Até a última quarta-feira (6), os laboratórios cearenses realizaram 34.159 testes para detecção do novo coronavírus, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). O número coloca o Ceará em segundo lugar com maior realização de testes entre os 10 Estados com maior número de hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), na lista do Ministério da Saúde da última quinta (7). A SRAG pode ser causada tanto pela Covid-19 quanto por outros vírus, por isso a testagem se torna relevante para as autoridades sanitárias se aproximarem do número real de pessoas infectadas pela nova doença.
O Sistema Verdes Mares solicitou dados às Secretarias de Saúde dos dez Estados e, na contabilização enviada pelos órgãos, entram testes RT-PCR, considerados mais seguros para o diagnóstico, e testes rápidos. São Paulo tem tanto o maior número de internações (33.768) quanto de testes realizados (59.800). O Ceará, segundo na aplicação dos exames, era o sexto na lista de internações (3.240).
A Sesa considera que o um número de testagens é "expressivo" em comparação o outros Estados e reforça que a identificação dos infectados embasa "medidas mais restritivas de isolamento". Nesta sexta (8), entrou em vigor o bloqueio total de atividades não essenciais, o "lockdown", em Fortaleza. A decisão foi tomada diante do crescimento rápido de confirmações e óbitos na Capital e municípios da Região Metropolitana. A medida restritiva se estende até o dia 20 de maio. Segundo a plataforma IntegraSUS, atualizada ontem às 17h20, o Ceará tem 15.134 casos confirmados e 997 mortes, um aumento de 1246 e 94 registros, respectivamente, no intervalo de 24h.
A situação de alguns Estados em relação à tetagem chama atenção. Minas Gerais, por exemplo, aparece em 7º lugar na lista de realização dos testes (14.872), mas ocupa a segunda colocação em hospitalizações por SRAG. Segundo os dados do Ministério da Saúde, das 5.188 pessoas internadas, apenas 6,5% tinha recebido o diagnóstico positivo para Covid-19. No Ceará, essa taxa chegava a 23,7%.
Já o Paraná, terceiro na lista de hospitalizações do Ministério da Saúde, com 4.350 pessoas internadas, figurava na 10ª posição na realização de testes, com apenas 1.626 aplicações. Ou seja, embora tivesse 34% a mais de pacientes dependendo de assistência especializada, o Estado realizou 95% menos testes que o Ceará. Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul também possuíam mais internações e menos testes que o Ceará.
Impasse
Na prática, a divergência entre os números de hospitalização e as confirmações de Covid-19 pode ser indicativo da falta de testes ou da demora no diagnóstico. Especialistas defendem que as notificações são a principal ferramenta dos epidemiologistas para realizar previsões sobre a pandemia e medir seus reais impactos na saúde.
"É importante testar, mas testar as pessoas certas, da maneira certa, com os exames certos. Você tem que entender em que período da contaminação aquele paciente está para poder identificar qual é o teste indicado para ele e não correr o risco de ter resultado não confiável", explica Priscilla Franklim Martins, diretora executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
Para Priscilla, os exames possibilitam entender os traços epidemiológicos da doença. No entanto, a carência de insumos também impede uma testagem massiva da população. "No primeiro momento, teve o protocolo de testar a população hospitalizada e com sintomas graves. A razão disso é a questão dos insumos que são escassos. No segundo momento, tem o Ministério da Saúde recomendando o distanciamento social", lembra a diretora.
Circulação viral
Até a última atualização da Pasta Federal, do dia 20 de abril, haviam sido distribuídos 83.102 (44,5%) dos 186.700 testes rápidos previstos para o Ceará. Também foram enviados 13.928 testes RT-PCR ao Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen). A reportagem solicitou atualização dos números desde a última quarta (6), mas o Ministério informou que só possuía dados nacionais porque aguardava a atualização da tabela por parte da área técnica com dados por Estado.
O médico Carlos Eduardo Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), corrobora com a ideia da falta de insumos e ressalta que os Estados não estão subnotificando, mas subdiagnosticando a Covid-19. "O problema é que, não tendo o teste, não se pode ter caso confirmado. É importante ampliar essa testagem até para saber como o vírus está circulando. Em Fortaleza e Manaus, está circulando bastante", explica.
Segundo o patologista, o diagnóstico por biologia molecular (RT-PCR) ainda está restrito a poucos laboratórios no Brasil, cuja capacidade produtiva é limitada pela alta demanda. "Se colocarmos todos os privados e públicos, devem produzir de 12 mil a 15 mil testes por dia. Esse é um número pequeno pela dimensão do nosso País e da pandemia", pontua. O médico defende a importação de mais equipamentos e kits diagnósticos e a liberação de laudos em até 48 horas.
A Sesa informa que não há diferença nas técnicas de diagnóstico dos casos graves de Covid-19 e de outros vírus respiratórios nos pacientes com SRAG no Ceará. Ressalta que o protocolo é que todo paciente internado passe pela testagem etiológica, e que a incidência elevada de Covid-19 nas internações por SRAG "tem relação com a circulação viral" do novo vírus no Estado.
A Pasta estadual reforça que as prioridades dos diagnósticos abrange grupos específicos: profissionais de saúde, pacientes internados e casos de óbitos. "O tempo de entrega dos resultados é de 48 a 72 horas para as prioridades. Em média, para os demais, o resultado é em até sete dias", diz a Secretaria de Saúde.
Em coletiva virtual na última quinta (7), o secretário da Saúde do Ceará, Dr. Cabeto, divulgou que o sistema de aplicação de testes rápidos para Covid-19 por drive-thru está na fase final de planejamento. A proposta para Fortaleza, epicentro da transmissão no Estado, é realizar 100 mil testes ao longo de dois meses.