Barreiras sanitárias: aeroportos seguem vigiados; rodoviária da Capital, não

Nos principais aeroportos do Estado e nas duas maiores cidades do interior, a entrada de passageiros segue monitorada. Na maior rodoviária da Capital, por onde passam 2.500 pessoas por dia, ainda não há esse tipo de vigilância

Os aeroportos foram pontos estratégicos para transmissão e chegada do coronavírus a diversas partes do mundo. No atual momento, em que o Ceará vive o retorno das atividades econômicas, e equipamentos do tipo, bem como as rodoviárias, voltam a ter aumento da movimentação, seguir com o monitoramento de passageiros é uma necessidade estratégica para tentar conter a disseminação do vírus. No Estado, a situação de contágio nos municípios tem dinâmicas distintas.

Nos dois principais aeroportos do Estado - Fortaleza e Juazeiro do Norte - as barreiras sanitárias ocorrem desde março e continuam agora. Já nas rodoviárias, o monitoramento, com abordagem dos passageiros, ocorre nas duas maiores cidades do interior: Juazeiro do Norte e Sobral. Em Fortaleza, ainda não há barreiras sanitárias no maior terminal rodoviário, por onde passam, por dia, 2.500 pessoas. A Secretaria Estadual da Saúde diz estudar a implantação.

O Aeroporto Internacional de Fortaleza, segundo a Fraport Brasil, antes da pandemia, registrava uma média de 140 voos por dia. Neste mês, a projeção é que sejam operados 33 voos em média diariamente no equipamento, com destino a Brasília, Campinas, Congonhas, Guarulhos, Lisboa, Manaus, Recife e Rio de Janeiro. No local, desde o dia 22 de março, equipes da Vigilância Sanitária da Sesa realizam barreiras sanitárias para abordar os passageiros que desembarcam, seja de voos nacionais ou internacionais.

Conforme a técnica da Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, Jane Cris Cunha, entre março e o dia 9 de agosto, 143.207 pessoas de 885 voos foram atendidas na ação. "O procedimento é a pessoa desembarcar e aí é aferida a sua temperatura. Quando a temperatura está acima de 37.8 graus ou então ele tem algum sinal e sintoma de síndrome gripal, ele é chamado à parte. Então, é feito um atendimento individualizado. É preenchido uma ficha com dados. Se ele teve contato com alguém que teve Covid, se ele tem sinal ou sintoma e também pedimos informação sobre onde ele vai ficar". Para estas pessoas monitoradas também é requisitado o contato telefônico.

"Pede o telefone de contato e avisa que ele vai ficar em isolamento. Dependendo do grau, já indica para ele para o posto de saúde, a UPA ou um hospital. Esse passageiro é acompanhado. Esse dado é distribuído para vigilância epidemiológica do município a que ele está se dirigindo".

Monitoramento

A ação da Vigilância Sanitária Estadual também ocorre no Aeroporto de Juazeiro do Norte. No maior município do interior do Ceará, que já soma mais de 12 mil casos da doença e junto com outras cidades do Cariri, nos últimos meses, estava em alerta, o aeroporto têm atualmente 13 voos por semana. Conforme a empresa Aena Brasil, no período anterior à pandemia do novo coronavírus, o terminal chegou a receber sete voos por dia. Em Juazeiro do Norte, as equipes da vigilância sanitária abordaram 16.918 pessoas de 123 voos até o dia 31 de julho.

Do total de passageiros que passaram pelos dois aeroportos, 60 foram monitorados a partir pela vigilância sanitária, conta Jane Cris. "A gente sabe que a Covid entrou. Ela não exista aqui e foi trazida. Da mesma forma que agora nós estamos conseguindo manter um índice, que agora ela está tendendo para um controle, o que esperamos é evitar a criação de novos surtos porque eles é que geram um aumento no número de casos. Então, é muito importante mantermos o nosso status de controle da doença", reforça.

