em Fortaleza, o índice está em 45,8.
"A primeira coisa a ser dita é que o governador do Estado prorrogou o decreto de isolamento social. Isso já dá um indício que começou a melhorar e não está resolvido. Temos pelo menos outros quatro municípios em lockdown. A flexibilização começou em Fortaleza e os moradores dessas outras cidades precisam entender como está a situação de cada município", alerta o epidemiologista Luciano Pamplona.
Além disso, destaca, "o início da flexibilização garante que você pode sair, mas não quer dizer que você deve sair". Caso precise ir às ruas, lembra o epidemiologista, o uso de máscara é obrigatório.
Tempo
A professora Emille Cordeiro esclarece que, depois de se espalhar pela Capital e Região Metropolitana, a interiorização da doença já era prevista pelos dados epidemiológicos. Para ela, a tomada de medidas não farmacológicas de enfrentamento à Covid-19 pelo Governo do Estado, junto a estratégias de gestões municipais, como barreiras sanitárias em estradas, deu fôlego para o interior se preparar.
"Ganhamos tempo nesse processo para organizar nossos serviços assistenciais, que envolvem tanto a Atenção Básica, para reconhecer mais cedo os pacientes com síndromes gripais e encaminhá-los a outros níveis de atenção, assim como a rede hospitalar teve um aumento de leitos clínicos e de UTI", diz a médica, que ainda não observa uma ocupação expressiva de leitos no Cariri para justificar o lockdown naquela região.
Ao todo, o Ceará terá cinco fases de retomada das atividades econômicas e comportamentais. Na Capital, a transição, considerada etapa de testes, durou de 1º a 7 de junho. Segundo a Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag), as fases seguintes devem ter duração de 14 dias, cada. "Esse é um plano coletivo, onde empresas e todo cidadão e cidadã cearense são responsáveis pelo sucesso, devendo cumprir obrigações sanitárias e fiscalizar o cumprimento correto do plano", ressalta a Pasta.