Bairros adensados exigem cuidado sobre transmissão do coronavírus

Aglomerados urbanos preocupam pela grande concentração de habitantes na mesma área. Em casas com muitos moradores, especialistas recomendam atenção à higiene das mãos e à proximidade entre parentes

O contato humano tem sido repensado desde o início da transmissão do coronavírus. Se evitar o toque e a proximidade parece ser mais fácil quando se lida com desconhecidos, se torna mais complicado em meio aos próprios familiares. Dividir o mesmo teto pode ser fator de risco para a contaminação, especialmente em regiões com grande adensamento populacional.

Em Fortaleza, os bairros com maior concentração de pessoas se localizam na Regional I, na área da Barra do Ceará. A Capital possui a maior densidade demográfica da região Nordeste, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São 7.786,52 habitantes por quilômetro quadrado, acima dos 7.038 de Recife e quase o dobro da densidade demográfica de Salvador, com 3.859,35 habitantes por quilômetro quadrado.

Contudo, a plataforma Fortaleza em Mapas, alimentada pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), mostra que o Cristo Redentor é o bairro mais adensado da Capital. Por lá, o índice chega a 61 mil pessoas por km². Nos vizinhos Carlito Pamplona e Pirambu, alguns setores registram 59 mil e 54,8 mil habitantes por km², respectivamente. Na Barra do Ceará, são até 44,5 mil pessoas na mesma área.

Morador do Carlito Pamplona, o estudante de Educação Física Ítalo Aguiar convive com outras oito pessoas na "casa dividida em três". A presença de idosos na residência provocou uma série de cuidados na última semana. "A gente está realmente esterilizando tudo com álcool, mesmo com dificuldade para encontrar aqui perto. Também estamos evitando sair de casa; é mais para ir ao supermercado mesmo", conta, reforçando ainda a individualização do uso de utensílios como pratos, copos e talheres.

Para casa, a higienização das mãos é uma das principais formas de prevenção ao coronavírus, de acordo com o médico infectologista Anastácio Queiroz. Elas são os principais vetores do vírus, junto a gotículas de saliva e secreções de tosse e espirro. "Infelizmente, se o indivíduo infectado pega num copo, numa maçaneta, sem ter higienizado a mão, ele potencialmente contamina essas superfícies inanimadas. Por isso o controle da infecção é tão difícil", explica.

Proximidade

Conforme Anastácio, a proximidade é outro fator de transmissão. O alerta é que mesmo pessoas assintomáticas ou com poucos sintomas têm contaminado outras. "Se eu não estou tossindo, só vou contaminar pessoas muito próximas, a 20, 10 centímetros de mim. Mas, se as pessoas estão a mais de um metro, não espirro e nem pego na mão, não tenho essa possibilidade. Quem mais pode contribuir para a prevenção é quem está doente", diz.

Nove pessoas também integram o núcleo familiar do cabeleireiro Fábio Ferreira, que vive no na comunidade do Parque Santana, no bairro Mondubim - o mais populoso da Capital, segundo o Iplanfor, com mais de 75 mil habitantes. Fábio relata maior preocupação com as filhas, de cinco e 11 anos, e com os sogros, de 54 e 56 anos, já que estão próximos da faixa etária do grupo de risco.

"Estamos tomando todas as medidas de prevenção. Como todo mundo usa a mesma entrada, quando chega em casa, a gente procura lava as mãos ou tomar um banho. Como trabalho no salão, também procuro usar máscara", descreve. Ainda que contrarie as filhas, por causa das aulas suspensas, Fábio e a esposa não permitem a saída de casa para brincadeiras na rua. "O que a gente espera é que essa situação passe o mais rápido possível", projeta.

Em bairros menos adensados, os cuidados se repetem. Na Maraponga, onde vivem cerca de 10 mil pessoas, a assistente social Cândida Silvino também aumentou as medidas de prevenção em casa. "Eu já tinha costume de usar álcool em gel, mas agora intensifiquei. Comprei um vidro individual para cada um dos meus familiares, e a gente tem um vidro maior que utiliza em casa. Aumentamos a lavagem das mãos e estamos evitando locais muito aglomerados", descreve Cândida.

Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, o secretário estadual da Saúde, Dr. Cabeto, afirmou que a Pasta estuda o caso de pessoas que moram juntas em assentamentos precários, onde não é possível garantir o isolamento. "Por isso, esse esforço intenso de fazer autoisolamento. Pessoas de maior risco, principalmente, para que a gente reduza essa possibilidade e disponibilizar locais públicos para que possamos fazer o isolamento das pessoas mais frágeis", explica.

Cuidados
Antônio Lima, gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), explica que o risco de transmissão é maior de acordo com a densidade de pessoas por domicílio. Quadro agravado se o ambiente tiver pouca circulação de ar. “Ninguém pode se descuidar porque está em casa. O importante nesse momento de restrição, de isolamento social, é você proteger os mais vulneráveis”, afirma, ao citar os idosos. “Eles devem ser protegidos. Devem ter o menor contato possível com esses habitantes, que ainda saem de casa e realizam as suas atividades fora”. Já em relação às crianças, apesar da baixa letalidade da doença, elas podem fazer parte da cadeia de transmissão, levando o vírus aos idosos ou pessoas que façam parte do grupo de risco para a doença.

Médico e professor do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, Antônio Lima afirma que “a principal estratégia que a Prefeitura (de Fortaleza) tem para essas áreas é de aumentar a capacidade de respostas nas nossas UPAs, responsáveis por esse primeiro atendimento com coleta de exames e, sobretudo, expandir o número de leitos, para o caso de aumento rápido da doença”.