Questionada sobre a ação nas rodoviárias, Jane Cris explica que as iniciativas nesses locais, à princípio, ficariam a cargo das prefeituras. Mas ela garante que a vigilância sanitária do Estado "está fazendo um projeto para fazer o monitoramento desses passageiros na chegada na rodoviária, principalmente dos municípios que ainda estão em uma situação de transmissão elevada e de outros estados". No entanto, a ação está em fase de planejamento. Já a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que não faz a barreira sanitária no terminal rodoviário pois a ação não é de sua competência.

Em Fortaleza, no Terminal Rodoviário Engenheiro João Thomé, conforme a Socicam, a média é de 2.500 passageiros por dia atualmente. Antes da pandemia, esse número era de 6.000 pessoas. No total, em média, 92 ônibus deixam a rodoviária a cada 24h, sendo 72 deles para viagens intermunicipais e 20 para interestaduais. A Socicam garante que tem realizado o controle de passageiros na entrada com aferição de temperatura, tem exigido o uso da máscara e disponibilizado álcool em gel, além de ter instalado adesivos de distanciamento e instalado pias externas para lavagem das mãos.

Em Juazeiro do Norte, o coordenador municipal da fiscalização da Secretaria da Saúde, Goldemberg Barbosa, explica que além do aeroporto, as equipes da saúde também monitoram a rodoviária. Em todos os casos, a temperatura é aferida, e no caso de passageiros que vão permanecer em Juazeiro é aplicado um questionário rápido.

"Desde março estamos triando todas as pessoas que embarcam e desembarcam na rodoviária. A média de passageiros nunca passou de 30. Hoje, a Secretaria de Saúde está firmando com as empresas a corresponsabilidade. As empresas precisam fazer a triagem. Compete a elas enquanto empresa fazer o registro".

Em Sobral, onde o serviço de transporte intermunicipal foi retomado na semana passada, conforme a gestão municipal, o monitoramento na rodoviária da cidade é feito pela empresa de transporte - Guanabara. Conforme o poder público, no local os passageiros têm a temperatura aferida e caso haja a identificação de alguma anormalidade, a pessoa é encaminhada ao serviço de saúde. Caso seja morador de Sobral, é encaminhado ao posto de saúde mais próximo da própria residência. A ação realizada pela empresa, de acordo com a Prefeitura, é fiscalizada pelo município.

Necessidade

A médica e professora da área de saúde coletiva da Universidade Federal do Cariri (FAMED-UFCA), Emille Sampaio, ressalta que o Brasil é um País de dimensão continental onde a dinâmica de transmissão do novo vírus é diversa. "Como nós temos uma distribuição distinta da doença entre os municípios e esse padrão de transporte é também distinto, o controle de entrada e saída nos municípios é importante para termos uma dimensão se nessa entrada e saída as pessoas não estão levando o vírus. Um dos impactos disso é a possibilidade do chamado efeito bumerangue, que é em um local que a transmissão está baixa, começar a chegar pessoas de fora que estejam infectadas e voltar a ter o acréscimo de casos. Querendo ou não essa entrada do transporte rodoviário e aeroviário favorece essa possibilidade do efeito bumerangue".

A médica reforça que além do controle, as barreiras também servem de orientação, quanto à necessidade de isolamento de pessoas que têm algum sintoma ou sinal. Ela destaca que caso o passageiro apresente sintomas antes do embarque, o ideal é que ele não prossiga a viagem.

"Porque ele vai estar em um ambiente fechado, com outras pessoas, corre o risco de transmitir casos esteja com Covid. O ideal é que não se permita viagem de pessoas com sintomas".

O SVM solicitou informações à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) sobre a permanência de possíveis barreiras nas estradas. A Polícia Militar do Ceará informou que continua atuando junto com municípios e o Estado na fiscalização, mas não deu detalhes. Já a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que não faz esse tipo de trabalho.